segunda-feira, 6 de outubro de 2008

FAMÍLIA

A família é o pilar a partir do qual se edifica toda a estrutura social timorense.
Segundo a Sra. Elvira Neves, na cultura timorense, as pessoas denominam-se de família chegada até à quinta geração. “Desde que exista laço de sangue é família. Depois há a família constituída por laços de casamento.” As famílias timorenses são, na sua grande maioria, bastante numerosas, atingindo mesmo os doze filhos, antigamente. Para alguns casais, designadamente para os que abandonaram o país durante a ocupação indonésia, o elevado número de filhos prende-se com a renovação das gerações, a fim de substituir os conterrâneos que padeceram a lutar pela liberdade, como afirmava Luciano Aleixo.
No que se refere à hierarquia familiar, sempre se afirmou o patriarcado, com a excepção de algumas regiões, como o Suai, onde predomina o matriarcado, nomeadamente, uma cultura mais recente – o neo-matriarcal.


CASAMENTO

O modo de constituição de família é o casamento.
Nas palavras da Sra. Elvira Neves “o pedido de casamento é uma tradição, é obrigatório, é uma grande festa e engloba o dote (barlaque). Para quem tem a educação portuguesa, o pedido de casamento segue-se do casamento; para quem só tem a educação timorense, no pedido de casamento, os pais do noivo dão, aos pais da noiva, aquilo que estes pediram para entregar a sua filha e o casamento está celebrado. É o barlaque, que pode ser traduzido, mais ou menos, como a compra da mulher.”
O casamento constitui o mais importante compromisso assumido, ao longo da vida, possuindo um complexo código de direitos e deveres que visam dificultar a sua dissolução. A família do noivo oferece um valioso dote em rezes, oiro e panos à família da noiva, em compensação pela perca de um elemento activo, sendo este acto a base e esteio do casamento. O dote funciona, em última análise, como garantia do bom comportamento dos cônjuges. A esposa pode abandonar o lar em caso de violência doméstica e ao marido é permitido repudiar a primeira, se esta lhe for infiel, exigindo da família da última a devolução do barlaque.

Verificam-se, ainda, outras particularidades da cultura timorense, designadamente o levirato (união do irmão do morto com a viúva), a fim de evitar que a mulher abandone o agregado familiar e leve consigo os filhos, valiosa mão-de-obra, e o facto de, no caso dos pais não concordarem com a união dos jovens enamorados, estes fugirem, pressupondo a perda da honra (virgindade) da rapariga, momento em que aos olhos dos pais desta, o casamento se revela obrigatório. Hoje em dia, a prática do levirato encontra-se, praticamente, extinta.

A sociedade timorense admite a poligamia, considerada sinal de nobreza e distinção, pois o homem casado com várias esposas é considerado rico, uma vez que teve posses para pagar mais do que um dote, fazendo da poligamia usufruto dos privilegiados, os datós e os liurais. Porém, este costume desapareceu nas regiões onde o catolicismo exerce influência, o que corresponde a quase toda a ilha.
É, ainda, de referir que, antigamente, até à idade de casar os rapazes quase não tinham responsabilidades, gozando de uma vida livre, geralmente, fora da casa paterna. Já as raparigas casadoiras (oân fetorá) ajudavam as mães nas tarefas domésticas, não lhes sendo permitido abandonar o lar, ainda que usufruíssem de plena liberdade sexual. A livre escolha de noivo ou noiva era limitada por regras precisas, cujo objectivo era manter as riquezas, em dotes, dentro de uma determinada região, ou mesmo entre dois clãs familiares.

SISTEMA POLÍTICO E CLASSES SOCIAIS

Tradicionalmente, o sistema vigente vinculava-se à civilização hindu, uma das culturas mais ricas que existiu e que se difundiu, por meio de grandes potentados javaneses, e cuja formulação se deve aos povos belos.

