segunda-feira, 6 de outubro de 2008

ASPECTOS RELATIVOS AO QUOTIDIANO

DIA-A-DIA E POSTOS DE TRABALHO

Como conta a Sra. Elvira Neves, o dia-a-dia da população timorense é bastante semelhante ao da população portuguesa, os mais novos vão para a escola e os adultos rumam em direcção aos seus postos de trabalho que, no tempo da colonização, remetiam, essencialmente, para cargos na Administração Pública Portuguesa, para o comércio chinês, em que os timorenses eram, simples, empregados e para a agricultura caseira.

Actualmente, os postos de trabalho compreendem os cargos inerentes à hierarquia do Governo, à função pública e ao comércio, mas a grande maioria da população encontra-se desempregada, não tendo, portanto, meios de subsistência. Por outro lado, as rotinas diárias encontram-se interrompidas, devido aos conflitos armados que têm tido lugar e que levaram muita gente a abandonar as suas casas, dirigindo-se essencialmente, para Baucau e para as montanhas.

EDIFÍCIOS

Segundo conta a Sra. Elvira Neves, durante a Administração portuguesa os edifícios existentes compreendiam as habitações, o hospital, o liceu, a escola primária, a igreja, o Palácio das Repartições (que continha o palácio do governo e as restantes repartições), as associações dos clubes de futebol, Benfica, Sporting e Académica para as elites, e União, um clube de timorenses que pretendiam lutar pela libertação de Timor, os quais desencadearam a revolta de 1959.
Actualmente, os edifícios existentes são as habitações, as escolas, as igrejas, o edifício da UNTAET, os hotéis, as embaixadas, o hospital e a sede do governo.

MEIOS DE TRANSPORTE

O pequeno cavalo de Timor é o animal de transporte e de carga, por excelência, pois é o que melhor se adapta ao relevo acidentado da ilha.
No que se refere às deslocações diárias, os autóctones deslocam-se, essencialmente a pé, de bicicleta ou de mota. Já existem carros, mas a sua utilização ainda não está muito difundida.

AQUECIMENTO

Nas palavras da Sra. Elvira Neves os pobres aqueciam-se com lenha e os que tinham mais posses utilizavam o carvão. Todavia, em Timor a necessidade de aquecimento não é muito grande, devido ao clima tropical, em que a época fria é mais quente do que a Primavera em Portugal.

HIGIENE

Antigamente, para tomar banho, os nativos punham água numa selha e depois com a caneca é que tomavam banho, o chamado banho de gato, normalmente com água fria. A água também podia ser aquecida, nos lalean – fogareiro timorense formado por três pedras dispostas em triângulo. No meio põe-se a lenha e faz-se a fogueira, depois do fogo ateado põe-se a panela de ferro ou barro.
Lavavam-se com sabão azul e branco, de fabrico próprio e para pôr a roupa branca usavam cinza.
Actualmente, já existe água canalizada, mas nem todos têm acesso, pelo que utilizam o método acima referido.


TEMPOS LIVRES

A população timorense ocupa os seus tempos livres praticando pesca marinha (camarão e algas), à noite, e a contar histórias dos antepassados, ao luar, histórias maioritariamente verídicas.

EDUCAÇÃO

Segundo conta a Sra. Elvira Neves haviam escolas públicas e missões católicas espalhadas por todas as províncias de Timor-leste. As últimas tinham capacidade para mais alunos e funcionavam em regime de internato, só em Dili é que o regime era de externato.

“A maior parte dos timorenses foram instruídos por missões católicas, tanto os rapazes – colégios dos padres – como as raparigas – colégios das madres. Não eram mistos. A escola pública – uma escola primária e um liceu – só existia em Dili, mas era mista e havia muitos pais que não gostavam. As missões católicas tinham até ao 12º ano do liceu, mas só para quem estivesse vocacionado para a vida religiosa. Muitos estudantes chegavam ao fim do liceu e diziam que não queriam seguir a vida religiosa.
O ensino nas missões católicas era muito melhor do que na escola pública, mas o exame final de 4ª classe era feito na escola pública em Dili.”
“Só ia à escola quem vivia perto da escola, porque não havia meios de transporte.” Contudo, “todas as mães timorenses analfabetas nasceram com a noção de que só o estudo faz a pessoa avançar na vida. Há pais timorenses que chegam ao ponto de dar os filhos a outras pessoas, como criados, só para os filhos poderem estudar.” As crianças são baptizadas pelas famílias a quem são entregues e ajudam nas tarefas domésticas, tendo os padrinhos o compromisso de as inscrever na escola, pelo menos até à 4ª classe. “Depois os pais vão buscá-los outra vez.”
Hoje em dia, as missões católicas mantêm-se, mas a escola pública está mais difundida. A principal particularidade dos tempos que correm, em Timor-Leste, é o facto de todos os alunos terem de pagar propinas, independentemente, dos pais terem trabalho ou não, segundo conta a Sra. Rosa da Rosa. Os estudantes que pretendam seguir o ensino universitário emigram, normalmente para Portugal, Indonésia ou para a Austrália.


DOENÇAS

As principais doenças passíveis de contrair em Timor são a malária, por causa dos mosquitos e do clima e a elefantíase, devido às águas estagnadas.


GASTRONOMIA

A base da alimentação do povo timorense é o arroz branco, cozinhado, apenas, com sal e tendo, como acompanhamento modo fila (hortaliça frita/ virada).
Segundo informações da Sra. Elvira Neves, os pratos tradicionais são o tukir (cuja tradução é fazer no bambú) e o arroz katupa (arroz de coco cozido em saquinhos feitos de folhas de coqueiro). O tukir é preparado com cabrito, designadamente a parte das costelas e a espinha, tudo cortado aos pedacinhos. Tempera-se com sal, pimenta, alho, cebola, picante e tamarindo e deixa-se amarinar até ao outro dia. Antes de colocar a carne na panela, polvilha-se o fundo desta com erva-doce. Depois, coloca-se a carne e deixa-se cozer em lume brando, sem acrescentar água, no caso de se cozinhar em casa. Caso se esteja num piquenique, procura-se um bambú de largo diâmetro e coloca-se a carne lá dentro, sem tirar o que está no interior do bambu, pois é isso que vai permitir que a carne seja cozida dentro do bambu. Roda-se o bambú em cima de uma fogueira até este ficar negro, momento em que a refeição está pronta. Daí a designação de cozer no bambu – receita fornecida pela Sra. Cecília Agostinho.

Todos os outros pratos têm influências chinesas e indianas, como o chau mi, o caril, o sarabulho, o midar sin, o sasati, o van tan, o coi bandeira. Os pratos timorenses têm a especificidade de serem bastante condimentados.

INSTRUMENTOS DE DEFESA

A população timorense utiliza como armas de defesa a pedra, a fisga, a catana e, mais recentemente, devido aos constantes conflitos armados, armas automáticas. Todavia, a tradicional arma do timorense é a catana, que o acompanha para todo o lado, quer para fins de defesa pessoal, quer para fins laborais, pois “quando vai passear, ao passar por um sítio, pode surgir alguém que lhe encomende um trabalho e, então, a catana está sempre consigo. Se ele chegar a casa e encontrar a mulher com outro, corta a cabeça dela, porque ela é que o traiu.” (Sra. Elvira Neves)

A realização do presente trabalho revelou-se deveras importante, uma vez que permitiu a aquisição de conhecimentos sobre a cultura de origem das suas autoras, nomeadamente aspectos que ambas desconheciam.
Por outro lado, considera-se de extrema importância conhecer-se os antepassados e a evolução de que o povo timorense foi alvo até aos dias de hoje, os dias que são mais familiares à juventude timorense.

Completado o percurso proposto e cumprido o objectivo delineado, conclui-se que a cultura timorense é bastante rica no que se refere a rituais, valores, crenças, o que se depreende através da emoção demonstrada pelos sujeitos entrevistados, enquanto falavam sobre Timor e recordavam os momentos lá passados, uma vez que se tratam, na sua totalidade, de pessoas que abandonaram a sua terra natal, aquando da guerra. Por outro lado, a emoção revelada pelas pessoas entrevistadas denota a interiorização da cultura timorense e a importância conferida à mesma, facto que se considera, extremamente, importante, numa época de desenvolvimento tecnológico constante que, como que anula as raízes das diferentes culturas, tornando importante, apenas, as aquisições materiais do momento, aspecto que se verifica, essencialmente, nos países ocidentais.

Finalmente, a realização do presente trabalho despertou o interesse para a elaboração de um documento que reúna a essência da cultura timorense, desde a sua evolução histórica às especificidades das línguas e dialectos falados em todo o território. Um documento que reúna as informações patentes em várias obras já editadas e, ainda, informações fornecidas pela população timorense compreendida nas faixas etárias superiores – pois as histórias contadas pelos anciãos são, sempre, repletas de ensinamentos, recordações – e que se possa tornar num legado para as gerações vindouras.

(O tabalho foi realizado pela Faviola Alixo e Ma. Mendes, estudantes do Curso de Serviço Social da Univercidade Católica Portuguesa de Lisboa, disciplina Antropologia Cultural de ano de 2006)

ARTESANATO

CESTARIA

A cestaria é uma das actividades mais activas em Timor-leste, tanto para comércio, como para uso quotidiano e encontra-se a cargo das mulheres.
Depois de cortada em tiras mais ou menos estreitas conforme os objectos a fazer, a folha de palmeira é entrançada, transformando-se em cestos, caixas, pratos, açafates, cigarreiras, bolsas, entre várias outras coisas. O colorido e a minúcia do desenho são espantosos, por vezes as tiras têm pouco mais de 1mm de largura.
Distinguem-se três tipos de entrançado: diagonal, ortogonal e hexagonal, sendo este último o mais surpreendente nas formas e nos desenhos. Os "katupa" (saquinhos) feitos em folha de coqueiro para cozer o arroz de coco são um exemplo da utilidade da cestaria no dia a dia do timorense, servem de recipiente para conter o arroz durante a cozedura e ao mesmo tempo para o transporte do mesmo em viagem. As timorenses mais idosas sabiam fazer algumas dezenas de formas diferentes destes saquinhos.

O artesanato timorense está muito ligado ao quotidiano, traduzindo-se a grande maioria das peças em representações mais ou menos estilizadas da realidade, as conhecidas casas de sândalo feitas à imagem das casas de Lautém, as figuras de pássaros feitas em chifre de búfalo, o crocodilo da lenda da formação de Timor, os guerreiros, os búfalos e os cavalos de Timor, as corcoras e beiros (barcos de Timor) feitos em casca de tartaruga.

CERÂMICA

A arte cerâmica existe em todas as regiões, mas está mais enraizada nas regiões de Vemasse, Viqueque e Baucau . A matéria-prima é fabricada em partes iguais, com areia da praia e uma argila cinzenta dos socalcos das montanhas. A pasta preparada em pequenas quantidades resulta do amassar cuidadoso e com graus de coesão e rijeza iguais. A tarefa de amassar, trabalhar e cozer o barro cabe às mulheres, nos intervalos das lides domésticas.
O barro é trabalhado do seguinte modo: “É sempre a pá que boleia e a mão esquerda que sustenta o artefacto, em volta do punho e do ante-braço. Só quando se acha quase finalizado e que se torna necessário dar-lhe os últimos retoques de perfeição é que, por um impulso brusco, o sólido toma um movimento rápido de rotação, e a mão direita segurando um pequeno cavaco raspa e tira, aqui e ali, excessos de matéria-prima e nivela deformações.”
Os objectos são cozidos num forno em que o fogo e os primeiros são cobertos com largas folhas de palmeira e bananeira, previamente secas pela acção do lume, que formam um tecto, conservando o calor por um longo período de tempo. A decoração é quase inexistente, limitando-se a maior parte das vezes a um simples cordão ondulante à volta dos bordos.

