segunda-feira, 6 de outubro de 2008

ARTESANATO

CESTARIA

A cestaria é uma das actividades mais activas em Timor-leste, tanto para comércio, como para uso quotidiano e encontra-se a cargo das mulheres.
Depois de cortada em tiras mais ou menos estreitas conforme os objectos a fazer, a folha de palmeira é entrançada, transformando-se em cestos, caixas, pratos, açafates, cigarreiras, bolsas, entre várias outras coisas. O colorido e a minúcia do desenho são espantosos, por vezes as tiras têm pouco mais de 1mm de largura.
Distinguem-se três tipos de entrançado: diagonal, ortogonal e hexagonal, sendo este último o mais surpreendente nas formas e nos desenhos. Os "katupa" (saquinhos) feitos em folha de coqueiro para cozer o arroz de coco são um exemplo da utilidade da cestaria no dia a dia do timorense, servem de recipiente para conter o arroz durante a cozedura e ao mesmo tempo para o transporte do mesmo em viagem. As timorenses mais idosas sabiam fazer algumas dezenas de formas diferentes destes saquinhos.

O artesanato timorense está muito ligado ao quotidiano, traduzindo-se a grande maioria das peças em representações mais ou menos estilizadas da realidade, as conhecidas casas de sândalo feitas à imagem das casas de Lautém, as figuras de pássaros feitas em chifre de búfalo, o crocodilo da lenda da formação de Timor, os guerreiros, os búfalos e os cavalos de Timor, as corcoras e beiros (barcos de Timor) feitos em casca de tartaruga.

CERÂMICA

A arte cerâmica existe em todas as regiões, mas está mais enraizada nas regiões de Vemasse, Viqueque e Baucau . A matéria-prima é fabricada em partes iguais, com areia da praia e uma argila cinzenta dos socalcos das montanhas. A pasta preparada em pequenas quantidades resulta do amassar cuidadoso e com graus de coesão e rijeza iguais. A tarefa de amassar, trabalhar e cozer o barro cabe às mulheres, nos intervalos das lides domésticas.
O barro é trabalhado do seguinte modo: “É sempre a pá que boleia e a mão esquerda que sustenta o artefacto, em volta do punho e do ante-braço. Só quando se acha quase finalizado e que se torna necessário dar-lhe os últimos retoques de perfeição é que, por um impulso brusco, o sólido toma um movimento rápido de rotação, e a mão direita segurando um pequeno cavaco raspa e tira, aqui e ali, excessos de matéria-prima e nivela deformações.”
Os objectos são cozidos num forno em que o fogo e os primeiros são cobertos com largas folhas de palmeira e bananeira, previamente secas pela acção do lume, que formam um tecto, conservando o calor por um longo período de tempo. A decoração é quase inexistente, limitando-se a maior parte das vezes a um simples cordão ondulante à volta dos bordos.

OURIVESARIA

Os ourives fabricam vários tipos de adornos, como pulseiras, anéis, luas, pequenas caixas de prata e utilizam, para a sua confecção, antigas moedas de prata ou de ouro derretidas.
O processo de fabrico das jóias é o seguinte: o metal, colocado num cadinho de barro, é derretido num fogareiro coberto de brasas, sendo em seguida, mergulhado em água, e depois trabalhado sobre um espigão de ferro, com auxílio dum pequeno martelo.
Os dourados são conseguidos com fricções, concomitantes, de sumo de limão e uma mistura de carvão com substâncias metálicas, extraídas duma determinada pedra.
O ourives Bahadhem-Muraq usa, além de algumas ferramentas compradas no comércio chinês, as seguintes na fabricação local e, portanto, rudimentares: uma broca, uma plaina, um instrumento para calibrar a prata em diversas secções, e um pequeno fole.

MÚSICA E DANÇAS TRADICIONAIS

A música de Timor-Leste reflecte o contexto geográfico, cultural e social local, pelo que possibilita a percepção de elementos distintamente autóctones, mas também de influências de outras culturas musicais, como a ocidental, fruto da colonização portuguesa.