A organização social timorense pressupunha uma sociedade feudal. No topo da hierarquia encontravam-se os chefes nativos (liurai), seguindo-se a nobreza, o povo e, na base da pirâmide social, os escravos, prisioneiros de guerra ou gente comprada.
O soberano administrava as terras dos seus domínios, através de uma complexa rede hierárquica. Por intermédio de nobres da sua confiança, transmitia as suas ordens aos chefes de cada suco (de suko, em malaio, que significa clã). Os chefes de suco e os régulos eram seleccionados entre a nobreza, formando uma poderosa e rica classe dirigente, detentora da autoridade, da justiça e, por atribuição sobrenatural, senhora da terra. Certos régulos importantes, considerando-se descendentes directos de entidades divinas, intitulavam-se Maromac ôan (filhos de Deus).

A eleição dos liurais, pelos seus semelhantes, os datós e “principais” (familiares) residia numa única condição: a descendência de famílias reais pelo lado paterno e materno. Estes podiam contrair matrimónio com mulheres do seu povo, mas um dos casamentos tinha de ser com filha de outro régulo, pois somente da descendência desta união se poderia eleger novo chefe.

O povo (ema) sustentava a classe privilegiada, prestando trabalho gratuito, pagando impostos e executando diversas obrigações, entre as quais arrotear, limpar, semear e colher as plantações dos seus senhores, guardar e levar os rebanhos às pastagens, presenteá-los com e géneros alimentícios, assegurar as rações diárias de tabaco e masca. Ao povo era permitido cultivar a terra, mediante o pagamento de um imposto, o rai-ten.

Na base da sociedade viviam os escravos, prisioneiros de guerra (lutuhum) ou gente comprada (atu). Antigamente, o povo vencedor das razias entre reinos e sucos era presenteado de escravos, mas sendo pouco rígida, a escravatura permitia aos servos tornarem-se livres.

Após as revoltas dos nativos, a administração iniciou uma política de desmantelamento da organização tradicional, tendo os nativos poderosos, rapidamente, perdido grande parte da sua fortuna, prestígio e autoridade. Os plebeus já não prestam serviço gratuito aos chefes e, caso o façam são recompensados com banquetes e festas. Já não se cobram impostos e os presentes aos liurais limitam-se a ofertas simbólicas de cestos de arroz e milho, aquando das primeiras colheitas.

Proibida e perseguida a escravatura, a classe dos lutuhum encontra-se extinta. Porém, ainda hoje subsiste a recordação desses tempos, quando os timorenses (nativos com mistura de raças) se injuriam, chamando-se “filhos de escravos”, tratamento considerado profundamente ofensivo, por lembrar uma ascendência vergonhosa.

Todavia, ainda se encontra, em remotos locais de Timor, principalmente nas montanhas, vestígios de um outro sistema político, um sistema com características democráticas, em que o chefe eleito é, apenas, um primus inter pares, geralmente um ancião, com poder limitado pelo consenso geral e sem possibilidade de sucessão hereditária.

Estes dois sistemas coexistiam, embora com supremacia do primeiro.
Importa, ainda, referir que durante a época colonial, toda a ilha de Timor se encontrava sob o domínio do Governador Provincial que, por sua vez, era orientado pelo Governador-geral, com sede em Moçambique.
Hoje em dia, Timor-leste é um país independente, sendo governado segundo os moldes do sistema político democrático.

LÍNGUAS EM TIMOR LESTE

Timor apresenta uma grande diversidade linguística, proveniente das antigas guerras internas e das consequentes integrações de subgrupos noutros grupos étnico-linguísticos, verificando-se essa diversidade linguística em todo o território timorense, sem distinção entre loro sae e loro monu. Assim, segundo o Sr. Vianey da Cruz, Timor possui trinta e dois dialectos, dentre eles o Baiqueno, o Galóli, o Tocodede, o Habo, e seis línguas que são o Tétum, o Macassai, o Fataluco, o Bunak, o Mambae e o Quemak. Os dialectos são específicos de pequenas zonas ou de regiões, sendo que, numa mesma zona, se fala um dialecto e uma língua. O dialecto é utilizado para comunicar com as pessoas da mesma zona e a língua para comunicar com os que não partilham do mesmo dialecto.