OURIVESARIA

Os ourives fabricam vários tipos de adornos, como pulseiras, anéis, luas, pequenas caixas de prata e utilizam, para a sua confecção, antigas moedas de prata ou de ouro derretidas.
O processo de fabrico das jóias é o seguinte: o metal, colocado num cadinho de barro, é derretido num fogareiro coberto de brasas, sendo em seguida, mergulhado em água, e depois trabalhado sobre um espigão de ferro, com auxílio dum pequeno martelo.
Os dourados são conseguidos com fricções, concomitantes, de sumo de limão e uma mistura de carvão com substâncias metálicas, extraídas duma determinada pedra.
O ourives Bahadhem-Muraq usa, além de algumas ferramentas compradas no comércio chinês, as seguintes na fabricação local e, portanto, rudimentares: uma broca, uma plaina, um instrumento para calibrar a prata em diversas secções, e um pequeno fole.

MÚSICA E DANÇAS TRADICIONAIS

A música de Timor-Leste reflecte o contexto geográfico, cultural e social local, pelo que possibilita a percepção de elementos distintamente autóctones, mas também de influências de outras culturas musicais, como a ocidental, fruto da colonização portuguesa.

Música e dança interligam-se nos géneros tradicionais timorenses, sendo elementos fundamentais da expressão cultural. Do repertório tocado, constam quatro géneros bem definidos: tebe, tebedai, dansa e cansaun. Todos se baseiam na tradição oral e foram passando de geração em geração.
O tebe, palavra em tétum que, literalmente, significa dançar, é um género tradicionalmente executado em todas as casas de Timor-Leste ao anoitecer, em festas de carácter animista (estilu), durante a época das colheitas ou, ainda, na abertura de uma casa sagrada (uma lulik). É uma dança em roda ou em meia-lua, composta por uma ou mais melodias, com variações e sem acompanhamento instrumental, executada por elementos femininos e masculinos, entrelaçados alternadamente. O círculo ou a meia-lua alarga-se ou concentra-se, enquanto os dançarinos saltam batendo, ritmadamente e entusiasticamente, os pés no chão em determinadas sílabas. Trata-se de um género que se destina a ser executado como um diálogo entre dois interlocutores (independentemente do sexo), implicando uma estrutura musical do estilo pergunta-resposta.

Também uma dança, o tebedai é comum a toda a ilha de Timor, embora com variações, consoante a zona onde é executado. É um género exclusivamente rítmico, onde os elementos femininos tocam os babadok e os dadir com ou sem movimentos corporais. É composta, geralmente, por dois motivos rítmicos, repetidos alternadamente tantas vezes quantas desejadas. Por vezes, o tebedai feminino é acompanhado pelo bidu masculino, realizado por um ou mais homens que se movem, livremente, à frente, ao lado ou atrás das mulheres, erguendo a espada e emitindo gritos guerreiros.
Por outro lado, o género dansa classifica uma dança em que o movimento coreográfico não é realizado em roda ou meia-lua. A melodia é acompanhada pelas violas, dentro dos parâmetros de harmonia tonal, reflectindo assim o processo de assimilação da tradição musical ocidental. É um género mais recente, que se foi difundindo pelo território e foi sendo adaptado para exprimir, sobretudo, actividades do quotidiano, como por exemplo a debulha do arroz ou a apanha do camarão (suru boek). A forma mais difundida de dansa é a likurai, realizada por mulheres para, tradicionalmente, dar as boas-vindas aos homens regressados da guerra. Elas usavam o babadok (um pequeno tambor) e, por vezes, carregavam cabeças de inimigos em procissão através da aldeia. Na sua versão actual, a likurai é usada pelas mulheres no namoro.

Finalmente, a cansaun deve ser entendida como uma melodia com acompanhamento instrumental. Esta classificação é atribuída às canções populares executadas em Timor-Leste, já com influências ocidentais, embora possa, também, designar as canções tradicionais que não são dançadas. Esta denominação é, igualmente, aplicada às melodias originais acompanhadas, compostas por timorenses com textos originais em tétum ou português, ou a melodias ocidentais a que foi adaptado um texto em tétum.
Os instrumentos musicais, os trajes e os objectos de adorno desempenham, do mesmo modo, um papel relevante na performance musical. Dos primeiros, salientam-se o babadok e o dadir (também dadil, gong ou gon).

O babadok é um pequeno tambor de corpo cónico de madeira, com cerca de 30 a 50 centímetros de comprimento e de cerca de 15 centímetros de diâmetro, em geral tocado pelos elementos femininos que o percutem, alternadamente, com ambas as mãos.
O dadir é um círculo de metal de, aproximadamente, 25 centímetros de diâmetro, que é percutido com uma baqueta de madeira, de altura indefinida e sem possibilidade de afinação. À semelhança do babadok, é também um instrumento tocado pelos elementos femininos.

No repertório musical executado surgem, ainda, as violas e as flautas de bisel soprano, instrumentos ocidentais introduzidos na performance timorense.
No que concerne aos trajes, compõem-se de tais mane e tais feto. Os homens colocam um lenço na cabeça sobre o qual aplicam a kaibauk, lua de metal com aplicações de pequenas lágrimas e espigas, sendo a maior e mais ornamentada pertença do liurai, chefe ou rei tradicional timorense. A surik, espada guerreira, e o belak, disco de metal suspenso ao peito, completam o traje dos homens. As mulheres usam a kaibauk, além da ulum suku, para prender os cabelos, e do sasuit, pente de dentes largos. Geralmente, usam o mortene ao peito, colar feito de materiais diversos, e à cintura um pano branco. Por fim, a lokum ou kelui, uma pulseira de metal usada pelos homens no braço e pelas mulheres no antebraço. Todos os elementos actuam descalços e com uma salenda, xaile fabricado com o mesmo tipo de pano artesanal dos tais, colocada nos ombros.

VESTUÁRIO

No dia-a-dia o vestuário ocidental é bastante usado, todavia os têxteis locais congregam um significado muito importante nos rituais que celebram as mudanças das várias fases da vida (apresentação de um recém-nascido; casamento) ou o status social, nos rituais anímicos (enterro), outros que se prendem com a agricultura (iniciação de um jovem guerreiro na caça) ou em certos rituais que se prendem com as tradições do grupo (inaugu¬ração de uma casa).
Nas cerimónias, os homens vestem panos rectangu¬lares, denominados tais mane, compostos por dois ou três painéis cosidos entre si, que envergam à volta da cintura, e as mulheres vestem tais feto (sabulu) semelhantes, mas cosidos numa forma tubular, para assentar justo ao corpo, usados à volta da cintura ou atravessados na zona do peito, apenas com uma prega em baixo para permitir o movimento.
A grande diversidade cultural e linguística é transposta para os têxteis e, ao serem criados por grupos de etnias diferentes distinguem-se uns dos outros em termos de cores, motivos, técnicas utilizadas na tece¬lagem e no seu significado cultural.
Quando saem dos teares, os têxteis não são destinados, prio¬ritariamente, ao vestuário, excepto quando já estão gastos, ou aquando das cerimónias acima referidas. Todas estas cerimónias implicam o indivíduo, a linhagem, a família e a etnia a que se pertence e é, aqui, que a importân¬cia dos têxteis se revela, enquanto produtos de troca nas relações sociais e eco¬nómicas, assegurando a sobrevivência da linhagem e do grupo. Também pequenas faixas, ou lenços, cintos, malas para shiri ou bétel (estimulantes vegetais mastigáveis) e peças para a cabeça são popu¬lares como elementos de troca ou presentes. Todos estes elementos, de um modo geral, são decorados com sotis ou buna em vez de ikat.
As mulheres, quando ricas ou de determinada categoria social, vestem o “sarong batikado” (saia em forma tubular que vai desde a cintura aos pés, com padrões vários) e a “cabaia” (camiseiro com um corte próprio de Java) branca ou estampada à moda javaneza.

FIBRAS E TINGIDURAS

Os vários processos de fiação e tecelagem ocorrem, essen¬cialmente, durante a estação seca, sendo actividades femininas, muito valorizadas pelos membros de cada grupo, inteiramente, conscientes da importância dos têxteis nas relações mencionadas, anteriormente.
A principal fibra utilizada é o algodão e, onde ele é culti¬vado, a fiação manual é ainda comum, especialmente para têxteis que possuam um carácter especial.
O tais mane é composto por algodão, previamente, fiado e tingido com colorantes químicos, cumprido em ikat em teia. Já o Tais feto , igualmente em algodão, é bastante elaborado, sendo executado em ikat em teia e buna, com motivos de pássaro (Timor-Leste).
Timor tornou-se conhecido pelas cores vivas dos seus têxteis, embora essa não seja uma característica comum em todo o território. O vermelho é a cor dominante, pois para muitas comunidades está, tradicionalmente, associada à vida, ao sangue e à coragem. A maior parte das cores oriundas de corantes naturais provém, essencialmente, de três fontes, todas elas fáceis de obter em qualquer região da ilha:
Taun – Arbusto de cujas folhas se extrai uma tinta, que vai do tom azul-escuro ou esverdeado-escuro até ao preto. Uma vez colhi¬das, as folhas são esmagadas com um pilão. Numa das receitas mais populares, a esta pasta é adicionada água e cal, que reage com as folhas tornando o tinto mais escuro e permanente. Esta mis¬tura pode repousar assim vários dias, com os fios imergidos na solução, consoante o tom mais claro ou mais escuro pretendido, dentro da gama dos azuis-escuros e verdes-escuros.
Kinur – Trata-se da planta bulbosa açafrão, cujos estigmas são empregues para tingir. Uma vez extraídos, os estigmas são reduzidos a pó e misturados com, mais ou menos, água consoante o tom mais claro ou mais forte que se pretende. Deixa-se a solução repousar com os fios dentro, pelo menos um dia, duração esta que se prende, igualmente, com a vivacidade do tom que se quer obter. Consoante as receitas seguidas, consegue-se todas as tonalidades, que vão dos amarelos mais pálidos até aos laranjas mais fortes.
Teka – Árvore da teca, cujas folhas tenras são retiradas e esmagadas com um pilão. À pasta adiciona-se mais ou menos água consoante o tom mais rosa ou avermelhado que se pretende. Dependendo da receita e da quantidade de dias que se deixam os fios imergidos nesta solução, é possível obter tons de rosa e verme¬lho, de uma maior ou menor luminosidade e vivacidade.
Algumas das soluções supracitadas ainda são cozidas em panelas de barro.

TÉCNICAS DE TECELAGEM

Timor é reconhecido não só pela qualidade dos seus têxteis, mas também pelas diferentes técnicas decorativas, sendo a técnica de ikat a principal.
A técnica do ikat (atar antes de tingir), que pode ser execu¬tada nos fios da teia ou de trama, em Timor-Leste, aparece, unica¬mente, nos fios da teia. Este processo decorativo usa-se para repro¬duzir desenhos, a partir de cartões com os motivos executados em cestaria ou, mais comum nos dias de hoje e por influência dos portu-gueses, a partir dos desenhos em papel destinados a serem repro¬duzidos em crochet.
Nesta arte, os fios de algodão, ainda na sua cor original, são estendidos na armação de ikat, tal como foi mencionado anteriormente. A tecedeira, seguindo o desenho, vai atando com tiras vegetais secas ou ráfia os vários fios, cobrindo áreas que cor¬respondem ao motivo. Terminada esta tarefa, as meadas são retiradas da armação e tingidas na cor pretendida, sendo que as secções que estão unidas resistem ao corante. Após o tingimento e antes da tecelagem, os fios são tratados com uma solução de tapioca e água para os endurecer, tornando, portanto, mais fácil a tecelagem do padrão, que se quer apertado e nítido. As secções atadas são, então, desfeitas e o desenho surge na cor original do fio, recortado pela nova cor tingida. Uma vez tecidos os fios da teia, com um único fio de trama de uma só cor, são lavados em água fria diversas vezes, para amaciar o pano, dissolvendo-se assim a solução que o endureceu. Os coran¬tes são preparados com tal cuidado e perícia que, neste processo, não se observa virtualmente nenhuma perda de cor. O aspecto final dos tons do pano é suave e subtil, quase esbatidos, com motivos em ikat que parecem um negativo da cor natural dos fios.
Como complementos, encontram-se outras técnicas decorativas singulares de Timor, designadamente os sotis – passagem suplementar na teia, tecida de forma a parecer reversível –, e buna – trama suplementar descontínua, que dá o aspecto de um bordado. Qualquer destas técnicas, tal como foi mencionado ante¬riormente, varia muito de nome conforme a região da ilha, embora o processo de execução seja o mesmo.
A tecelagem é feita por tecedeiras que vivem nas comu¬nidades locais, sendo elas e as suas famílias responsáveis por todo o processo, desde a preparação dos fios à operação de atar as linhas para formar o desenho, seguindo-se o tingimento dos fios e culminando com a tecelagem dos panos. A produção inclui muitas vezes a combinação das técnicas de ikat e sotis (passagem suplementar na teia).

