quarta-feira, 30 de julho de 2014
quinta-feira, 1 de maio de 2014
DISCURSO DE DESPEDIDA DOS ESTAGIÁRIOS POLÍCIA JUDICIÁRIA
Exmo. Senhor Diretor da Polícia
Judiciária de Lisboa, Dr. Carlos Farinha,
Exmo. Senhor Diretor do Departamento
de Toxicologia da Polícia Judiciária de Lisboa, Dr. João Rodrigues,
Exma. Senhora Diretora de
Escola da Polícia Judiciária de Loures, Dra. Carla Faloa e todos os professores
e as professoras da mesma.
Todo o começo tem um fim. E
todo o fim é um novo começo. É um ciclo imparável em todos os aspetos da nossa
vida.
O grande poeta, Fernando
Pessoa, escreveu: “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na
intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas
inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
Intenso. Inexplicável.
Incomparável. Assim foi esse tempo que eu próprio e os meus quatro colegas;
João Henriques de Deus, Azevedo António da Costa Belo, Domingos Franklin Soares
e António Miguel da Costa, sentimos da nossa estadia aqui em Portugal. Foi
um período de tempo em que descobrimos, aprendemos, convivemos, sorrimos… , juntamente
com os funcionários e professores vivemos intensamente muitos momentos alegres,
produtivos, positivos e inesquecíveis. Momentos esses que, acreditamos, permanecerão
nas nossas memórias e nas nossas vidas, como uma marca muito profunda nos
nossos corações.
Do fundo do nosso coração,
queremos agradecer, em primeiro lugar, a Deus, pela sua graça que nos
acompanhou ao longo destes três meses do nosso estágio.
Em seguida, agradecemos ao
Estado Português que nos apoiou e continua a apoiar o desenvolvimento do nosso
país, Timor Leste.
À Direção da Polícia
Judiciária, obrigado pelo vosso acolhimento, pela vossa paciência, pelos vossos
sacrifícios por nós, os cinco, ao longo destes meses do nosso estágio.
Gostaríamos de enfatizar que
este momento não é um momento de tristeza porque nos despedimos. Não; este é um
momento de reflexão, de aceitação e de um novo desafio, de olharmos para a frente.
Não devíamos entristecer-nos
porque as coisas acabaram, mas sim, agradecermos porque elas existiram. Aliás,
nada acabou aqui; muito pelo contrário. Este é tão-somente o começo, o ponto de
partida para continuarmos a nossa missão no nosso querido país, Timor Leste.
Chegou a nossa hora de
mostrar serviços em Timor, o que recebemos aqui em Portugal. Chegou a hora e a
vez de mostrar o nosso orgulho por termos feito o nosso estágio neste país
amigo, Portugal. O que sentimos neste momento é um momento de orgulho, um
acontecimento feliz e inesquecível, abrilhantado por momentos de profunda
alegria e grandes esperanças para o futuro do nosso país.
Neste momento também
queremos pedir desculpa a todos pelas nossas incompreensões, pelas nossas
atitudes que provocaram algum desgosto da vossa parte. Mais uma vez
“DESCULPEM”.
“Obrigado, a todos por estes
três meses maravilhosos – pelas valiosas lições que aprendemos. Embora estejamos
separados pela distância, nada vai diminuir o vosso importante papel que
tiveram nas nossas vidas”…
Obrigado, Senhoras e Senhores. Não diremos adeus, mas sim, um “até qualquer dia!”
Bem Hajam e Muito Obrigado!.
Lisboa,
30.04.2014
sábado, 12 de abril de 2014
DOMINGO DE RAMOS
O Domingo de Ramos abre solenemente
a Semana Santa. Relembramos e celebramos a entrada triunfal de Jesus
Cristo em Jerusalém, poucos dias antes de
sofrer a Paixão, Morte e Ressurreição.
Domingo de Ramos é chamado assim porque o
povo cortou ramos de árvores, ramagens e folhas de palmeiras para cobrir o chão
onde Jesus Cristo passava montado num jumento.
Com folhas de palmeiras nas mãos, o povo
o aclamava “Rei dos Judeus”, “Hosana ao Filho de Davi”, “Salve o Messias”… E
assim, Jesus entra triunfante em Jerusalém despertando nos sacerdotes e mestres
da lei muita inveja, desconfiança, medo de perder o poder.
Começa então uma trama para condenar
Jesus à morrer na cruz no Domingo de Ramos. O povo o aclama cheio de
alegria e esperança, pois Jesus Cristo como o profeta de Nazaré da Galiléia, o
Messias, o Libertador, certamente para eles, iria libertá-los da escravidão
política e econômica imposta cruelmente pelos romanos naquela época e,
religiosa que massacrava a todos com rigores excessivos e absurdos.