Actualmente, o tétum é a língua com maior expressão em Timor-Leste, devido à sua utilização enquanto língua franca. O tétum é uma língua da família austronésica, ou malaio-polinésia, que parece originária da Formosa e, talvez também, do sul da China continental. Existem duas variantes do tétum, como se verá a seguir.
O primeiro tétum, o tétum-térique, já se havia estabelecido como língua franca antes da chegada dos portugueses, aparentemente, em consequência da conquista da parte oriental da ilha pelo império dos Belos e, da necessidade de um instrumento de comunicação comum para as trocas comerciais. Com a chegada dos portugueses, o tétum adopta vocábulos portugueses e malaios, principalmente designações que o seu léxico não continha, tornando-se uma língua crioula e simplificada, pois os verbos deixaram de ser conjugados – nasce o tétum-praça.

Apesar do tétum-praça possuir variações regionais e sociais, hoje, o seu uso é alargado, sendo compreendido por quase toda a população timorense, pelo que foi adoptado como "língua oficial", com a designação de Tétum Oficial.
Durante o domínio português, quer na administração, quer no sistema de ensino, era usada exclusivamente a língua portuguesa, embora coexistindo, no dia-a-dia, com o tétum e outras línguas.

Todavia, com a anexação do território pela Indonésia, o uso do português foi proibido, impondo-se o bahasa da Indonésia, língua até então desconhecida no território. Durante 24 anos, toda uma geração de timorenses cresceu e foi educada nesta língua. O português sobreviveu, no entanto, como língua de resistência, usada pela Fretilin nas suas comunicações internas e no contacto com o exterior. Este uso do português, muito mais do que do tétum, conferiu-lhe uma enorme carga simbólica.
Com o fim da ocupação e a independência de Timor-Leste, a 20 de Maio de 2002, as novas autoridades do país fizeram questão de recuperar o idioma da antiga potência administrante, reconhecendo a Constituição o estatuto de "língua oficial"ao português, ao lado do tétum.
Para os timorenses mais idosos, o bahasa é, negativamente, conotado com o regime repressivo de Suharto mas, por outro lado, muitos jovens têm-se mostrado adversos à reintrodução do português, visto como "língua colonial".

Conclusão

A realização do presente trabalho revelou-se deveras importante, uma vez que permitiu a aquisição de conhecimentos sobre a cultura de origem das suas autoras, nomeadamente aspectos que ambas desconheciam.

Por outro lado, considera-se de extrema importância conhecer-se os antepassados e a evolução de que o povo timorense foi alvo até aos dias de hoje, os dias que são mais familiares à juventude timorense.

Completado o percurso proposto e cumprido o objectivo delineado, conclui-se que a cultura timorense é bastante rica no que se refere a rituais, valores, crenças, o que se depreende através da emoção demonstrada pelos sujeitos entrevistados, enquanto falavam sobre Timor e recordavam os momentos lá passados, uma vez que se tratam, na sua totalidade, de pessoas que abandonaram a sua terra natal, aquando da guerra. Por outro lado, a emoção revelada pelas pessoas entrevistadas denota a interiorização da cultura timorense e a importância conferida à mesma, facto que se considera, extremamente, importante, numa época de desenvolvimento tecnológico constante que, como que anula as raízes das diferentes culturas, tornando importante, apenas, as aquisições materiais do momento, aspecto que se verifica, essencialmente, nos países ocidentais.

Finalmente, a realização do presente trabalho despertou o interesse para a elaboração de um documento que reúna a essência da cultura timorense, desde a sua evolução histórica às especificidades das línguas e dialectos falados em todo o território. Um documento que reúna as informações patentes em várias obras já editadas e, ainda, informações fornecidas pela população timorense compreendida nas faixas etárias superiores – pois as histórias contadas pelos anciãos são, sempre, repletas de ensinamentos, recordações – e que se possa tornar num legado para as gerações vindouras.
(trabalho realizado por Ma. Mendes e Faviola, estudante de Univercidade Católica Portuguesa de Lisboa- disciplina de Antropologia Cultural do ano de 2006)