TEARES TRADICIONAIS

O fabrico das armações, onde é executada a técnica do ikat, e dos teares está, geralmente, a cargo dos homens. De funcionamento complexo, possuem, na esmaga¬dora maioria dos casos, um aspecto muito rudimentar.
A armação para a execução do ikat consiste numa estrutura de pouco mais de quatro paus de madeira, dispostos em forma de moldura, onde, com a ajuda de outros paus estreitos e amovíveis, as meadas são esticadas, escrupulosamente. Uma vez os fios paralelos uns aos outros a tecedeira inicia o seu minu¬cioso trabalho de atar, cobrindo pequenas porções de vários fios, de maneira a formar um desenho, só visível bastantes dias mais tarde, após o tingimento e novo esticamento das meadas na teia.
Os teares, bem mais complexos nos seus componentes, mas igualmente rudimentares, são teares de cintura (teares susten¬tados através de uma tira que passa atrás das costas da tecedeira). A tecedeira tem de trabalhar sentada no chão, de pernas estendidas, geralmente, em esteiras por elas elaboradas, esticando o próprio tear e a teia com a tensão exercida pelo seu corpo, atra¬vés de uma cinta que ela faz passar nas costas, na zona lombar. Este tipo de tear permite trabalhar com uma teia contínua que, com a técnica de tecelagem utilizada nesta região, produz tecidos com o mesmo aspecto e desenhos em ambos os lados, ou seja, não existindo direito e avesso.

POVOAÇÃO

Antigamente, a distribuição da habitação rural em Timor efectuava-se segundo dois modos fundamentais de povoamento: a aglomeração das casas em aldeamentos e o povoamento disperso em pequenos núcleos familiares isolados.
O modo de povoamento em dispersão devia-se a três factores, designadamente a natureza geográfica do território), as características sociais e culturais e o terceiro resultava da interacção destes dois, podendo conduzir, de acordo com as circunstâncias, à dispersão ou à concentração em aldeamentos.
O primeiro factor era o mais preponderante, pois tratando-se de um território montanhoso determina a fragmentação dos recursos naturais e, uma vez que a economia de subsistência assenta em culturas itinerantes e na horticultura mista, é necessária a disseminação do habitat, pois as pequenas superfícies de terras cultiváveis nas montanhas, só, podem fornecer alimentação a poucas famílias praticantes da cultura itinerante, que exige uma área múltipla das terras cultivadas num dado ano.
Por outro lado, a aglomeração de casas em aldeamento devia-se às constantes guerras entre os “Sucos”, surgindo a tendência de se agruparem em grandes aglomerados fortificados em locais de difícil acesso como um modo dos nativos se defenderam das guerrilhas e rapinagens.
Mais tarde, depois de assegurada a paz entre os reinos nativos rivais, devido à acção da administração portuguesa, os timorenses espalharam-se por todos os recantos da ilha.

A CASA

Nos primórdios do povo timorense, os belos da região norte, orientavam as suas das habitações segundo disposições simbólicas, ligadas a remotas tradições. Alguns implantavam-nas na direcção das montanhas mais altas, a terra das almas (mate-bian); outros, na direcção do mar, neste caso, o norte; e outros orientavam-nas para a região de onde, em tempos antigos, a gente nobre tomou as mulheres.

A forma como o remate da cobertura é construído permite distinguir dois tipos de casa. O primeiro - uma-rabi - é o mais vulgar, uma vez que o fecho da cobertura é de mais fácil construção e o segundo tipo é a uma-kakaduk. Em tempos remotos, ambos demarcavam zonas distintas no aldeamento, por pertencerem a famílias de diferentes linhagens e classe. Ainda hoje, a uma-kakadul confere distinção hierárquica aos seus ocupantes. Encontra-se, por vezes, um terceiro tipo, chamando uma-suco-sou, considerado o modelo de casa mais antigo, por pertencer aos melus, os primitivos ocupantes da ilha, hoje, completamente, diluídos na população.

“A casa tradicional timorense, de forma rectangular e assente em numerosos prumos, atinge, vulgarmente, 11 m de comprimento por 7 m de largura e é coberta, até 1 m do chão, por 4 águas muito inclinadas, revestidas a capim. As arestas de intercepção da cobertura são arredondadas, oferecendo, assim, uma resistência menor aos ventos das montanhas. As duas águas maiores interceptam-se, segundo uma aresta paralela ao eixo maior da habitação e definida pelo pau de fileira. O remate da cobertura distinguea a uma-rabi e a uma kakaduk. Na primeira, os molhos de capim apostos junto do pau de fileira são atados a este na altura em que se interceptam e unidos depois nas suas extremidades dos molhos do capim são acamadas por feixes de amuti, que se fixam por meio de traves colocadas, duas a duas, de ambos os lados da cumiera; um rebordo de caniço cruzado encima o conjunto e assegura a aderência perfeita do gamuti-elemento isolar-ao capim da cobertura.

O pau de fileira apoia-se em dois grossos pilares colocados nas extremidades. Estes dois postes, considerados sagrados, definem a compartimentação interna da casa em três zonas fundamentais: a varanda de entrada; a dependência cultural, de pavimento elevado em relação ao das outras divisões e, no outro extremo, uma terceira divisão eventual. A sala central, separada da varanda por uma parede de 1,5 de altura, comunica com esta por uma porta baixa e estreita situada junto do pilar principal, kaluk lor ou simplesmente, lor. Do lado oposto da sala, junto da lareira, ergue-se o kakaluk-rai ou “pilar da terra”. Kakaluk –lor significa “pilar do mar fundo” e relaciona-se com os mitos de origem e migração segundo os quais os antepassados teriam vindo de outras terras de além do mar. Testemunha também que, em tempos, a entrada da casa estava voltada na direcção do mar. Estes dois pilares são objectos ritos culturais por parte dos habitantes: no chão, junto dele, o chefe de família coloca um prato de pedra, o lor-fufu-hun e, sobre a lareira, depõe um outro, o lor-hun. Ambos servem de altar às cerimónias propiciatórias e neles colocam oferendas de natureza vária, aos espíritos protectores do lar. O centro de habitação destina-se à dormida e à preparação de alimentos. A lareira fica, aparentemente, separada do resto da sala por uma viga transversal (kotan). Esta sala é um sítio de ócio e dormida dos donos da casa e crianças.

No kahak-lor, estrado situado por cima da varanda de entrada, e no kradak, colocado sobre o compartimento posterior, guarda-se o arroz, a batata-doce e o amendoim. Sobre a lareira, numa arrecadação chamada kahak-rai, guarda-se o milho e o feijão, armazenados em sacos de fibra de palmeira. A lenha é arrumada debaixo do sobrado, que serve, igualmente, de abrigo aos porcos e galinhas.”
Os casais jovens e os rapazes dormem na varanda (selak), separados uns aos outros por esteiras verticais. Na região de língua tétum, as raparigas casadoiras repousam em pequenos lantens construídos junto da sala, onde a claridade é quase nula, a pouca luz e ar que lhes chega provém da porta principal da sala grande e dos intervalos das tábuas mal unidas do sobrado e das paredes.

Actualmente, as casas tradicionais ainda existem e são habitadas pelos autóctones, mas a habitação de construção europeia, em tijolo, encontra-se, igualmente, bastante difundida.

RELIGIÃO

O timorense depara-se com dois mundos: o cosmos, o território que habita e o espaço desconhecido que o circunda, povoado de demónios e almas de defuntos.

Estabelecer-se num local, organizá-lo e habitá-lo são actos que conferem ao primeiro um cariz de divindade, como que a criação de um mundo. Assim, a aldeia encontra-se dividida em quatro sectores, que remetem para a divisão do Universo conhecido em quatro horizontes, erguendo-se, no meio da aldeia, a casa cultural (uma lulic). Na outra extremidade, debaixo da terra, situa-se o mundo dos mortos, simbolizado pelas serpentes e crocodilos. O lugar sacralizado (uma lulic) provocou uma rotura na homogeneidade do espaço, permitindo a comunicação entre os três níveis cósmicos – Céu, Terra e regiões inferiores.

O simbolismo cósmico do mundo, expresso na aldeia e na casa de habitação, é retomado na “uma lulic”, habitada pelos espíritos dos antigos guerreiros – a casa é uma imagem do mundo, a sua cobertura é o Céu, o pilar é o “eixo do mundo” que sustenta o imenso tecto celeste e desempenha um importante papel nos rituais: é na sua base que têm lugar os sacrifícios em honra do ser supremo, Marômac «…Dois postes grandes e grossos (Kakaluk rai e Kakaluk lor) irrompem na grande sala e suportam, por si sós, grande parte do peso da cobertura. O kakaluk lor, símbolo do oculto da casa, é objecto de especiais atenções, no chão, perto dele, o chefe da família coloca um prato de pedra, o “lor fufuhum” e sobre a lareira, dispõe um outro, o “ lor hun”.» A casa sagrada é propriedade de toda a população e elemento de união entre o clã, se a “uma lulic” desaparecer por ruína ou incêndio, grande desgraça se abaterá sobre o povo e as famílias dispersar-se-ão. A guarda da “uma lulic” é confiada a um(a) velho(a) do clã, responsáveis por ela perante a população.

As casas sagradas, idênticas às habitações familiares, diferem das últimas pelos ornamentos e esculturas de aves em madeira, pelos lagartos, crocodilos, tokés, ou seios de mulher, esculpidos na madeira das portas, comportando uma função decorativa e um acentuado significado totémico, que denotam a dualidade do simbolismo religioso timorense.

A construção e inauguração de uma casa equivale a uma nova vida e, para que a obra seja resistente deve receber, concomitantemente, uma vida e uma alma, sendo que a transferência da última se opera através de um sacrifício sangrento. O animismo destas relações, presente em toda a vida timorense, representa a expressão de um estado de espírito que não distingue os procedimentos a ter para com as pessoas e o procedimento a seguir com “as coisas”.
Tudo o que causa receio ou é considerado importante é guardado nas “uma lulic”, como sejam uma espada, uma pedra de feitio singular, um saco de masca que foi pertença de um avô.

Tudo tem alma, as pedras, as árvores, especialmente as de grande porte, os gondões frondosos, as montanhas elevadas habitadas pelas almas dos mortos (mate-biam), as ribeiras tumultuosas, as florestas virgens, impenetráveis e sempre verdes.
Na cultura timorense subsistem, ainda, vestígios de totemismo, da exogamia e de um passado matriarcal. O totem (geralmente um animal), antepassado venerado e seu espírito protector, castiga o clã, com a destruição, quando é morto por algum dos seus comportamentos e proíbe o casamento ou relações sexuais entre membros da mesma tribo. Em muitas regiões o crocodilo (lafae), ainda, é animal sagrado, sendo chamado de avô.

A sobrevivência da cultura matriarcal refere-se ao costume de decapitar os inimigos mortos em combate, cujas cabeças são expostas na árvore lulic, atadas aos troncos com vibras de gamúti, durante as cerimónias fúnebres. Os crânios têm alma e necessidades, por isso os “açuaim” (guerreiros) lhes ofertam carne e arroz, sendo sinal de valentia comer estes alimentos sujos, assimilando a bravura dos guerreiros mortos. Como era uso na magia medieval, os feiticeiros (matan doc) lançam um feitiço de ódio ou quebranto sobre qualquer objecto que tenha pertencido à vítima. Outra função dos matam doc era defender as pessoas dos “buan” (espíritos maus) e vender remédios.

