sábado, 15 de março de 2008

SEGUNDA-FEIRA SANTA: JESUS EM BETÂNIA

Ontem recordámos a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém. A multidão dos discípulos e outras pessoas aclamaram-no como Messias e Rei de Israel. No fim do dia, cansado, voltou a Betânia, aldeia situada muito próximo da capital, onde costumava alojar-se nas suas visitas a Jerusalém.Ali, uma família amiga tinha sempre disponível um lugar para Ele e para os seus. Lázaro, a quem Jesus ressuscitou dos mortos, é o chefe da família; vivem com ele Marta e Maria, suas irmãs, que esperam cheias de entusiasmo a chegada do Mestre, contentes por poder oferecer-lhe os seus serviços.Nos últimos dias da sua vida na terra, Jesus passa longas horas em Jerusalém, dedicado a uma pregação intensíssima. À noite, recupera as forças em casa dos seus amigos. E em Betânia tem lugar um episódio recolhido pelo Evangelho da Missa de hoje.Seis dias antes da Páscoa – relata São João –, foi Jesus a Betânia. Ali lhe ofereceram uma ceia; Marta servia e Lázaro era um dos que estavam com Ele à mesa. Maria tomou então uma libra de perfume de nardo autêntico, muito caro, ungiu os pés de Jesus com ele e enxugou-os com os seus cabelos, e a casa encheu-se com a fragrância do perfume.Imediatamente salta à vista a generosidade desta mulher. Deseja manifestar o seu agradecimento ao Mestre, por ter devolvido a vida ao seu irmão e por tantos outros bens recebidos, e não repara em gastos. Judas, presente na cena, calcula exactamente o preço do perfume.Mas, em vez de louvar a delicadeza de Maria, entregou-se à crítica: por que não se vendeu este perfume por trezentos denários para dá-los aos pobres? Na realidade, como faz notar São João, não lhe importavam os pobres; interessava-lhe ter acesso ao dinheiro da bolsa e furtar o seu conteúdo.«Mas Jesus faz uma avaliação muito diferente», escreve João Paulo II. «sem nada tirar ao dever da caridade para com os necessitados, aos quais sempre se hão-de dedicar os discípulos – «Pobres, sempre os tereis convosco» –, Ele pensa no momento já próximo da sua morte e sepultura, considerando a unção que Lhe foi feita como uma antecipação daquelas honras de que continuará a ser digno o seu corpo mesmo depois da morte, porque indissoluvelmente ligado ao mistério da sua pessoa.» (Ecclesia de Eucharistia, 47).

Para ser verdadeira virtude, a caridade deve estar ordenada. E o primeiro lugar é de Deus: amarás ao Senhor teu Deus com todo o teu coração e com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é como este: amarás o teu próximo como a ti mesmo.Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas. Por isso, equivocam-se os que – com a desculpa de aliviar as necessidades materiais dos homens – se desentendem das necessidades da Igreja e dos ministros sagrados. Escreve São Josemaria Escrivá: «aquela mulher que, em casa de Simão o leproso, em Betânia, unge com rico perfume a cabeça do Mestre, recorda-nos o dever de sermos magnânimos no culto de Deus.– Todo o luxo, majestade e beleza me parecem pouco.– E contra os que atacam a riqueza dos vasos sagrados, paramentos e retábulos, ouve-se o louvor de Jesus: "Opus enim bonum operata est in me" - uma boa obra fez para comigo.– uma boa obra foi feita comigo».Quantas pessoas se comportam como Judas! Vêem o bem que fazem outros, mas não querem reconhecê-lo: empenham-se em descobrir intenções torcidas, tendem a criticar, a murmurar, a fazer juízos temerários. Reduzem a caridade ao puramente material – dar umas moedas ao necessitado, talvez para tranquilizar a sua consciência – e esquecem que – como escreve também São Josemaria Escrivá – «a caridade cristã não se limita a socorrer o necessitado de bens económicos; leva-nos, antes de mais nada, a respeitar e a defender cada indivíduo enquanto tal, na sua intrínseca dignidade de homem e de filho do Criador.».A Virgem Maria entregou-se completamente ao Senhor e esteve sempre preocupada com os homens. Hoje pedimos-lhe que interceda por nós, para que, nas nossas vidas, o amor a Deus e o amor ao próximo se unam numa só coisa, como as duas faces de uma mesma moeda.

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