LOCALIZAÇÃO DE TIMOR

2.1.LOCALIZAÇÃO OBJECTIVA

Timor situa-se no Sudeste Asiático, a 850º a Sul e 12 555º a Este, a Noroeste da Austrália, nas Ilhas Lesser Sunda, e a Este do Arquipélago Indonésio, sendo a mais oriental das pequenas ilhas do arquipélago de Sunda.
Politicamente, a ilha está dividida em duas partes: a ocidental (loro monu), território indonésio, com uma superfície de 19 000 km2 e cerca de 605 000 habitantes, com Kupang por capital; e a parte leste (loro sae), ex-colónia portuguesa, com 18 900 km2 de superfície e com capital em Dili.
O presente documento debruça-se sobre a parte leste da ilha, Timor-Leste, que inclui a metade Este da ilha de Timor, a região de Oecussi (Ambeno) na porção Noroeste da ilha de Timor, e as ilhas de Pulau Atauro e Pulau Jaco.


2.2.LOCALIZAÇÃO SIMBÓLICA

Segundo a Sra. Elvira Neves, Timor situa-se “perto da Austrália e de Singapura, por mar. Por terra a ilha só tem ligação com a Indonésia”.
Sente saudades, nasceu e cresceu em Timor. Pensa numa hipótese de lá voltar, mas apenas de visita, “pois a terra não está boa, continuam as guerras.” “Tenho medo de lá voltar, porque assisti a uma guerra em Angola e não quero voltar a começar tudo de novo. As consequências de uma guerra são muito graves. Tão cedo não estou para aí virada, principalmente, porque com esta idade, os familiares directos já não existem, nem os sítios que são familiares, porque foi tudo mudado durante o governo indonésio, as estradas onde passei…”


3.HISTÓRIA

A ilha de Timor constitui pólo de atracção para os comerciantes desde o século XIII, devido à abundância de sândalo, mel e cera, atraindo, então, comerciantes chineses e malaios. A formação do comércio local esteve na origem de casamentos com famílias reais locais, contribuindo para a diversidade étnico-cultural.
Os portugueses foram atraídos pelos recursos naturais de Timor em 1512, trazendo, em 1561, missionários que difundiram a religião católica, actualmente predominante. A chegada do primeiro governador português, no início do século XVIII, marcou o início da organização colonial do território, criando-se o Timor Português. Em 1914, a Sentença Arbitral assinada entre Portugal e a Holanda pôs termo aos conflitos entre os dois países colonizadores, fixando as fronteiras que hoje dividem a ilha.
Importa, ainda, referir que, segundo conta a Sra. Elvira Neves, a colonização de Timor pelos portugueses não foi pacífica, uma vez que a população autóctone sempre reivindicou a sua liberdade. A colonização de Timor pelos portugueses deu-se, completamente, com a chegada dos landins (indivíduos de origem moçambicana, levados pelos portugueses, a fim de ajudar a controlar o povo), que desposaram jovens raparigas timorenses, ou seja, através da união entre famílias.
Durante a Segunda Guerra Mundial, os Aliados (Austrália e Holanda) envolveram-se numa dura guerra contra as forças japonesas, em Timor, tendo algumas dezenas de milhar de timorenses dado a vida lutando ao lado dos Aliados. Quando os japoneses se renderam, em 1945, a soberania de Timor voltou, automaticamente, à Administração Portuguesa.

A 28 de Novembro de 1975, após uma breve guerra civil, a República Democrática de Timor-Leste foi proclamada. Contudo, apenas uns dias mais tarde, a 7 de Dezembro de 1975, a nova nação foi invadida pela Indonésia que a ocupou durante os 24 anos seguintes.

A 30 de Agosto de 1999 os timorenses votaram, com esmagadora maioria, pela independência, pondo fim a 24 anos de ocupação indonésia, na sequência de um referendo promovido pelas Nações Unidas. Em Abril de 2001, foram realizadas novas eleições, visando a eleição do novo líder do país, tendo Xanana Gusmão sido consagrado o novo presidente timorense. Assim, a 20 de Maio de 2002 as Nações Unidas entregaram o poder ao primeiro Governo Constitucional de Timor-Leste, tornando-se o país, totalmente, independente.