Por outro lado, nas hortas e campos de cultivo, é vulgar os agricultores colocarem aí-tós – troncos de madeira em forma antropomórfica que simbolizam os antepassados de linhagem – que assentam em socos de pedras soltas sobre os quais, antes da colheitas, se dispõem as espigas de milho ou de arroz.. Ao oferecer alimento ao espírito tutelar da plantação, o agricultor pretende obter a sua protecção para as colheitas futuras.

Existiam, ainda, os altares (foho), montes arredondados de pedra solta, encimados pelos pratos de sacrifício (fatu bui soles) onde os sacerdotes e anciãos se reuniam para examinar as entranhas dos animais e expor as oferendas de milho e arroz.
Realizam-se festas, com oferendas de arroz cozido e carne assada dos animais sacrificados, acompanhadas de dança diante da “uma-lulic”, em ocasiões como o casamento de régulos, o regresso da guerra, ou aquando das colheitas. Mas a prática mais significativa, ainda, é o funeral (acoi-mate), em que toda a família do defunto se reúne, contribuindo com alimentos, e inicia-se um grande banquete, que é repetido um ano depois, comemorando o desluto (koro metan). Os mortos pertencentes a famílias nobres eram transportados em troncos de árvore escavados, ou quando plebeus, envoltos em esteiras e enterrados diante da casa mais importante do aglomerado, habitada pelo homem mais idoso da aldeia. Este ritual foi substituído pelo enterro dos mortos nos cemitérios, pelo menos nas cidades.
Actualmente, alguns destes rituais anímicos encontram-se em processo de extinção, uma vez que o catolicismo encontra-se, largamente, difundido.

FAMÍLIA

A família é o pilar a partir do qual se edifica toda a estrutura social timorense.
Segundo a Sra. Elvira Neves, na cultura timorense, as pessoas denominam-se de família chegada até à quinta geração. “Desde que exista laço de sangue é família. Depois há a família constituída por laços de casamento.” As famílias timorenses são, na sua grande maioria, bastante numerosas, atingindo mesmo os doze filhos, antigamente. Para alguns casais, designadamente para os que abandonaram o país durante a ocupação indonésia, o elevado número de filhos prende-se com a renovação das gerações, a fim de substituir os conterrâneos que padeceram a lutar pela liberdade, como afirmava Luciano Aleixo.
No que se refere à hierarquia familiar, sempre se afirmou o patriarcado, com a excepção de algumas regiões, como o Suai, onde predomina o matriarcado, nomeadamente, uma cultura mais recente – o neo-matriarcal.


CASAMENTO

O modo de constituição de família é o casamento.
Nas palavras da Sra. Elvira Neves “o pedido de casamento é uma tradição, é obrigatório, é uma grande festa e engloba o dote (barlaque). Para quem tem a educação portuguesa, o pedido de casamento segue-se do casamento; para quem só tem a educação timorense, no pedido de casamento, os pais do noivo dão, aos pais da noiva, aquilo que estes pediram para entregar a sua filha e o casamento está celebrado. É o barlaque, que pode ser traduzido, mais ou menos, como a compra da mulher.”
O casamento constitui o mais importante compromisso assumido, ao longo da vida, possuindo um complexo código de direitos e deveres que visam dificultar a sua dissolução. A família do noivo oferece um valioso dote em rezes, oiro e panos à família da noiva, em compensação pela perca de um elemento activo, sendo este acto a base e esteio do casamento. O dote funciona, em última análise, como garantia do bom comportamento dos cônjuges. A esposa pode abandonar o lar em caso de violência doméstica e ao marido é permitido repudiar a primeira, se esta lhe for infiel, exigindo da família da última a devolução do barlaque.

Verificam-se, ainda, outras particularidades da cultura timorense, designadamente o levirato (união do irmão do morto com a viúva), a fim de evitar que a mulher abandone o agregado familiar e leve consigo os filhos, valiosa mão-de-obra, e o facto de, no caso dos pais não concordarem com a união dos jovens enamorados, estes fugirem, pressupondo a perda da honra (virgindade) da rapariga, momento em que aos olhos dos pais desta, o casamento se revela obrigatório. Hoje em dia, a prática do levirato encontra-se, praticamente, extinta.

A sociedade timorense admite a poligamia, considerada sinal de nobreza e distinção, pois o homem casado com várias esposas é considerado rico, uma vez que teve posses para pagar mais do que um dote, fazendo da poligamia usufruto dos privilegiados, os datós e os liurais. Porém, este costume desapareceu nas regiões onde o catolicismo exerce influência, o que corresponde a quase toda a ilha.
É, ainda, de referir que, antigamente, até à idade de casar os rapazes quase não tinham responsabilidades, gozando de uma vida livre, geralmente, fora da casa paterna. Já as raparigas casadoiras (oân fetorá) ajudavam as mães nas tarefas domésticas, não lhes sendo permitido abandonar o lar, ainda que usufruíssem de plena liberdade sexual. A livre escolha de noivo ou noiva era limitada por regras precisas, cujo objectivo era manter as riquezas, em dotes, dentro de uma determinada região, ou mesmo entre dois clãs familiares.

SISTEMA POLÍTICO E CLASSES SOCIAIS

Tradicionalmente, o sistema vigente vinculava-se à civilização hindu, uma das culturas mais ricas que existiu e que se difundiu, por meio de grandes potentados javaneses, e cuja formulação se deve aos povos belos.

A organização social timorense pressupunha uma sociedade feudal. No topo da hierarquia encontravam-se os chefes nativos (liurai), seguindo-se a nobreza, o povo e, na base da pirâmide social, os escravos, prisioneiros de guerra ou gente comprada.
O soberano administrava as terras dos seus domínios, através de uma complexa rede hierárquica. Por intermédio de nobres da sua confiança, transmitia as suas ordens aos chefes de cada suco (de suko, em malaio, que significa clã). Os chefes de suco e os régulos eram seleccionados entre a nobreza, formando uma poderosa e rica classe dirigente, detentora da autoridade, da justiça e, por atribuição sobrenatural, senhora da terra. Certos régulos importantes, considerando-se descendentes directos de entidades divinas, intitulavam-se Maromac ôan (filhos de Deus).

A eleição dos liurais, pelos seus semelhantes, os datós e “principais” (familiares) residia numa única condição: a descendência de famílias reais pelo lado paterno e materno. Estes podiam contrair matrimónio com mulheres do seu povo, mas um dos casamentos tinha de ser com filha de outro régulo, pois somente da descendência desta união se poderia eleger novo chefe.

O povo (ema) sustentava a classe privilegiada, prestando trabalho gratuito, pagando impostos e executando diversas obrigações, entre as quais arrotear, limpar, semear e colher as plantações dos seus senhores, guardar e levar os rebanhos às pastagens, presenteá-los com e géneros alimentícios, assegurar as rações diárias de tabaco e masca. Ao povo era permitido cultivar a terra, mediante o pagamento de um imposto, o rai-ten.

Na base da sociedade viviam os escravos, prisioneiros de guerra (lutuhum) ou gente comprada (atu). Antigamente, o povo vencedor das razias entre reinos e sucos era presenteado de escravos, mas sendo pouco rígida, a escravatura permitia aos servos tornarem-se livres.

Após as revoltas dos nativos, a administração iniciou uma política de desmantelamento da organização tradicional, tendo os nativos poderosos, rapidamente, perdido grande parte da sua fortuna, prestígio e autoridade. Os plebeus já não prestam serviço gratuito aos chefes e, caso o façam são recompensados com banquetes e festas. Já não se cobram impostos e os presentes aos liurais limitam-se a ofertas simbólicas de cestos de arroz e milho, aquando das primeiras colheitas.

Proibida e perseguida a escravatura, a classe dos lutuhum encontra-se extinta. Porém, ainda hoje subsiste a recordação desses tempos, quando os timorenses (nativos com mistura de raças) se injuriam, chamando-se “filhos de escravos”, tratamento considerado profundamente ofensivo, por lembrar uma ascendência vergonhosa.

Todavia, ainda se encontra, em remotos locais de Timor, principalmente nas montanhas, vestígios de um outro sistema político, um sistema com características democráticas, em que o chefe eleito é, apenas, um primus inter pares, geralmente um ancião, com poder limitado pelo consenso geral e sem possibilidade de sucessão hereditária.

Estes dois sistemas coexistiam, embora com supremacia do primeiro.
Importa, ainda, referir que durante a época colonial, toda a ilha de Timor se encontrava sob o domínio do Governador Provincial que, por sua vez, era orientado pelo Governador-geral, com sede em Moçambique.
Hoje em dia, Timor-leste é um país independente, sendo governado segundo os moldes do sistema político democrático.

LÍNGUAS EM TIMOR LESTE

Timor apresenta uma grande diversidade linguística, proveniente das antigas guerras internas e das consequentes integrações de subgrupos noutros grupos étnico-linguísticos, verificando-se essa diversidade linguística em todo o território timorense, sem distinção entre loro sae e loro monu. Assim, segundo o Sr. Vianey da Cruz, Timor possui trinta e dois dialectos, dentre eles o Baiqueno, o Galóli, o Tocodede, o Habo, e seis línguas que são o Tétum, o Macassai, o Fataluco, o Bunak, o Mambae e o Quemak. Os dialectos são específicos de pequenas zonas ou de regiões, sendo que, numa mesma zona, se fala um dialecto e uma língua. O dialecto é utilizado para comunicar com as pessoas da mesma zona e a língua para comunicar com os que não partilham do mesmo dialecto.

Actualmente, o tétum é a língua com maior expressão em Timor-Leste, devido à sua utilização enquanto língua franca. O tétum é uma língua da família austronésica, ou malaio-polinésia, que parece originária da Formosa e, talvez também, do sul da China continental. Existem duas variantes do tétum, como se verá a seguir.
O primeiro tétum, o tétum-térique, já se havia estabelecido como língua franca antes da chegada dos portugueses, aparentemente, em consequência da conquista da parte oriental da ilha pelo império dos Belos e, da necessidade de um instrumento de comunicação comum para as trocas comerciais. Com a chegada dos portugueses, o tétum adopta vocábulos portugueses e malaios, principalmente designações que o seu léxico não continha, tornando-se uma língua crioula e simplificada, pois os verbos deixaram de ser conjugados – nasce o tétum-praça.

Apesar do tétum-praça possuir variações regionais e sociais, hoje, o seu uso é alargado, sendo compreendido por quase toda a população timorense, pelo que foi adoptado como "língua oficial", com a designação de Tétum Oficial.
Durante o domínio português, quer na administração, quer no sistema de ensino, era usada exclusivamente a língua portuguesa, embora coexistindo, no dia-a-dia, com o tétum e outras línguas.

Todavia, com a anexação do território pela Indonésia, o uso do português foi proibido, impondo-se o bahasa da Indonésia, língua até então desconhecida no território. Durante 24 anos, toda uma geração de timorenses cresceu e foi educada nesta língua. O português sobreviveu, no entanto, como língua de resistência, usada pela Fretilin nas suas comunicações internas e no contacto com o exterior. Este uso do português, muito mais do que do tétum, conferiu-lhe uma enorme carga simbólica.
Com o fim da ocupação e a independência de Timor-Leste, a 20 de Maio de 2002, as novas autoridades do país fizeram questão de recuperar o idioma da antiga potência administrante, reconhecendo a Constituição o estatuto de "língua oficial"ao português, ao lado do tétum.
Para os timorenses mais idosos, o bahasa é, negativamente, conotado com o regime repressivo de Suharto mas, por outro lado, muitos jovens têm-se mostrado adversos à reintrodução do português, visto como "língua colonial".

Conclusão

A realização do presente trabalho revelou-se deveras importante, uma vez que permitiu a aquisição de conhecimentos sobre a cultura de origem das suas autoras, nomeadamente aspectos que ambas desconheciam.

Por outro lado, considera-se de extrema importância conhecer-se os antepassados e a evolução de que o povo timorense foi alvo até aos dias de hoje, os dias que são mais familiares à juventude timorense.