Mas, essa mesma multidão, poucos dias
depois, manipulada pelas autoridades religiosas, o acusaria Jesus de impostor,
de blasfemador, de falso messias. E incitada pelos sacerdotes e mestres da lei,
exigiria de Pôncio Pilatos, governador romano da província, que o condenasse à
morte.
Por isso, na celebração do Domingo de
Ramos, proclamamos dois evangelhos: o primeiro, que narra a entrada festiva de
Jesus em Jerusalém fortemente aclamado pelo povo; depois o Evangelho da Paixão
de Nosso Senhor Jesus Cristo, onde são relatados os acontecimentos do
julgamento de Cristo.
Julgamento injusto com testemunhas
compradas e com o firme propósito de condená-lo à morte. Antes porém, da sua
condenação, Jesus passa por humilhações, cusparadas, bofetadas, é chicoteado
impiedosamente por chicotes romanos que produziam no supliciado, profundos
cortes com grande perda de sangue. Só depois de tudo isso que, com palavras é
impossível descrever o que Jesus passou por amor a nós, é que Ele foi condenado
à morte, pregado numa cruz.
O Domingo de Ramos pode ser chamado
também de “Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor”, nele, a liturgia nos
relembra e nos convida a celebrar esses acontecimentos da vida de Jesus que se
entregou ao Pai como Vítima Perfeita e sem mancha para nos salvar da escravidão
do pecado e da morte.
Crer nos acontecimentos da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso
Senhor Jesus Cristo, é crer no mistério central da nossa fé, é crer na vida que
vence a morte, é vencer o mal, é também ressuscitar com Cristo e, com Ele Vivo
e Vitorioso viver eternamente. É proclamar, como nos diz São Paulo: ‘“Jesus Cristo é o Senhor”, para a glória de
Deus Pai’
(Filipenses l:2,11).
(Filipenses l:2,11).
terça-feira, 25 de fevereiro de 2014
"A alegria do Evangelho"
Exortação Apostólica do Papa Francisco,
"A alegria do Evangelho"
ENCONTRO
O documento nasce
de uma reflexão sobre “a nova evangelização para a transmissão da fé cristã”,
portanto, sobre o anúncio do Evangelho hoje. Mas o Papa destaca que
tal anúncio só é possível quando surge de um encontro: “Não
me cansarei de repetir estas palavras de Bento XVI que nos levam ao
centro do Evangelho: ‘Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma
grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma
Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo’”.
(n. 7). Esse é o “manancial da ação evangelizadora”, segundo o Papa Francisco.
“Se alguém acolheu esse amor que lhe devolve o sentido da vida, como pode
conter o desejo de comunicá-lo aos outros?” (n. 8).
Portanto, seja na
sua origem, seja também no seu desdobrar-se, a ação evangelizadora mantém seu
vigor nesse encontro: não se trata de uma “heroica tarefa pessoal”, ou seja,
solitária, mas sim de uma “obra de Deus”, um anúncio que nasce e se mantém como
encontro com esse grande “Outro”. “Jesus é ‘o primeiro e o maior
evangelizador’. Em qualquer forma de evangelização, o primado é sempre de Deus”
(n. 12). E Deus é sempre um “Outro” que nos surpreende, que se manifesta pela “liberdade
incontrolável da Palavra, que é eficaz a seu modo e sob formas tão
variadas que muitas vezes nos escapam, superando as nossas previsões e quebrando
os nossos esquemas” (n. 22).
Por outro lado, o
anúncio do Evangelho se faz sempre no encontro com os diversos “outros”, pois,
de acordo com o papa, todo o povo de Deus anuncia o Evangelho. O papa
Francisco deseja uma “Igreja ‘em saída’”, que vá ao encontro dos diversos
“outros”, pois “ninguém se salva sozinho, isto é, nem como indivíduo isolado,
nem por suas próprias forças. Deus nos atrai, no respeito da complexa trama de
relações interpessoais que a vida numa comunidade humana supõe” (n. 113).
Dentro dessa
trama de relações, três “outros” principais ganham seu destaque no horizonte
de Francisco expresso na Evangelii gaudium. Em primeiro
lugar, o pobre. Diz o papa: “Hoje e sempre, ‘os pobres são
os destinatários privilegiados do Evangelho’, e a evangelização dirigida
gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem
rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os
deixemos jamais sozinhos!” (n. 48). “Por isso – continua o papa, repetindo sua
frase já célebre –, desejo uma Igreja pobre para os pobres. Estes têm
muito para nos ensinar” (n. 198). Embora nem sempre os cristãos conseguem manifestar
a beleza do Evangelho, “há um sinal que nunca deve faltar: a opção pelos
últimos, por aqueles que a sociedade descarta e joga fora” (n. 195). E mais: “É
necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é
um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas, e a colocá-los no
centro do caminho da Igreja” (n. 198).