4.DENSIDADE POPULACIONAL
Em 1950 Timor contava com uma densidade de vinte e três habitantes por quilómetro quadrado e, vinte e cinco anos depois, em 1975, o total de habitantes da ilha era de 740 000. Já em 2003 a população de Timor-Leste rondava os 0.778 indivíduos, número que reflecte os vinte e quatro anos de guerra pela auto-determinação.
Actualmente, a população terá aumentado, sendo o número de 740 000 habitantes avançado na última edição da Revista FOCUS. Todavia, devido aos últimos acontecimentos, constata-se que a população de Timor-Leste está a diminuir, uma vez que já existem vítimas mortais, resultantes dos conflitos que se têm verificado na ilha.


5.CLIMA
A altitude é o elemento que influencia as variações de clima, pelo que apresenta-se homogéneo quanto à temperatura e, assaz, contrastante relativamente à precipitação, podendo afirmar-se que a ilha constitui um “mosaico de microclimas”. Este panorama, comprovado pela vegetação, apresenta, todavia, tendências minimamente definidas para que se possam determinar especificidades ao nível meteorológico, principalmente devido à situação geográfica de Timor, a sua orientação frente aos ventos dominantes e ao relevo insular.

A influência das monções regista-se, por seu lado, em duas estações: a primeira, decorrente de Novembro a Março, corresponde à monção de noroeste, caracterizada por chuvas abundantes em toda a Ilha; a segunda, correspondente à monção de sueste (australiana) faz-se sentir de Junho a Outubro, sendo a estação seca dos ventos frescos, apenas entrecortada na costa sul e, no início da estação, por chuvas de origem local. Entre ambas estabelecem-se períodos de transição com características comuns a cada uma delas.

As zonas em questão, tendo em conta as características referidas, reflectem-se na vegetação, constituindo regiões naturais, designadamente a:
 Zona quente e seca da costa norte – do litoral a 600 m. de altitude: temperatura média anual de 27º; precipitações anuais circunscritas, especialmente, aos meses que decorrem entre Dezembro e Abril e variando, conforme as localidades, entre 500 mm. e 1100 mm;

Zona quente e húmida da costa sul – do litoral a 600 m. de altitude: temperatura média anual de 26º, precipitações anuais restritas, principalmente, aos meses de Novembro e Julho e variando conforme as localidades, entre 1200 mm. e 2500 mm;

Zona temperada de meia montanha – de 600 m. a 1200 m. de altitude: temperatura média anual ou superior a 24º; precipitações anuais localizadas, essencialmente, nos meses de Outubro a Julho e variando, conforme as localidades, entre 1600 mm. e 3000 mm;

Zona fria de montanha – a partir de 1200 m. de altitude: temperatura média anual igual ou inferior a 18º; precipitação anual de 3000 mm. mais uniformemente distribuída, mas com um mês de precipitação inferior a 60 mm., pelo menos.

6. RECURSOS

6.1.ACTIVIDADES ECONÓMICAS DE SUBSISTÊNCIA E DE EXPLORAÇÃO

Os recursos de Timor-leste correspondem, por ordem de importância, a recursos de natureza agrícola, pecuária e mineral, consistindo as actividades económicas do povo, normalmente, em actividades económicas de subsistência e actividades económicas de exploração. As primeiras englobam a agricultura, a horticultura, a colheita de frutos, o pastoreio e a criação de animais e as segundas correspondem, consoante as regiões, à exploração do café, da copra ou do tabaco e de minério.
As condições agrícolas estão, integralmente, sujeitas ao clima, especialmente, à pluviosidade, demarcando-se as regiões agrícolas por zonas em que a pluviosidade permite ambientes próprios às necessidades ecológicas e das culturas. Porém, a insularidade e a multiplicação de microclimas derivados dos acidentes orográficos permitem que, à excepção de certas culturas com exigências mais definidas, como a batata e o café, predomine, em toda a ilha, a associação artificial.