Completado o percurso proposto e cumprido o objectivo delineado, conclui-se que a cultura timorense é bastante rica no que se refere a rituais, valores, crenças, o que se depreende através da emoção demonstrada pelos sujeitos entrevistados, enquanto falavam sobre Timor e recordavam os momentos lá passados, uma vez que se tratam, na sua totalidade, de pessoas que abandonaram a sua terra natal, aquando da guerra. Por outro lado, a emoção revelada pelas pessoas entrevistadas denota a interiorização da cultura timorense e a importância conferida à mesma, facto que se considera, extremamente, importante, numa época de desenvolvimento tecnológico constante que, como que anula as raízes das diferentes culturas, tornando importante, apenas, as aquisições materiais do momento, aspecto que se verifica, essencialmente, nos países ocidentais.

Finalmente, a realização do presente trabalho despertou o interesse para a elaboração de um documento que reúna a essência da cultura timorense, desde a sua evolução histórica às especificidades das línguas e dialectos falados em todo o território. Um documento que reúna as informações patentes em várias obras já editadas e, ainda, informações fornecidas pela população timorense compreendida nas faixas etárias superiores – pois as histórias contadas pelos anciãos são, sempre, repletas de ensinamentos, recordações – e que se possa tornar num legado para as gerações vindouras.
(trabalho realizado por Ma. Mendes e Faviola, estudante de Univercidade Católica Portuguesa de Lisboa- disciplina de Antropologia Cultural do ano de 2006)

LOCALIZAÇÃO DE TIMOR

2.1.LOCALIZAÇÃO OBJECTIVA

Timor situa-se no Sudeste Asiático, a 850º a Sul e 12 555º a Este, a Noroeste da Austrália, nas Ilhas Lesser Sunda, e a Este do Arquipélago Indonésio, sendo a mais oriental das pequenas ilhas do arquipélago de Sunda.
Politicamente, a ilha está dividida em duas partes: a ocidental (loro monu), território indonésio, com uma superfície de 19 000 km2 e cerca de 605 000 habitantes, com Kupang por capital; e a parte leste (loro sae), ex-colónia portuguesa, com 18 900 km2 de superfície e com capital em Dili.
O presente documento debruça-se sobre a parte leste da ilha, Timor-Leste, que inclui a metade Este da ilha de Timor, a região de Oecussi (Ambeno) na porção Noroeste da ilha de Timor, e as ilhas de Pulau Atauro e Pulau Jaco.


2.2.LOCALIZAÇÃO SIMBÓLICA

Segundo a Sra. Elvira Neves, Timor situa-se “perto da Austrália e de Singapura, por mar. Por terra a ilha só tem ligação com a Indonésia”.
Sente saudades, nasceu e cresceu em Timor. Pensa numa hipótese de lá voltar, mas apenas de visita, “pois a terra não está boa, continuam as guerras.” “Tenho medo de lá voltar, porque assisti a uma guerra em Angola e não quero voltar a começar tudo de novo. As consequências de uma guerra são muito graves. Tão cedo não estou para aí virada, principalmente, porque com esta idade, os familiares directos já não existem, nem os sítios que são familiares, porque foi tudo mudado durante o governo indonésio, as estradas onde passei…”


3.HISTÓRIA

A ilha de Timor constitui pólo de atracção para os comerciantes desde o século XIII, devido à abundância de sândalo, mel e cera, atraindo, então, comerciantes chineses e malaios. A formação do comércio local esteve na origem de casamentos com famílias reais locais, contribuindo para a diversidade étnico-cultural.
Os portugueses foram atraídos pelos recursos naturais de Timor em 1512, trazendo, em 1561, missionários que difundiram a religião católica, actualmente predominante. A chegada do primeiro governador português, no início do século XVIII, marcou o início da organização colonial do território, criando-se o Timor Português. Em 1914, a Sentença Arbitral assinada entre Portugal e a Holanda pôs termo aos conflitos entre os dois países colonizadores, fixando as fronteiras que hoje dividem a ilha.
Importa, ainda, referir que, segundo conta a Sra. Elvira Neves, a colonização de Timor pelos portugueses não foi pacífica, uma vez que a população autóctone sempre reivindicou a sua liberdade. A colonização de Timor pelos portugueses deu-se, completamente, com a chegada dos landins (indivíduos de origem moçambicana, levados pelos portugueses, a fim de ajudar a controlar o povo), que desposaram jovens raparigas timorenses, ou seja, através da união entre famílias.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os Aliados (Austrália e Holanda) envolveram-se numa dura guerra contra as forças japonesas, em Timor, tendo algumas dezenas de milhar de timorenses dado a vida lutando ao lado dos Aliados. Quando os japoneses se renderam, em 1945, a soberania de Timor voltou, automaticamente, à Administração Portuguesa.

A 28 de Novembro de 1975, após uma breve guerra civil, a República Democrática de Timor-Leste foi proclamada. Contudo, apenas uns dias mais tarde, a 7 de Dezembro de 1975, a nova nação foi invadida pela Indonésia que a ocupou durante os 24 anos seguintes.

A 30 de Agosto de 1999 os timorenses votaram, com esmagadora maioria, pela independência, pondo fim a 24 anos de ocupação indonésia, na sequência de um referendo promovido pelas Nações Unidas. Em Abril de 2001, foram realizadas novas eleições, visando a eleição do novo líder do país, tendo Xanana Gusmão sido consagrado o novo presidente timorense. Assim, a 20 de Maio de 2002 as Nações Unidas entregaram o poder ao primeiro Governo Constitucional de Timor-Leste, tornando-se o país, totalmente, independente.


4.DENSIDADE POPULACIONAL
Em 1950 Timor contava com uma densidade de vinte e três habitantes por quilómetro quadrado e, vinte e cinco anos depois, em 1975, o total de habitantes da ilha era de 740 000. Já em 2003 a população de Timor-Leste rondava os 0.778 indivíduos, número que reflecte os vinte e quatro anos de guerra pela auto-determinação.
Actualmente, a população terá aumentado, sendo o número de 740 000 habitantes avançado na última edição da Revista FOCUS. Todavia, devido aos últimos acontecimentos, constata-se que a população de Timor-Leste está a diminuir, uma vez que já existem vítimas mortais, resultantes dos conflitos que se têm verificado na ilha.


5.CLIMA
A altitude é o elemento que influencia as variações de clima, pelo que apresenta-se homogéneo quanto à temperatura e, assaz, contrastante relativamente à precipitação, podendo afirmar-se que a ilha constitui um “mosaico de microclimas”. Este panorama, comprovado pela vegetação, apresenta, todavia, tendências minimamente definidas para que se possam determinar especificidades ao nível meteorológico, principalmente devido à situação geográfica de Timor, a sua orientação frente aos ventos dominantes e ao relevo insular.

A influência das monções regista-se, por seu lado, em duas estações: a primeira, decorrente de Novembro a Março, corresponde à monção de noroeste, caracterizada por chuvas abundantes em toda a Ilha; a segunda, correspondente à monção de sueste (australiana) faz-se sentir de Junho a Outubro, sendo a estação seca dos ventos frescos, apenas entrecortada na costa sul e, no início da estação, por chuvas de origem local. Entre ambas estabelecem-se períodos de transição com características comuns a cada uma delas.

As zonas em questão, tendo em conta as características referidas, reflectem-se na vegetação, constituindo regiões naturais, designadamente a:
 Zona quente e seca da costa norte – do litoral a 600 m. de altitude: temperatura média anual de 27º; precipitações anuais circunscritas, especialmente, aos meses que decorrem entre Dezembro e Abril e variando, conforme as localidades, entre 500 mm. e 1100 mm;

Zona quente e húmida da costa sul – do litoral a 600 m. de altitude: temperatura média anual de 26º, precipitações anuais restritas, principalmente, aos meses de Novembro e Julho e variando conforme as localidades, entre 1200 mm. e 2500 mm;

Zona temperada de meia montanha – de 600 m. a 1200 m. de altitude: temperatura média anual ou superior a 24º; precipitações anuais localizadas, essencialmente, nos meses de Outubro a Julho e variando, conforme as localidades, entre 1600 mm. e 3000 mm;

Zona fria de montanha – a partir de 1200 m. de altitude: temperatura média anual igual ou inferior a 18º; precipitação anual de 3000 mm. mais uniformemente distribuída, mas com um mês de precipitação inferior a 60 mm., pelo menos.

6. RECURSOS

6.1.ACTIVIDADES ECONÓMICAS DE SUBSISTÊNCIA E DE EXPLORAÇÃO

Os recursos de Timor-leste correspondem, por ordem de importância, a recursos de natureza agrícola, pecuária e mineral, consistindo as actividades económicas do povo, normalmente, em actividades económicas de subsistência e actividades económicas de exploração. As primeiras englobam a agricultura, a horticultura, a colheita de frutos, o pastoreio e a criação de animais e as segundas correspondem, consoante as regiões, à exploração do café, da copra ou do tabaco e de minério.
As condições agrícolas estão, integralmente, sujeitas ao clima, especialmente, à pluviosidade, demarcando-se as regiões agrícolas por zonas em que a pluviosidade permite ambientes próprios às necessidades ecológicas e das culturas. Porém, a insularidade e a multiplicação de microclimas derivados dos acidentes orográficos permitem que, à excepção de certas culturas com exigências mais definidas, como a batata e o café, predomine, em toda a ilha, a associação artificial.

A técnica de pousio é a mais utilizada, especialmente no leste, sendo os terrenos cultivados durante dois anos e permanecendo em pousio durante os dez anos seguintes.
Quando a organização tradicional do povo timorense se mantinha, praticamente, inalterada, existiram grandes hortas comunais, cujo produto das colheitas era dividido por todos. Depois da guerra as autoridades portuguesas exerceram pressão, no sentido de serem exploradas hortas individuais, porém os resultados revelaram-se decepcionantes, tendo a produção diminuído, consideravelmente. Pode-se, então, afirmar que a agricultura comporta um cariz primitivo, mostrando-se os nativos reticentes quanto ao uso de métodos que não os das suas tradições agrícolas. Os instrumentos agrícolas utilizados são, essencialmente, a alavanca grande (1,5 m) e pequena (1 m), ferros pontiagudos nas sachas e mondas, a picareta, a enxada (comprada no comércio local) e uma pequena faca para limpeza das ervas das hortas.
Nas hortas encontra-se o taro (Colocasia escubenta), os inhames, plantas de origem local e plantas de importação mais ou menos remota, como sejam o arroz, o milho, o feijão, a batata-doce, a mandioca, o alho, a cebola, o tomate, a soja, o grão, o ricíno, o tabaco e algumas cucurbitáceas. Existem, ainda, fruteiras várias, como a laranjeira, o limoeiro, a bananeira, a papaieira, o coqueiro, jamboeiro, arequeira, fruta-pão, jaqueira, ananaseiro, goiabeira, pungueira, ayata (fruta pinha). Os condimentos ocupam lugar cativo, destacando-se o betel, a pimenta brava e o açafrão da terra (Curcuma longa). Nas regiões elevadas, sobretudo no centro e oeste da Ilha, é frequente cada núcleo familiar de cabanas possuir o seu cafezal.

Embora de carácter florestal, importa referir a série significativa de madeiras com aplicação em todos os ramos de construção civil ligeira e pesada: ai-béssi (Inhia bijuga), ai-ná (Pierocarpus indicus), ai-seria (Cedrela toona), ai-maras (Pometia pinnata). Também, o bambu e as rotas (Calamus rotang) são utilizados na confecção de vários artefactos, sendo ainda de mencionar certas árvores e arbustos produtores de tintas, como Morinda tinctria, Peltophorum ferrugineum e Indigofera hirsuta.
No que se refere ao reino animal, o búfalo deve ser considerado em primeiro lugar, pelo papel que desempenha na economia autóctone – o búfalo é símbolo de riqueza e prestígio, sendo utilizado em ocasiões importantes da vida do povo. Já os gados caprino, ovino e suíno são fundamentais na economia de subsistência, constituindo a base da alimentação em dias vulgares, tal como as aves de capoeira, estando o gado bovino a incrementar-se.

Por seu lado, a pesca, que poderia fornecer grande parte da alimentação de que o timorense mais necessita, é apenas praticada por populações reduzidas da beira-mar e utiliza processos muito elementares: a arpoação do peixe nos baixios e praias do litoral, a caça submarina praticada pelos naturais da ilha de Ataúro e a pesca à rede e de armadilha.