Música e dança interligam-se nos géneros tradicionais timorenses, sendo elementos fundamentais da expressão cultural. Do repertório tocado, constam quatro géneros bem definidos: tebe, tebedai, dansa e cansaun. Todos se baseiam na tradição oral e foram passando de geração em geração.
O tebe, palavra em tétum que, literalmente, significa dançar, é um género tradicionalmente executado em todas as casas de Timor-Leste ao anoitecer, em festas de carácter animista (estilu), durante a época das colheitas ou, ainda, na abertura de uma casa sagrada (uma lulik). É uma dança em roda ou em meia-lua, composta por uma ou mais melodias, com variações e sem acompanhamento instrumental, executada por elementos femininos e masculinos, entrelaçados alternadamente. O círculo ou a meia-lua alarga-se ou concentra-se, enquanto os dançarinos saltam batendo, ritmadamente e entusiasticamente, os pés no chão em determinadas sílabas. Trata-se de um género que se destina a ser executado como um diálogo entre dois interlocutores (independentemente do sexo), implicando uma estrutura musical do estilo pergunta-resposta.

Também uma dança, o tebedai é comum a toda a ilha de Timor, embora com variações, consoante a zona onde é executado. É um género exclusivamente rítmico, onde os elementos femininos tocam os babadok e os dadir com ou sem movimentos corporais. É composta, geralmente, por dois motivos rítmicos, repetidos alternadamente tantas vezes quantas desejadas. Por vezes, o tebedai feminino é acompanhado pelo bidu masculino, realizado por um ou mais homens que se movem, livremente, à frente, ao lado ou atrás das mulheres, erguendo a espada e emitindo gritos guerreiros.
Por outro lado, o género dansa classifica uma dança em que o movimento coreográfico não é realizado em roda ou meia-lua. A melodia é acompanhada pelas violas, dentro dos parâmetros de harmonia tonal, reflectindo assim o processo de assimilação da tradição musical ocidental. É um género mais recente, que se foi difundindo pelo território e foi sendo adaptado para exprimir, sobretudo, actividades do quotidiano, como por exemplo a debulha do arroz ou a apanha do camarão (suru boek). A forma mais difundida de dansa é a likurai, realizada por mulheres para, tradicionalmente, dar as boas-vindas aos homens regressados da guerra. Elas usavam o babadok (um pequeno tambor) e, por vezes, carregavam cabeças de inimigos em procissão através da aldeia. Na sua versão actual, a likurai é usada pelas mulheres no namoro.

Finalmente, a cansaun deve ser entendida como uma melodia com acompanhamento instrumental. Esta classificação é atribuída às canções populares executadas em Timor-Leste, já com influências ocidentais, embora possa, também, designar as canções tradicionais que não são dançadas. Esta denominação é, igualmente, aplicada às melodias originais acompanhadas, compostas por timorenses com textos originais em tétum ou português, ou a melodias ocidentais a que foi adaptado um texto em tétum.
Os instrumentos musicais, os trajes e os objectos de adorno desempenham, do mesmo modo, um papel relevante na performance musical. Dos primeiros, salientam-se o babadok e o dadir (também dadil, gong ou gon).

O babadok é um pequeno tambor de corpo cónico de madeira, com cerca de 30 a 50 centímetros de comprimento e de cerca de 15 centímetros de diâmetro, em geral tocado pelos elementos femininos que o percutem, alternadamente, com ambas as mãos.
O dadir é um círculo de metal de, aproximadamente, 25 centímetros de diâmetro, que é percutido com uma baqueta de madeira, de altura indefinida e sem possibilidade de afinação. À semelhança do babadok, é também um instrumento tocado pelos elementos femininos.

No repertório musical executado surgem, ainda, as violas e as flautas de bisel soprano, instrumentos ocidentais introduzidos na performance timorense.
No que concerne aos trajes, compõem-se de tais mane e tais feto. Os homens colocam um lenço na cabeça sobre o qual aplicam a kaibauk, lua de metal com aplicações de pequenas lágrimas e espigas, sendo a maior e mais ornamentada pertença do liurai, chefe ou rei tradicional timorense. A surik, espada guerreira, e o belak, disco de metal suspenso ao peito, completam o traje dos homens. As mulheres usam a kaibauk, além da ulum suku, para prender os cabelos, e do sasuit, pente de dentes largos. Geralmente, usam o mortene ao peito, colar feito de materiais diversos, e à cintura um pano branco. Por fim, a lokum ou kelui, uma pulseira de metal usada pelos homens no braço e pelas mulheres no antebraço. Todos os elementos actuam descalços e com uma salenda, xaile fabricado com o mesmo tipo de pano artesanal dos tais, colocada nos ombros.

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