segunda-feira, 6 de outubro de 2008

ASPECTOS RELATIVOS AO QUOTIDIANO

DIA-A-DIA E POSTOS DE TRABALHO

Como conta a Sra. Elvira Neves, o dia-a-dia da população timorense é bastante semelhante ao da população portuguesa, os mais novos vão para a escola e os adultos rumam em direcção aos seus postos de trabalho que, no tempo da colonização, remetiam, essencialmente, para cargos na Administração Pública Portuguesa, para o comércio chinês, em que os timorenses eram, simples, empregados e para a agricultura caseira.

Actualmente, os postos de trabalho compreendem os cargos inerentes à hierarquia do Governo, à função pública e ao comércio, mas a grande maioria da população encontra-se desempregada, não tendo, portanto, meios de subsistência. Por outro lado, as rotinas diárias encontram-se interrompidas, devido aos conflitos armados que têm tido lugar e que levaram muita gente a abandonar as suas casas, dirigindo-se essencialmente, para Baucau e para as montanhas.

EDIFÍCIOS

Segundo conta a Sra. Elvira Neves, durante a Administração portuguesa os edifícios existentes compreendiam as habitações, o hospital, o liceu, a escola primária, a igreja, o Palácio das Repartições (que continha o palácio do governo e as restantes repartições), as associações dos clubes de futebol, Benfica, Sporting e Académica para as elites, e União, um clube de timorenses que pretendiam lutar pela libertação de Timor, os quais desencadearam a revolta de 1959.
Actualmente, os edifícios existentes são as habitações, as escolas, as igrejas, o edifício da UNTAET, os hotéis, as embaixadas, o hospital e a sede do governo.

MEIOS DE TRANSPORTE

O pequeno cavalo de Timor é o animal de transporte e de carga, por excelência, pois é o que melhor se adapta ao relevo acidentado da ilha.
No que se refere às deslocações diárias, os autóctones deslocam-se, essencialmente a pé, de bicicleta ou de mota. Já existem carros, mas a sua utilização ainda não está muito difundida.

AQUECIMENTO

Nas palavras da Sra. Elvira Neves os pobres aqueciam-se com lenha e os que tinham mais posses utilizavam o carvão. Todavia, em Timor a necessidade de aquecimento não é muito grande, devido ao clima tropical, em que a época fria é mais quente do que a Primavera em Portugal.

HIGIENE

Antigamente, para tomar banho, os nativos punham água numa selha e depois com a caneca é que tomavam banho, o chamado banho de gato, normalmente com água fria. A água também podia ser aquecida, nos lalean – fogareiro timorense formado por três pedras dispostas em triângulo. No meio põe-se a lenha e faz-se a fogueira, depois do fogo ateado põe-se a panela de ferro ou barro.
Lavavam-se com sabão azul e branco, de fabrico próprio e para pôr a roupa branca usavam cinza.
Actualmente, já existe água canalizada, mas nem todos têm acesso, pelo que utilizam o método acima referido.


TEMPOS LIVRES

A população timorense ocupa os seus tempos livres praticando pesca marinha (camarão e algas), à noite, e a contar histórias dos antepassados, ao luar, histórias maioritariamente verídicas.

EDUCAÇÃO

Segundo conta a Sra. Elvira Neves haviam escolas públicas e missões católicas espalhadas por todas as províncias de Timor-leste. As últimas tinham capacidade para mais alunos e funcionavam em regime de internato, só em Dili é que o regime era de externato.

“A maior parte dos timorenses foram instruídos por missões católicas, tanto os rapazes – colégios dos padres – como as raparigas – colégios das madres. Não eram mistos. A escola pública – uma escola primária e um liceu – só existia em Dili, mas era mista e havia muitos pais que não gostavam. As missões católicas tinham até ao 12º ano do liceu, mas só para quem estivesse vocacionado para a vida religiosa. Muitos estudantes chegavam ao fim do liceu e diziam que não queriam seguir a vida religiosa.
O ensino nas missões católicas era muito melhor do que na escola pública, mas o exame final de 4ª classe era feito na escola pública em Dili.”
“Só ia à escola quem vivia perto da escola, porque não havia meios de transporte.” Contudo, “todas as mães timorenses analfabetas nasceram com a noção de que só o estudo faz a pessoa avançar na vida. Há pais timorenses que chegam ao ponto de dar os filhos a outras pessoas, como criados, só para os filhos poderem estudar.” As crianças são baptizadas pelas famílias a quem são entregues e ajudam nas tarefas domésticas, tendo os padrinhos o compromisso de as inscrever na escola, pelo menos até à 4ª classe. “Depois os pais vão buscá-los outra vez.”
Hoje em dia, as missões católicas mantêm-se, mas a escola pública está mais difundida. A principal particularidade dos tempos que correm, em Timor-Leste, é o facto de todos os alunos terem de pagar propinas, independentemente, dos pais terem trabalho ou não, segundo conta a Sra. Rosa da Rosa. Os estudantes que pretendam seguir o ensino universitário emigram, normalmente para Portugal, Indonésia ou para a Austrália.