Nas praias de pequena profundidade, pratica-se a pescaria em grandes cercos e, quando a maré vasa, o peixe, detido nos corais pelo abaixamento das águas, é facilmente arpoado ou apanhado a rede. A pesca de armadilha é realizada com grandes cestos cilíndricos, tecidos de rota e bambo, que têm no fundo uma abertura circular, e são lançados ao longo do litoral. Os cestos ficam presos ao fundo do mar por pesadas pedras e são referenciados a um ponto conhecido.

As pescas nas ribeiras são de carácter colectivo, intervindo quase toda a população válida do aldeamento, homens, mulheres e crianças. Em Oecussi utilizam-se dois métodos, um na época das chuvas e outro durante a estação seca. No primeiro caso, quando a ribeira tem muita água, alguns pescadores vão à foz desobstruir a saída das águas, e estas baixam de nível, iniciando-se a pesca imediatamente. O outro método consiste em colocar estacaria, atravessando a ribeira em dois pontos, não muito afastados. Assim, impede-se a fuga do peixe, que é facilmente arpoado ou apanhado à rede. As mulheres utilizam o nere, uma rede cónica presa, na base, a uma cana dobrada em forma de círculo que, por sua vez, se liga a uma vara de bambú flexível. Os homens empregam uma rede maior e chumbada – tife-cai - de forma circular. Estes redes são lançadas em locais onde os homens têm pé e, depois de aprisionarem o peixe, são puxadas para terra.

A caça submarina, praticada pelos nativos de ilha Ataúro, conta com dois instrumentos de fabrico próprio, os óculos de madeira com orifícios de mica e a fisga, munida de um arpão comprido de ferro, utilizado para perseguir as suas presas, a nado, durante horas.
No que se refere aos produtos de extracção mineral, os mais significativos são o sal e o ouro, sendo que aldeias existem que se dedicam, exclusivamente, à indústria do sal, comercializando-o nos mercados do interior. Enquanto produtos de extracção mineral contam-se, ainda, a cromite, o manganês, o cobre e o petróleo.
Finalmente, os mercados desempenham um papel polarizador e estimulante das actividades económicas nativas.

6.2.ÁGUA

Segundo conta a Sra. Elvira Neves, o sistema de distribuição de água canalizada encontra-se implantado nas cidades, como por exemplo Dili e Baucau, mas fora das cidades a água é obtida através de poços artesanais, mais especificamente, perfurações.

6.3.COMBUSTÍVEIS

Os combustíveis, inicialmente, existentes eram o carvão e o petróleo, o gás entrou muito tarde, bem como a electricidade, que surgiu por volta de 1965.
Foi, recentemente, iniciada a exploração de petróleo, por uma companhia petrolífera australiana e por outra companhia italiana. Actualmente, nas palavras da Sra. Imaculada Cruz, o gás natural de Timor abastece toda a Austrália, e a electricidade funciona como um cartão Multibanco, que deve ser carregado na Central Eléctrica, mas os geradores perdem potência inúmeras vezes, segundo o Sr. Carlos Agostinho.

ORIGEM DOS REINOS

“Uma velha lenda relacionada com a origem de antigos reinos conta que…

… um dia, quatro tribos habitantes da Península de Malaca se fizeram ao mar em grandes e sólidas jangadas de bambu, em demanda de novas terras a oriente. Durante a segunda jornada de viagem grande tempestade se formou; os emigrantes creram ver na porcela um acto do próprio Deus que lhes ordenava o regresso a suas terras, em busca dos mochos sagrados esquecidos, por descuido, nos templos. Reparada a falta, mal as aves foram encarrapitadas nos mastros das embarcações estas adquiriram grande velocidade deslizando, suavemente, num mar tranquilo.

Dias passados, por alturas de Macassar, nova tormenta se levantou destroçando as jangadas e arremessando os navegantes para as praias da ilha. Apesar de bem recebidos pela população local, os sobreviventes não quiseram aí permanecer: a ideia de prosseguir viagem atormentava-os. Num novo veleiro construído em Macassar arribaram a Flores, onde parte dos homens e mulheres da tripulação, seduzidos pelos encantos da terra, resolveu estabelecer-se. O grupo principal continuou viagem até vir a atingir, finalmente, Timor, por alturas do reino de Amatung.

Cedo, duras lutas se travaram entre os recém-chegados e os insulares, os Melus, povos primitivos e guerreiros, conseguindo os primeiros infligir pesadas derrotas e conquistar muitas terras aos nativos. Três das tribos invasoras, cujos chefes eram irmãos, haviam trazido de Malaca três plantas que foram colocadas nos locais onde cada tribo primeiro acampou. Os nomes destas árvores – ai hali, ai hico e ai timo – deram origem aos reinos de Uai-Hali, Uai-Hico e Hai-Timo; a quarta tribo ocupou a região de Fatu Aruim.

Com o decorrer do tempo o reino de Uai-Hali alcançou grande prestígio e hegemonia entre os povos vizinhos. Aos seus reis, que se intitulavam Filhos de Deus (Maromac-oan) atribuíram-se poderes sobrenaturais; a eles dirigiam os povos as suas preces.”

Formação da Ilha de Timor Leste

MITO DO CROCODILO

“Em Macassar, na ilha dos Celébes, vivia um crocodilo…. Isto passou-se muito antes dos tempos que já lá vão. Velho, sem velocidade para os peixes da ribeira, não teve outro recurso senão pôs pé no seco e aventurar-se terras adentro e ver se topava cão ou porco que lhe matasse a fome.
Andou, andou e nada topou.
Resolveu regressar, mas o caminho era longo e o sol ardia. Abrasado, sentiu o crocodilo que as forças iam faltar-lhe e que, mais passo, ficaria ali para sempre como uma pedra.
Mas o acaso fez que lhe passasse, mesmo à mão e a tempo, um rapaz. Este, condoído, ajudou-o a arrastar-se até à ribeira. O crocodilo ficou-lhe gratíssimo, oferecendo-se para, a partir daquele dia, o levar às costas pelas águas dos rios e do mar.
Certa vez, apertado pela fome e sem cão ou porco que a matasse, decidiu-se a comer o rapaz. Antes, porém, para alívio da consciência, consultou os outros animais sobre se devia ou não comê-lo. Desde a baleia ao macaco todos ralharam muito com ele, acusando-o de ingrato.

Inclinando-se perante a opinião geral, e no receio de que a sua presença passasse, de futuro, a ser mal tolerada, o crocodilo dispôs-se a partir mar fora e a levar consigo o dedicado rapaz por quem, vencida a tentação, sentia amizade quase paternal.
Foi nesta disposição que convidou o rapaz a pular-lhe para as costas.
Fazendo-se, então, ao mar nadou, onda após onda, em demanda das terras onde nasce o sol, convencido de que lá havia de encontrar um disco de oiro semelhante ao outro que o norteava.

Porém quando já cansado de nadar, pensou em dar meia volta e regressar às terras de origem, sentiu que o corpo se lhe imobilizava, rapidamente, em pedra e terra, crescendo, crescendo, até atingir as dimensões de uma ilha.
Caminhou, então, o rapaz sobre o dorso da ilha, rodeou-a com o olhar e chamou-a de Timor que, em língua malaia, quer dizer oriente.”

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

PRECIOSA É A VIDA DADA À MISSÃO

Foi num ambiente de alegria que nos dias 27 e 28 de Setembro de 2008, se celebrou em Santa Catarina (Caldas da Rainha) o encontro nacional de jovens, no âmbito do Centenário da morte de S. Arnaldo Janssen e de S. José Freinademetz, missionário do Verbo Divino, na China.

No encontro, que decorreu sob o lema "Preciosa é a vida dada à missão”, os jovens foram convidados encostarem-se a Cristo, "o verdadeiro rochedo das nossas vidas".Depois de introduzidos na temática do encontro, os participantes foram enviados em missão, visitando os idosos e os doentes de diversas povoações.

A noite de sábado convidou os jovens para um ambiente de vigília, terminando depois num alegre convívio. A parte central do Domingo foi a celebração solene da Eucaristia, com a animação bem particular da gente jovem. Na sua homilia, o presidente da celebração, o Pe. António Leite, referiu-se a Jesus Cristo como Aquele que dinamitou a imagem que S. Paulo tinha de Deus, acentuando a importância do encontro com Ele que transforma a vida e as imagens que fazemos de Deus.

Quantas imagens de Deus que vamos construindo e que precisam de ser dinamitadas no verdadeiro Encontro com Ele! Em diversos momentos da celebração, a nossa oração pelos cristãos perseguidos na Índia, particularmente em Orissa, não poderia deixar de estar presente.É de referir ainda que os jovens foram alojados em casas de família e que se podia notar, apesar do pouco tempo, que a separação da família de acolhimento – tal foi o carinho que puseram – que a separação já custou um pouco.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O Senhor criou tudo quanto quis...(Salmo, 135)

o Senhor criou tudo quanto quis; nos céus e sobre a terra,
nos mares e em todos os abismos,
Faz subir as nuvens das extremidades da terra;
converte os relâmpagos em chuva,
retira os ventos dos seus recervatórios.

DEUS REINA SOBRE A CRIAÇÃO


Dele é o mar, foi Ele quem o criou;
a terra firme é obra das Suas mãos

DESEJO DE ESTAR COM DEUS


O Vosso AMOR é mais prcioso do que a vida,
os meus lábios Vos louvarão.
Quero bendizer-Vos em toda a minha vida,
levantar as minhas mãos em Vosso Nome.
(Salmo 63, 4-5)

segunda-feira, 21 de julho de 2008

CONFIRMAM-SE OS RUMORES: JORNADA DA JUVENTUDE DE 2011 SERÁ EM MADRI


A Espanha já havia acolhido este evento em 1989, em Santiago de Compostela

SYDNEY, domingo, 20 de julho de 2008 (ZENIT.org).- Bento XVI confirmou os rumores: ao final da XXIII Jornada Mundial da Juventude, o Papa marcou o próximo encontro com os jovens do mundo em Madri, no ano de 2011.

«Chega agora o momento de vos dizer adeus, ou melhor, até logo. Agradeço-vos por terem participado na Jornada Mundial da Juventude de 2008, aqui em Sydney, e espero que voltemos a nos ver em três anos», disse o Papa em sua despedida.

«A Jornada Mundial da Juventude de 2001 acontecerá em Madri, na Espanha». Os milhares de espanhóis explodiram em gritos e aplausos, alçando bandeiras vermelhas e amarelas.
«Até este momento…», começou a dizer o Papa, mas teve que para, sorrindo, pois os gritos não cessavam. «Até este momento – continuou –, recebemos uns aos outros, e demos ao mundo um alegre testemunho de Cristo. Que Deus vos abençoe».
A Espanha, na cidade de Santiago de Compostela, já tinha acolhido a Jornada Mundial da Juventude em 1989, presidida por João Paulo II e com a participação de meio milhão de jovens.

Era o terceiro lugar no qual foi celebrado um encontro com essas características, depois de Roma e Buenos Aires.
O arcebispo de Santiago de Compostela era então Dom Antonio María Rouco, que acolherá pela segunda vez uma Jornada Mundial da Juventude, mas agora como cardeal e arcebispo da capital espanhola.

BENTO XVI: ENCONTRO COM JOVENS EM SYDNEY, «UM NOVO PENTECOSTES»


Pede aos católicos de todo o mundo que se unam «espiritualmente» à JMJ

Por Inmaculada Álvarez
CASTEL GANDOLFO, domingo, 6 de julho de 2008 (ZENIT.org).- A próxima Jornada Mundial da Juventude será para toda a Igreja «como um renovado Pentecostes», afirmou hoje o Papa Bento XVI, em sua alocução anterior à oração do Angelus, com os peregrinos reunidos no Pátio interior do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo.
O Papa insistiu em várias ocasiões, antes e depois do Angelus, na importância de que os católicos de todo o mundo se «unam espiritualmente» à JMJ.