A técnica de pousio é a mais utilizada, especialmente no leste, sendo os terrenos cultivados durante dois anos e permanecendo em pousio durante os dez anos seguintes.
Quando a organização tradicional do povo timorense se mantinha, praticamente, inalterada, existiram grandes hortas comunais, cujo produto das colheitas era dividido por todos. Depois da guerra as autoridades portuguesas exerceram pressão, no sentido de serem exploradas hortas individuais, porém os resultados revelaram-se decepcionantes, tendo a produção diminuído, consideravelmente. Pode-se, então, afirmar que a agricultura comporta um cariz primitivo, mostrando-se os nativos reticentes quanto ao uso de métodos que não os das suas tradições agrícolas. Os instrumentos agrícolas utilizados são, essencialmente, a alavanca grande (1,5 m) e pequena (1 m), ferros pontiagudos nas sachas e mondas, a picareta, a enxada (comprada no comércio local) e uma pequena faca para limpeza das ervas das hortas.
Nas hortas encontra-se o taro (Colocasia escubenta), os inhames, plantas de origem local e plantas de importação mais ou menos remota, como sejam o arroz, o milho, o feijão, a batata-doce, a mandioca, o alho, a cebola, o tomate, a soja, o grão, o ricíno, o tabaco e algumas cucurbitáceas. Existem, ainda, fruteiras várias, como a laranjeira, o limoeiro, a bananeira, a papaieira, o coqueiro, jamboeiro, arequeira, fruta-pão, jaqueira, ananaseiro, goiabeira, pungueira, ayata (fruta pinha). Os condimentos ocupam lugar cativo, destacando-se o betel, a pimenta brava e o açafrão da terra (Curcuma longa). Nas regiões elevadas, sobretudo no centro e oeste da Ilha, é frequente cada núcleo familiar de cabanas possuir o seu cafezal.

Embora de carácter florestal, importa referir a série significativa de madeiras com aplicação em todos os ramos de construção civil ligeira e pesada: ai-béssi (Inhia bijuga), ai-ná (Pierocarpus indicus), ai-seria (Cedrela toona), ai-maras (Pometia pinnata). Também, o bambu e as rotas (Calamus rotang) são utilizados na confecção de vários artefactos, sendo ainda de mencionar certas árvores e arbustos produtores de tintas, como Morinda tinctria, Peltophorum ferrugineum e Indigofera hirsuta.
No que se refere ao reino animal, o búfalo deve ser considerado em primeiro lugar, pelo papel que desempenha na economia autóctone – o búfalo é símbolo de riqueza e prestígio, sendo utilizado em ocasiões importantes da vida do povo. Já os gados caprino, ovino e suíno são fundamentais na economia de subsistência, constituindo a base da alimentação em dias vulgares, tal como as aves de capoeira, estando o gado bovino a incrementar-se.

Por seu lado, a pesca, que poderia fornecer grande parte da alimentação de que o timorense mais necessita, é apenas praticada por populações reduzidas da beira-mar e utiliza processos muito elementares: a arpoação do peixe nos baixios e praias do litoral, a caça submarina praticada pelos naturais da ilha de Ataúro e a pesca à rede e de armadilha.

Nas praias de pequena profundidade, pratica-se a pescaria em grandes cercos e, quando a maré vasa, o peixe, detido nos corais pelo abaixamento das águas, é facilmente arpoado ou apanhado a rede. A pesca de armadilha é realizada com grandes cestos cilíndricos, tecidos de rota e bambo, que têm no fundo uma abertura circular, e são lançados ao longo do litoral. Os cestos ficam presos ao fundo do mar por pesadas pedras e são referenciados a um ponto conhecido.