DIÁLOGO
Para Francisco,
o diálogo “é muito mais do que a comunicação de uma verdade. Realiza-se pelo
prazer de falar e pelo bem concreto que se comunica através das palavras entre
aqueles que se amam. É um bem que não consiste em coisas, mas nas próprias pessoas
que mutuamente se dão no diálogo” (n. 142). Por isso, em um anúncio “respeitoso
e amável” do Evangelho, o papa afirma que “o primeiro momento é um diálogo
pessoal, no qual a outra pessoa se exprime e partilha as suas alegrias, as suas
esperanças, as preocupações com os seus entes queridos e muitas coisas que
enchem o coração. Só depois dessa conversa é que se pode apresentar-lhe a
Palavra” (n. 128).
Francisco também
destaca duas grandes modalidades de diálogo. Um primeiro diálogo necessário
é intraeclesial. Como exemplo concreto e até mesmo litúrgico, o
papa faz uma longa reflexão sobre a homilia (nn. 135-159), que é justamente uma
retomada do “diálogo que já está estabelecido entre o Senhor e o seu povo” (n.
137). Para o papa, a pregação de todo discípulo missionário deve partir
primeiramente da vivência pessoal de diálogo com o Senhor: “Quem quiser pregar,
deve primeiro estar disposto a deixar-se tocar pela Palavra e fazê-la carne na
sua vida concreta” (n. 150).
E também é
preciso preparação, pois “um pregador que não se prepara não é ‘espiritual’: é
desonesto e irresponsável quanto aos dons que recebeu” (n. 145). Essa
preparação começa na escuta. A “arte de escutar (...) é mais do que ouvir.
Escutar, na comunicação com o outro, é a capacidade do coração que torna
possível a proximidade, sem a qual não existe um verdadeiro encontro
espiritual” (n. 171). Por isso, o pregador deve pôr-se à escuta do povo, para
descobrir aquilo que os fiéis precisam de ouvir. “Um pregador é um
contemplativo da Palavra e também um contemplativo do povo” (n. 154).
Outro diálogo
essencial é extraeclesial, pois “o compromisso evangelizador se
move por entre as limitações da linguagem e das circunstâncias” (n 45). “Nos
diferentes povos, que experimentam o dom de Deus segundo a própria cultura –
afirma Francisco –, a Igreja exprime a sua genuína catolicidade e
mostra ‘a beleza deste rosto pluriforme’” (n. 116). A cultura e os diferentes
povos, portanto, como um grande interlocutor da comunidade cristã, também “são
sujeitos coletivos ativos, agentes da evangelização” (n. 122).
Nesse sentido, a
diversidade cultural é um dom e “não ameaça a unidade da Igreja” (n. 117), pois
“uma única cultura não esgota o mistério da redenção de Cristo” (n. 118).
Por isso, Francisco critica aqueles que “sonham com uma doutrina monolítica
defendida sem nuances por todos”, pois a variedade “ajuda a manifestar e
desenvolver melhor os diversos aspectos da riqueza inesgotável do Evangelho”
(n. 40). “A expressão da verdade pode ser multiforme”, relembra Francisco,
citando João Paulo II. “Não podemos pretender que todos os povos dos
vários continentes, ao exprimir a fé cristã, imitem as modalidades adotadas
pelos povos europeus num determinado momento da história, porque a fé não se
pode confinar dentro dos limites de compreensão e expressão de uma cultura” (n.
118). Daí a importância da evangelização entendida como inculturação: “Pode-se
dizer que ‘o povo se evangeliza continuamente a si mesmo’” (n. 122).
Em
suma, Francisco quer uma Igreja “em saída”, uma Igreja com as portas
abertas: “A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. Um dos sinais
concretos desta abertura é ter, por todo o lado, igrejas com as portas abertas”
(n. 47), abertas aos diversos “outros” do mundo. E a verdadeira abertura,
segundo o papa, é “conservar-se firme nas próprias convicções mais profundas,
com uma identidade clara e feliz, mas ‘disponível para compreender as do outro’
e ‘sabendo que o diálogo pode enriquecer a ambos’” (n. 251).
ANÚNCIO
Para além do
encontro e do diálogo, os cristãos têm o dever de anunciar o
Evangelho “sem excluir ninguém, e não como quem impõe uma nova obrigação, mas
como quem partilha uma alegria, indica um horizonte estupendo, oferece um
banquete apetecível. A Igreja não cresce por proselitismo, mas ‘por atração’”
(n. 14). Por outro lado, também, “todos devemos deixar que os outros nos
evangelizem constantemente” (n. 121), pois “a Igreja não evangeliza se não se
deixa continuamente evangelizar” (n. 174).