«Convido toda a Igreja a sentir-se participante desta nova etapa da grande peregrinação dos jovens através do mundo, iniciada em 1985 pelo Servo de Deus João Paulo II», exortou.
«Estou seguro de que desde todos os extremos da terra os católicos se unirão a mim e aos jovens reunidos, como em um Cenáculo, em Sydney, invocando intensamente o Espírito Santo, para que inunde os corações de luz interior, de amor a Deus e aos irmãos, de valente iniciativa para introduzir a eterna mensagem de Jesus na diversidade de línguas e culturas», acrescentou em outro momento.

Inclusive, nas saudações em diferentes línguas, ao final do encontro, voltou a insistir aos peregrinos na importância desta «participação espiritual» de toda a Igreja em Sydney.
O Papa se referiu ao lema do encontro, «Recebereis a força do Espírito Santo que descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas», sobre o que «já há um ano as comunidades cristãs se preparam» para o grande encontro na Austrália.

«É a promessa que Jesus fez a seus discípulos depois da ressurreição, e que permanece sempre válida e atual na Igreja: o Espírito Santo, esperado e acolhido na oração, infunde nos fiéis a capacidade de ser testemunhas de Jesus e de seu Evangelho».

«Soprando na vela da Igreja, o Espírito divino impulsiona a «remar mar adentro» sempre de novo, de geração em geração, para levar a todos a boa notícia do amor de Deus, revelado plenamente em Cristo Jesus, morto e ressuscitado por nós», acrescentou o Papa.
Bento XVI assegurou que seu pensamento «já está na Austrália», e aproveitou o momento para agradecer a todos os que estão contribuindo nos preparativos, especialmente à Conferência Episcopal australiana e às autoridades civis.

Por último, o Papa fez uma breve reflexão sobre dois dos sinais das Jornadas Mundiais, que sempre estão presentes nestas celebrações: a Cruz dos jovens e o ícone da Virgem.
«Nos meses passados, a “Cruz dos jovens” atravessou toda Oceania, e em Sydney uma vez mais será testemunha silenciosa do pacto de aliança entre o Senhor Jesus Cristo e as novas gerações».
Junto à Cruz, acrescentou o Papa, o «ícone da Virgem Maria acompanha as Jornadas Mundiais da Juventude. A sua maternal proteção confiamos esta viagem à Austrália e o encontro dos jovens em Sydney».

PRESIDIÁRIAS COMPARTILHAM EXPERIÊNCIA DA JMJ

Assim como os jovens peregrinos, elas descobrem a «lectio divina»

Por Anthony Barich
SYDNEY, sábado, 19 de julho de 2008 (ZENIT.org).- Um monge beneditino britânico, Pe. Laurence Freeman, levou a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) a uma prisão feminina de Sydney, dirigindo a antiga forma de meditação cristã típica dos monges, a lectio divina, entre presidiárias.
Antes do início da Jornada, a Cruz da JMJ visitou o Centro Penitenciário de Mulheres de Silverwater Women's Correccional, onde há mulheres que seguem esse estilo de oração há 6 anos.
«Os guardas e as autoridades penitenciárias, segundo o capelão, sublinham que as mulheres que fazem essa meditação demonstram uma melhoria real em seu comportamento e em seu estado geral», explica o Pe. Freeman. A lectio divina consiste na leitura orante da Bíblia.
«Com freqüência, falta um pouco de ânimo, pois muitas detidas ficaram traumatizadas ou sofreram abusos, mas depois de algumas sessões de meditação, produz-se o que São Paulo chama de frutos do Espírito: amor, paz, paciência, autocontrole. São experiências interiores, e não tanto algo que pode ver-se externamente.»
O Pe. Freeman afirma que as detentas «estão recebendo uma autêntica assistência e atenção, assim como uma guia espiritual; e nesse contexto, a meditação consegue ter um significado para elas.»
O beneditino pensou, há alguns meses, que, dado que a JMJ envolveria toda a cidade de Sydney, também as detidas deveriam poder ter a possibilidade de experimentar essa mesma obra do Espírito Santo.
«Nós gostaríamos de ter certeza de que elas entrariam em contato com a Jornada – diz ele, explicando o motivo da visita. Enquanto estávamos aqui sentados, em meditação com elas, sentíamos que estávamos no coração da Igreja, que não está necessariamente onde o Papa e os cardeais se encontram fisicamente, e sim também nos pobres, nos que sofrem, nas pessoas esquecidas.»

Momentos de graça
Os jovens também puderam desfrutar das sessões de meditação, baseadas na espiritualidade beneditina.
«A compreensão cristã da meditação consiste em que o Espírito Santo está vivo no centro do nosso ser, do nosso coração, e ser fortalecidos por isso não é somente algo que vem de fora, mas que desperta nosso interior», diz o Pe. Freeman. «Espero que tanto os peregrinos da JMJ quanto as detentas possam experimentar isso.»
A comunidade de meditação cristã ofereceu sessões aos jovens na igreja de Paddington Uniting, na rua Oxford.
Seguindo o convite de Bento XVI a procurar um tempo para a reflexão durante a euforia da jornada juvenil, o cardeal Geroge Pell, arcebispo de Sydney, afirmou que esse centro de meditação cristã poderia ser precisamente aquilo de que os peregrinos precisam.
«Muitas graças tocarão suas vidas nestes dias – disse o purpurado aos peregrinos, em uma visita ao grupo de meditação. Rezo para que as graças da oração contemplativa toquem também nosso coração e o enriqueçam para o resto de nossas vidas.»
«O tempo passado em silêncio no centro da meditação cristã pode ser um momento para que vocês recebam esta graça.»
O Pe. Freeman reconhece que a lectio divina está vivendo um revival, convertendo-se em uma alternativa à moda da meditação budista.

COMOVENTE PEDIDO DE PERDÃO DO PAPA PELOS ABUSOS SEXUAIS


Testemunhos dos que o ouviram

Por Anthony Barich
SYDNEY, sábado, 19 de julho de 2008 (ZENIT.org).- Os que foram testemunhas do pedido de perdão de Bento XVI às vítimas de abusos sexuais cometidos por sacerdotes não ocultaram sua comoção.

Ao celebrar a Eucaristia, na manhã de hoje, na catedral de Santa Maria, o Papa disse: «Eu estou realmente muito triste pela dor e pelo sofrimento suportados pelas vítimas e lhes asseguro que, como seu Pastor, compartilho o seu sofrimento».
E acrescentou: «Esses delitos, que constituem uma grave traição à confiança, devem ser condenados de forma inequívoca. Eles provocaram uma grande dor e afetaram o testemunho da Igreja» (cf. Zenit, 19 de julho de 2008).
Lorena Portocarrero, de 25 anos, leiga consagrada que esteve na 5ª fila na catedral de Santa Maria quando o Papa pronunciou estas palavras, garantiu à Zenit que não resta a menor dúvida de que ele realmente se sentia mortificado por esses atos perpetrados por outras pessoas.
«Ele parecia realmente compungido e insistiu em que compreende a dor dessas pessoas», afirma Portocarrero, que faz parte da Comunidade Mariana da Reconciliação, em Sydney.
«Ele demonstrou muita humildade e falou de coração – disse. Eu me sentia feliz e triste ao mesmo tempo. Sinto-me contente porque o chefe da Igreja é capaz de pedir perdão às pessoas pelos abusos dos membros da Igreja, que causam dano a pessoas às quais deveriam servir.»
John Paul Escarlan, de 24 anos, estudante no seminário do Espírito Santo em Parramatta (Sydney), considera que as palavras do Papa «são uma forma de recordar que não podemos trair a confiança das pessoas às quais devemos servir».
«O que ele disse me comoveu – admite Escarlan. Ainda que o papa não tenha cometido esses abusos, para mim foi impressionante a humildade que ele nos manifestou.»
«O mais importante que se pode fazer é pedir perdão às vítimas que ficaram feridas por alguém da Igreja», conclui o seminarista.

HOMILIA DO PAPA NA MISSA DE ENCERRAMENTO DA JMJ

SYDNEY, domingo, 20 de julho de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos a homilia de Bento XVI na missa de encerramento da Jornada Mundial da Juventude de Sydney, no hipódromo de Randwick, na manhã deste domingo.

CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA PARA A XXIII JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
HOMILIA DO SANTO PADRE BENTO XVI


Hipódromo de RandwickDomingo, 20 de Julho de 2008

Queridos amigos,
«Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós» (Act 1, 8). Vimos hoje cumprida esta promessa. No dia de Pentecostes, como ouvimos na primeira leitura, o Senhor ressuscitado, sentado à direita do Pai, enviou o Espírito sobre os discípulos reunidos no Cenáculo. Com a força deste Espírito, Pedro e os Apóstolos foram pregar o Evangelho até aos confins da terra. Em cada idade e nas mais diversas línguas, a Igreja continua a proclamar pelo mundo inteiro as maravilhas de Deus, convidando todas as nações e povos a abraçar a fé, a esperança e a nova vida em Cristo.

Nestes dias, vim também eu como Sucessor de Pedro a esta maravilhosa terra da Austrália. Vim para confirmar-vos, meus jovens irmãos e irmãs, na vossa fé e abrir os vossos corações ao poder do Espírito de Cristo e à riqueza dos seus dons. Rezo para que esta grande assembleia, que congrega jovens «de todas as nações que há debaixo do céu» (Act 2, 5), se torne um novo Cenáculo. Que o fogo do amor de Deus desça sobre os vossos corações e os encha, a fim de vos unir cada vez mais ao Senhor e à sua Igreja e enviar-vos, como nova geração de apóstolos, para levar o mundo a Cristo.

«Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós». Estas palavras do Senhor ressuscitado revestem-se de um significado particular para os jovens que vão ser confirmados, marcados com o dom do Espírito Santo, durante esta Santa Missa. Mas, tais palavras são dirigidas também a cada um de nós, isto é, a todos aqueles que receberam o dom do Espírito de reconciliação e da nova vida no Baptismo, que O acolheram nos seus corações como sua força e guia na Confirmação e que crescem diariamente nos seus dons de graça por meio da Sagrada Eucaristia. De facto, em cada Missa o Espírito Santo, invocado na oração solene da Igreja, desce novamente não só para transformar os nossos dons do pão e do vinho no Corpo e no Sangue do Senhor, mas também para transformar as nossas vidas fazendo de nós, com a sua força, «um só corpo e um só espírito em Cristo».

Mas, o que é este «poder» do Espírito Santo? É o poder da vida de Deus. É o poder do mesmo Espírito que pairou sobre as águas na alvorada da criação e que, na plenitude dos tempos, levantou Jesus da morte. É o poder que nos conduz, a nós e ao nosso mundo, para a vinda do Reino de Deus. No Evangelho de hoje, Jesus anuncia que começou uma nova era, na qual o Espírito Santo será derramado sobre a humanidade inteira (cf. Lc 4, 21). Ele próprio, concebido por obra do Espírito Santo e nascido da Virgem Maria, veio habitar entre nós para nos trazer este Espírito. Como fonte da nossa vida nova em Cristo, o Espírito Santo é também, de modo profundamente verdadeiro, a alma da Igreja, o amor que nos une ao Senhor e entre nós e a luz que abre os nossos olhos para verem as maravilhas da graça de Deus ao nosso redor.
Aqui na Austrália, nesta grande «Terra Austral do Espírito Santo», tivemos todos uma inesquecível experiência da presença e da força do Espírito na beleza da natureza. Os nossos olhos abriram-se para contemplar o mundo circundante tal como verdadeiramente é: «repleto – como disse o poeta – da grandeza de Deus», cheio da glória do seu amor criador. Também aqui, nesta grande assembleia de jovens cristãos vindos de todo o mundo, tivemos uma experiência concreta da presença e da força do Espírito na vida da Igreja. Vimos a Igreja na profunda verdade do seu ser: Corpo de Cristo, comunidade viva de amor, que engloba pessoas de toda a raça, nação e língua, de todos os tempos e lugares, na unidade que brota da nossa fé no Senhor ressuscitado.

A força do Espírito não cessa jamais de encher de vida a Igreja. Através da graça dos sacramentos dela, esta força flui também no nosso íntimo como um rio subterrâneo que alimenta o espírito e nos atrai e aproxima cada vez mais da fonte da nossa verdadeira vida, que é Cristo. Santo Inácio de Antioquia, que foi martirizado no início do século II, deixou-nos uma esplêndida descrição desta força do Espírito que habita dentro de nós. Falou do Espírito como de uma nascente de água viva que brotava no seu coração e lhe sussurrava: «Vem, vem para o Pai!» (cf. Aos Romanos 6, 1-9).