As pescas nas ribeiras são de carácter colectivo, intervindo quase toda a população válida do aldeamento, homens, mulheres e crianças. Em Oecussi utilizam-se dois métodos, um na época das chuvas e outro durante a estação seca. No primeiro caso, quando a ribeira tem muita água, alguns pescadores vão à foz desobstruir a saída das águas, e estas baixam de nível, iniciando-se a pesca imediatamente. O outro método consiste em colocar estacaria, atravessando a ribeira em dois pontos, não muito afastados. Assim, impede-se a fuga do peixe, que é facilmente arpoado ou apanhado à rede. As mulheres utilizam o nere, uma rede cónica presa, na base, a uma cana dobrada em forma de círculo que, por sua vez, se liga a uma vara de bambú flexível. Os homens empregam uma rede maior e chumbada – tife-cai - de forma circular. Estes redes são lançadas em locais onde os homens têm pé e, depois de aprisionarem o peixe, são puxadas para terra.

A caça submarina, praticada pelos nativos de ilha Ataúro, conta com dois instrumentos de fabrico próprio, os óculos de madeira com orifícios de mica e a fisga, munida de um arpão comprido de ferro, utilizado para perseguir as suas presas, a nado, durante horas.
No que se refere aos produtos de extracção mineral, os mais significativos são o sal e o ouro, sendo que aldeias existem que se dedicam, exclusivamente, à indústria do sal, comercializando-o nos mercados do interior. Enquanto produtos de extracção mineral contam-se, ainda, a cromite, o manganês, o cobre e o petróleo.
Finalmente, os mercados desempenham um papel polarizador e estimulante das actividades económicas nativas.

6.2.ÁGUA

Segundo conta a Sra. Elvira Neves, o sistema de distribuição de água canalizada encontra-se implantado nas cidades, como por exemplo Dili e Baucau, mas fora das cidades a água é obtida através de poços artesanais, mais especificamente, perfurações.

6.3.COMBUSTÍVEIS

Os combustíveis, inicialmente, existentes eram o carvão e o petróleo, o gás entrou muito tarde, bem como a electricidade, que surgiu por volta de 1965.
Foi, recentemente, iniciada a exploração de petróleo, por uma companhia petrolífera australiana e por outra companhia italiana. Actualmente, nas palavras da Sra. Imaculada Cruz, o gás natural de Timor abastece toda a Austrália, e a electricidade funciona como um cartão Multibanco, que deve ser carregado na Central Eléctrica, mas os geradores perdem potência inúmeras vezes, segundo o Sr. Carlos Agostinho.

ORIGEM DOS REINOS

“Uma velha lenda relacionada com a origem de antigos reinos conta que…

… um dia, quatro tribos habitantes da Península de Malaca se fizeram ao mar em grandes e sólidas jangadas de bambu, em demanda de novas terras a oriente. Durante a segunda jornada de viagem grande tempestade se formou; os emigrantes creram ver na porcela um acto do próprio Deus que lhes ordenava o regresso a suas terras, em busca dos mochos sagrados esquecidos, por descuido, nos templos. Reparada a falta, mal as aves foram encarrapitadas nos mastros das embarcações estas adquiriram grande velocidade deslizando, suavemente, num mar tranquilo.

Dias passados, por alturas de Macassar, nova tormenta se levantou destroçando as jangadas e arremessando os navegantes para as praias da ilha. Apesar de bem recebidos pela população local, os sobreviventes não quiseram aí permanecer: a ideia de prosseguir viagem atormentava-os. Num novo veleiro construído em Macassar arribaram a Flores, onde parte dos homens e mulheres da tripulação, seduzidos pelos encantos da terra, resolveu estabelecer-se. O grupo principal continuou viagem até vir a atingir, finalmente, Timor, por alturas do reino de Amatung.

Cedo, duras lutas se travaram entre os recém-chegados e os insulares, os Melus, povos primitivos e guerreiros, conseguindo os primeiros infligir pesadas derrotas e conquistar muitas terras aos nativos. Três das tribos invasoras, cujos chefes eram irmãos, haviam trazido de Malaca três plantas que foram colocadas nos locais onde cada tribo primeiro acampou. Os nomes destas árvores – ai hali, ai hico e ai timo – deram origem aos reinos de Uai-Hali, Uai-Hico e Hai-Timo; a quarta tribo ocupou a região de Fatu Aruim.