DOENÇAS

As principais doenças passíveis de contrair em Timor são a malária, por causa dos mosquitos e do clima e a elefantíase, devido às águas estagnadas.


GASTRONOMIA

A base da alimentação do povo timorense é o arroz branco, cozinhado, apenas, com sal e tendo, como acompanhamento modo fila (hortaliça frita/ virada).
Segundo informações da Sra. Elvira Neves, os pratos tradicionais são o tukir (cuja tradução é fazer no bambú) e o arroz katupa (arroz de coco cozido em saquinhos feitos de folhas de coqueiro). O tukir é preparado com cabrito, designadamente a parte das costelas e a espinha, tudo cortado aos pedacinhos. Tempera-se com sal, pimenta, alho, cebola, picante e tamarindo e deixa-se amarinar até ao outro dia. Antes de colocar a carne na panela, polvilha-se o fundo desta com erva-doce. Depois, coloca-se a carne e deixa-se cozer em lume brando, sem acrescentar água, no caso de se cozinhar em casa. Caso se esteja num piquenique, procura-se um bambú de largo diâmetro e coloca-se a carne lá dentro, sem tirar o que está no interior do bambu, pois é isso que vai permitir que a carne seja cozida dentro do bambu. Roda-se o bambú em cima de uma fogueira até este ficar negro, momento em que a refeição está pronta. Daí a designação de cozer no bambu – receita fornecida pela Sra. Cecília Agostinho.

Todos os outros pratos têm influências chinesas e indianas, como o chau mi, o caril, o sarabulho, o midar sin, o sasati, o van tan, o coi bandeira. Os pratos timorenses têm a especificidade de serem bastante condimentados.

INSTRUMENTOS DE DEFESA

A população timorense utiliza como armas de defesa a pedra, a fisga, a catana e, mais recentemente, devido aos constantes conflitos armados, armas automáticas. Todavia, a tradicional arma do timorense é a catana, que o acompanha para todo o lado, quer para fins de defesa pessoal, quer para fins laborais, pois “quando vai passear, ao passar por um sítio, pode surgir alguém que lhe encomende um trabalho e, então, a catana está sempre consigo. Se ele chegar a casa e encontrar a mulher com outro, corta a cabeça dela, porque ela é que o traiu.” (Sra. Elvira Neves)

A realização do presente trabalho revelou-se deveras importante, uma vez que permitiu a aquisição de conhecimentos sobre a cultura de origem das suas autoras, nomeadamente aspectos que ambas desconheciam.
Por outro lado, considera-se de extrema importância conhecer-se os antepassados e a evolução de que o povo timorense foi alvo até aos dias de hoje, os dias que são mais familiares à juventude timorense.

Completado o percurso proposto e cumprido o objectivo delineado, conclui-se que a cultura timorense é bastante rica no que se refere a rituais, valores, crenças, o que se depreende através da emoção demonstrada pelos sujeitos entrevistados, enquanto falavam sobre Timor e recordavam os momentos lá passados, uma vez que se tratam, na sua totalidade, de pessoas que abandonaram a sua terra natal, aquando da guerra. Por outro lado, a emoção revelada pelas pessoas entrevistadas denota a interiorização da cultura timorense e a importância conferida à mesma, facto que se considera, extremamente, importante, numa época de desenvolvimento tecnológico constante que, como que anula as raízes das diferentes culturas, tornando importante, apenas, as aquisições materiais do momento, aspecto que se verifica, essencialmente, nos países ocidentais.

Finalmente, a realização do presente trabalho despertou o interesse para a elaboração de um documento que reúna a essência da cultura timorense, desde a sua evolução histórica às especificidades das línguas e dialectos falados em todo o território. Um documento que reúna as informações patentes em várias obras já editadas e, ainda, informações fornecidas pela população timorense compreendida nas faixas etárias superiores – pois as histórias contadas pelos anciãos são, sempre, repletas de ensinamentos, recordações – e que se possa tornar num legado para as gerações vindouras.

(O tabalho foi realizado pela Faviola Alixo e Ma. Mendes, estudantes do Curso de Serviço Social da Univercidade Católica Portuguesa de Lisboa, disciplina Antropologia Cultural de ano de 2006)

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