No entanto esta força, a graça do Espírito, não é algo que possamos merecer ou conquistar; podemos apenas recebê-la como puro dom. O amor de Deus pode propagar a sua força, somente quando lhe permitimos que nos mude a partir de dentro. Temos de O deixar penetrar na crosta dura da nossa indiferença, do nosso cansaço espiritual, do nosso cego conformismo com o espírito deste nosso tempo. Só então nos será possível consentir-Lhe que acenda a nossa imaginação e plasme os nossos desejos mais profundos. Eis o motivo por que é tão importante a oração: a oração diária, a oração privada no recolhimento dos nossos corações e diante do Santíssimo Sacramento e a oração litúrgica no coração da Igreja. A oração é pura receptividade à graça de Deus, amor em acto, comunhão com o Espírito que habita em nós e nos conduz através de Jesus, na Igreja, ao nosso Pai celeste. Na força do seu Espírito, Jesus está sempre presente nos nossos corações, esperando serenamente que nos acomodemos em silêncio junto d’Ele para ouvir a sua voz, permanecer no seu amor e receber a «força que vem do Alto», uma força que nos habilita a ser sal e luz para o nosso mundo.

Na sua Ascensão, o Senhor ressuscitado disse aos seus discípulos: «Sereis minhas testemunhas (…) até aos confins do mundo» (Act 1, 8). Aqui, na Austrália, damos graças ao Senhor pelo dom da fé que chegou até nós como um tesouro transmitido de geração em geração na comunhão da Igreja. Aqui, na Oceânia, damos graças de modo especial por todos os heróicos missionários, sacerdotes e religiosos diligentes, pais e avós cristãos, professores e catequistas que edificaram a Igreja nestas terras. Testemunhas como a Beata Mary MacKillop, São Peter Chanel, o Beato Peter To Rot e muitos outros. A força do Espírito, que se revelou nas suas vidas, está ainda em acção nas beneméritas iniciativas que deixaram, na sociedade que plasmaram e que agora é entregue a vós.

Amados jovens, permiti que vos ponha agora uma questão. E vós o que é que deixareis à próxima geração? Estais a construir as vossas vidas sobre alicerces firmes, estais a construir algo que há-de durar? Estais a viver a vossa existência de modo a dar espaço ao Espírito no meio dum mundo que quer esquecer Deus ou mesmo rejeitá-Lo em nome de uma falsa noção de liberdade? Como estais a usar os dons que vos foram dados, a «força» que o Espírito Santo está pronto, mesmo agora, a derramar sobre vós? Que herança deixareis aos jovens que virão? Qual será a diferença impressa por vós?

A força do Espírito Santo não se limita a iluminar-nos e a consolar-nos; orienta-nos também para o futuro, para a vinda do Reino de Deus. Que magnífica visão duma humanidade redimida e renovada entrevemos na nova era prometida pelo Evangelho de hoje! São Lucas diz-nos que Jesus Cristo é o cumprimento de todas as promessas de Deus, o Messias que possui em plenitude o Espírito Santo para comunicá-Lo à humanidade inteira. A efusão do Espírito de Cristo sobre a humanidade é um penhor de esperança e de libertação contra tudo aquilo que nos depaupera. Tal efusão dá nova vista ao cego, manda livres os oprimidos, e cria unidade na e com a diversidade (cf. Lc 4, 18-19; Is 61, 1-2). Esta força pode criar um mundo novo, pode «renovar a face da terra» (cf. Sal 104, 30).

Uma nova geração de cristãos, revigorada pelo Espírito e inspirando-se a uma rica visão de fé, é chamada a contribuir para a edificação dum mundo onde a vida seja acolhida, respeitada e cuidada amorosamente, e não rejeitada nem temida como uma ameaça e, consequentemente, destruída. Uma nova era em que o amor não seja ambicioso nem egoísta, mas puro, fiel e sinceramente livre, aberto aos outros, respeitador da sua dignidade, um amor que promova o bem de todos e irradie alegria e beleza. Uma nova era na qual a esperança nos liberte da superficialidade, apatia e egoísmo que mortificam as nossas almas e envenenam as relações humanas. Prezados jovens amigos, o Senhor está a pedir-vos que sejais profetas desta nova era, mensageiros do seu amor, capazes de atrair as pessoas para o Pai e construir um futuro de esperança para toda a humanidade.

O mundo tem necessidade desta renovação. Em muitas das nossas sociedades, ao lado da prosperidade material vai crescendo o deserto espiritual: um vazio interior, um medo indefinível, uma oculta sensação de desespero. Quantos dos nossos contemporâneos escavaram para si mesmos cisternas rotas e vazias (cf. Jer 2, 13) à procura desesperada de sentido, daquele sentido último que só o amor pode dar!? Este é o dom grande e libertador que o Evangelho traz consigo: revela a nossa dignidade de mulheres e homens criados à imagem e semelhança de Deus; revela a sublime vocação da humanidade, que é a de encontrar a própria plenitude no amor; desvenda a verdade sobre o homem, a verdade sobre a vida.

Também a Igreja tem necessidade desta renovação. Precisa da vossa fé, do vosso idealismo e da vossa generosidade, para poder ser sempre jovem no Espírito (cf. Lumen gentium, 4). Na segunda leitura de hoje, o apóstolo Paulo recorda-nos que todo o indivíduo cristão recebeu um dom, que deve ser usado para edificar o Corpo de Cristo. A Igreja tem uma especial necessidade do dom dos jovens, de todos os jovens. Ela precisa de crescer na força do Espírito, que agora mesmo vos enche de alegria a vós, jovens, e vos inspira a servir o Senhor com entusiasmo. Abri o vosso coração a esta força. Dirijo este apelo de forma especial àqueles que o Senhor chama à vida sacerdotal e consagrada. Não tenhais medo de dizer o vosso «sim» a Jesus, de encontrar a vossa alegria na realização da sua vontade, entregando-vos completamente para chegardes à santidade e pondo os vossos talentos a render para o serviço dos outros.

Daqui a pouco celebraremos o sacramento da Confirmação. O Espírito Santo descerá sobre os candidatos; estes serão «marcados» com o dom do Espírito e enviados para ser testemunhas de Cristo. Que significa receber o «selo» do Espírito Santo? Significa ficar indelevelmente marcados, inalteravelmente mudados, significa ser novas criaturas. Para aqueles que receberam este dom, nada mais pode ser como antes. Ser «baptizados» no Espírito significa ser incendiados pelo amor de Deus. «Beber» do Espírito (cf. 1 Cor 12, 13) significa ser refrescado pela beleza do plano de Deus sobre nós e o mundo, e tornar-se por sua vez uma fonte de refrigério para os outros. Ser «selados com o Espírito» significa além disso não ter medo de defender Cristo, deixando que a verdade do Evangelho permeie a nossa maneira de ver, pensar e agir, enquanto trabalhamos para o triunfo da civilização do amor.

Ao elevar a nossa oração pelos confirmandos, pedimos também que a força do Espírito Santo reavive a graça da Confirmação em cada um de nós. Oxalá o Espírito derrame os seus dons em abundância sobre todos os presentes, sobre a cidade de Sidney, sobre esta terra da Austrália e sobre todo o seu povo. Que cada um de nós seja renovado no espírito de sabedoria e de entendimento, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de ciência e de piedade, espírito de santo temor de Deus.
Pela amorosa intercessão de Maria, Mãe da Igreja, que esta 23.ª Jornada Mundial da Juventude seja vivida como um novo Cenáculo, para que todos nós, inflamados no fogo do amor do Espírito Santo, possamos continuar a proclamar o Senhor ressuscitado atraindo para Ele todos os corações. Amen.

Tradução ao português difundida pela Santa Sé
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ZP08071911 - 19-07-2008Permalink: http://www.zenit.org/article-19092?l=portuguese

CONVITE DE DEUS A MARIA


Angelus na Jornada Mundial da Juventude

SYDNEY, domingo, 20 de julho de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos as palavra que Bento XVI pronunciou antes e depois da oração do Angelus, ao meio-dia deste domingo, no hipódromo de Randwick, em Sydney, após a missa de encerramento da JMJ.
ANGELUS
Hipódromo de RandwickDomingo, 20 de Julho de 2008
Prezados jovens amigos,
Preparamo-nos agora para rezar juntos a oração encantadora do Angelus. Nela reflectiremos sobre Maria, jovem mulher em diálogo com o Anjo que, em nome de Deus, A convida a uma particular doação de Si mesma, da sua vida, do seu próprio futuro de mulher e mãe. Podemos imaginar como deveria sentir-Se Maria naquele momento: cheia de trepidação, totalmente baralhada com a perspectiva que Lhe foi apresentada.
O Anjo compreendeu a sua ansiedade e logo procurou tranquilizá-La: «Não tenhas receio, Maria (…). O Espírito Santo virá sobre Ti e a força do Altíssimo estenderá sobre Ti a sua sombra» (Lc 1, 30.35). Foi o Espírito que Lhe deu a força e a coragem para responder ao chamamento do Senhor. Foi o Espírito que A ajudou a compreender o grande mistério que estava para se realizar por meio d’Ela. Foi o Espírito que A envolveu com o seu amor, tornando-A capaz de conceber no seu ventre o Filho de Deus.
Esta cena constitui talvez o momento cardinal na história do relacionamento de Deus com o seu povo. Ao longo do Antigo Testamento, Deus fora-Se revelando de forma parcial mas gradual, como todos fazemos nas nossas relações pessoais. Foi preciso tempo para que o povo eleito aprofundasse a sua relação com Deus. A Aliança com Israel foi uma espécie de período de galanteio, um longo namoro. Chegou depois o momento definitivo, o momento do matrimónio, a realização duma nova e eterna aliança. Naquele momento, Maria, diante do Senhor, representava toda a humanidade: na mensagem do Anjo, era Deus que fazia uma proposta de matrimónio à humanidade; e Maria, em nosso nome, disse sim.
Nas fábulas, a narração termina aqui: e todos, «desde então, viveram felizes e contentes». Na vida real, não é tão fácil… Foram muitas as dificuldades com que Maria Se debateu ao enfrentar as consequências daquele «sim» dito ao Senhor. Simeão profetizou que uma espada haveria de trespassar-Lhe o coração. Quando Jesus tinha doze anos, Ela experimentou os piores íncubos que um progenitor pode viver: durante três dias, teve de aguentar o extravio do Filho. E, depois da actividade pública de Jesus, Ela sofreu a agonia de presenciar a sua crucifixão e morte. Através das várias provações, manteve-Se sempre fiel à sua promessa, sustentada pelo Espírito de fortaleza. E foi por isso mesmo recompensada com a glória.
Queridos jovens, também nós devemos permanecer fiéis ao «sim» com que acolhemos a oferta de amizade feita pelo Senhor. Sabemos que Ele nunca nos abandonará. Sabemos que sempre nos apoiará com os dons do Espírito. A «proposta » do Senhor, Maria acolheu-a em nosso nome. E agora, voltemo-nos para Ela e peçamos-Lhe que nos guie no meio das dificuldades para permanecermos fiéis àquele relacionamento vital que Deus estabeleceu com cada um de nós. Maria é o nosso exemplo e a nossa inspiração. Que Ela interceda por nós junto do seu Filho e, com amor materno, nos proteja dos perigos!

Depois do Angelus

Queridos amigos,
Chegou agora o momento de dizermos «Adeus», ou melhor, «Até à próxima». A todos vos agradeço por terdes participado na Jornada Mundial da Juventude 2008, aqui em Sidney, e espero voltar a ver-vos daqui a três anos. A Jornada Mundial da Juventude de 2011 terá lugar em Madrid, Espanha. Até lá, rezemos uns pelos outros, e prestemos a Cristo o nosso jubiloso testemunho diante do mundo. Que Deus vos abençoe a todos!

Tradução ao português difundida pela Santa Sé
© Copyright 2008 - Libreria Editrice Vaticana