Com o decorrer do tempo o reino de Uai-Hali alcançou grande prestígio e hegemonia entre os povos vizinhos. Aos seus reis, que se intitulavam Filhos de Deus (Maromac-oan) atribuíram-se poderes sobrenaturais; a eles dirigiam os povos as suas preces.”

Formação da Ilha de Timor Leste

MITO DO CROCODILO

“Em Macassar, na ilha dos Celébes, vivia um crocodilo…. Isto passou-se muito antes dos tempos que já lá vão. Velho, sem velocidade para os peixes da ribeira, não teve outro recurso senão pôs pé no seco e aventurar-se terras adentro e ver se topava cão ou porco que lhe matasse a fome.
Andou, andou e nada topou.
Resolveu regressar, mas o caminho era longo e o sol ardia. Abrasado, sentiu o crocodilo que as forças iam faltar-lhe e que, mais passo, ficaria ali para sempre como uma pedra.
Mas o acaso fez que lhe passasse, mesmo à mão e a tempo, um rapaz. Este, condoído, ajudou-o a arrastar-se até à ribeira. O crocodilo ficou-lhe gratíssimo, oferecendo-se para, a partir daquele dia, o levar às costas pelas águas dos rios e do mar.
Certa vez, apertado pela fome e sem cão ou porco que a matasse, decidiu-se a comer o rapaz. Antes, porém, para alívio da consciência, consultou os outros animais sobre se devia ou não comê-lo. Desde a baleia ao macaco todos ralharam muito com ele, acusando-o de ingrato.

Inclinando-se perante a opinião geral, e no receio de que a sua presença passasse, de futuro, a ser mal tolerada, o crocodilo dispôs-se a partir mar fora e a levar consigo o dedicado rapaz por quem, vencida a tentação, sentia amizade quase paternal.
Foi nesta disposição que convidou o rapaz a pular-lhe para as costas.
Fazendo-se, então, ao mar nadou, onda após onda, em demanda das terras onde nasce o sol, convencido de que lá havia de encontrar um disco de oiro semelhante ao outro que o norteava.

Porém quando já cansado de nadar, pensou em dar meia volta e regressar às terras de origem, sentiu que o corpo se lhe imobilizava, rapidamente, em pedra e terra, crescendo, crescendo, até atingir as dimensões de uma ilha.
Caminhou, então, o rapaz sobre o dorso da ilha, rodeou-a com o olhar e chamou-a de Timor que, em língua malaia, quer dizer oriente.”

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

PRECIOSA É A VIDA DADA À MISSÃO

Foi num ambiente de alegria que nos dias 27 e 28 de Setembro de 2008, se celebrou em Santa Catarina (Caldas da Rainha) o encontro nacional de jovens, no âmbito do Centenário da morte de S. Arnaldo Janssen e de S. José Freinademetz, missionário do Verbo Divino, na China.

No encontro, que decorreu sob o lema "Preciosa é a vida dada à missão”, os jovens foram convidados encostarem-se a Cristo, "o verdadeiro rochedo das nossas vidas".Depois de introduzidos na temática do encontro, os participantes foram enviados em missão, visitando os idosos e os doentes de diversas povoações.

A noite de sábado convidou os jovens para um ambiente de vigília, terminando depois num alegre convívio. A parte central do Domingo foi a celebração solene da Eucaristia, com a animação bem particular da gente jovem. Na sua homilia, o presidente da celebração, o Pe. António Leite, referiu-se a Jesus Cristo como Aquele que dinamitou a imagem que S. Paulo tinha de Deus, acentuando a importância do encontro com Ele que transforma a vida e as imagens que fazemos de Deus.

Quantas imagens de Deus que vamos construindo e que precisam de ser dinamitadas no verdadeiro Encontro com Ele! Em diversos momentos da celebração, a nossa oração pelos cristãos perseguidos na Índia, particularmente em Orissa, não poderia deixar de estar presente.É de referir ainda que os jovens foram alojados em casas de família e que se podia notar, apesar do pouco tempo, que a separação da família de acolhimento – tal foi o carinho que puseram – que a separação já custou um pouco.