E evangelizar é
“tornar o Reino de Deus presente no mundo” (n. 176), é “amar a Deus, que reina no
mundo” (n. 180).
Nesse sentido, do
ponto de vista da evangelização, afirma Francisco, “não servem as
propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e missionário,
nem os discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que
transforme o coração” (n. 262). O anúncio do Evangelho leva ao “amor fraterno,
ao serviço humilde e generoso, à justiça, à misericórdia para com o pobre” (n.
194), como Jesus ensinou. “Na medida em que Ele conseguir reinar
entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz, de
dignidade para todos. Por isso, tanto o anúncio como a experiência cristã
tendem a provocar consequências sociais” (n. 180).
O anúncio,
portanto, por assim dizer, deve ser encarnado, pois “as obras de amor ao
próximo são a manifestação externa mais perfeita da graça interior do
Espírito”. E, com relação ao agir exterior, “a misericórdia é a maior de todas
as virtudes” (n. 37).
Depois de
delinear, enfim, um horizonte bastante amplo da ação evangelizadora da Igreja,
o papa reconhece os limites e os riscos possíveis ao se tentar encarnar o
“estilo evangelizador” (n. 18) em todas as atividades da Igreja.
Mas Francisco não aceita desculpas esfarrapadas diante dos desafios
da evangelização: “A pastoral em chave missionária exige o abandono deste
cômodo critério pastoral: ‘sempre se fez assim’” (n. 33). “A nossa imperfeição
não deve ser desculpa; pelo contrário, a missão é um estímulo constante para
não nos acomodarmos na mediocridade e para continuar crescendo” (n. 121). “Não
digamos que hoje é mais difícil. É diferente” (n. 263).
Também é preciso
abandonar os sonhos com “planos apostólicos expansionistas, meticulosos e bem
traçados, típicos de generais derrotados” (n. 96). O importante é tentar, é o
que o papa parece dizer. “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por
ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade
de se agarrar às próprias seguranças” (n. 49).
E a própria
história de Igreja “é gloriosa por ser história de sacrifícios, de esperança,
de luta diária, de vida gasta no serviço, de constância no trabalho fadigoso,
porque todo o trabalho é ‘suor do nosso rosto’” (n. 96). Por isso, a ação
evangelizadora, na sua tensão encontro-diálogo-anúncio, é tentativa: “O abrir-se
ao outro tem algo de artesanal, a paz é artesanal” (n. 244).
Entretanto, “se eu consigo ajudar uma só pessoa a viver melhor, isso já
justifica o dom da minha vida” (n. 274).
No fundo, o
verdadeiro sonho de Francisco é “com uma opção missionária capaz de transformar
tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a
estrutura eclesial se tornem um canal adequado para a evangelização do mundo
atual mais do que à auto preservação” (n. 27). Para isso, é preciso “acreditar
na força revolucionária da ternura e do afeto” (n. 288), como fez Maria,
“Mãe da Igreja evangelizadora”, que soube até “transformar um curral de animais
na casa de Jesus” (n. 286). Mas essa força não surge por causa dos nossos
esforços pessoais. Essa força vem do Espírito Santo: só ele pode “renovar,
sacudir, impelir a Igreja em uma decidida saída para fora de si mesma a fim de
evangelizar todos os povos” (n. 261).
sábado, 8 de fevereiro de 2014
Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2014
Mensagem do Papa Francisco para
a Quaresma 2014
Terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Terça-feira, 4 de fevereiro de 2014
Boletim da Santa Sé
Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor
8,9)
Queridos irmãos e irmãs!
Por ocasião da Quaresma, ofereço-vos algumas reflexões com a
esperança de que possam servir para o caminho pessoal e comunitário de
conversão. Como motivo inspirador tomei a seguinte frase de São Paulo: «
Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez
pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza » (2 Cor 8,9). O Apóstolo
escreve aos cristãos de Corinto encorajando-os a serem generosos na ajuda aos
fiéis de Jerusalém que passam necessidade. A nós, cristãos de hoje, que nos
dizem estas palavras de São Paulo? Que nos diz, hoje, a nós, o convite à
pobreza, a uma vida pobre em sentido evangélico?
1. A graça de Cristo
Tais palavras dizem-nos, antes de mais nada, qual é o estilo de
Deus. Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas
com os da fragilidade e da pobreza: « sendo rico, Se fez pobre por vós ».
Cristo, o Filho eterno de Deus, igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre;
desceu ao nosso meio, aproximou-Se de cada um de nós; despojou-Se, « esvaziou-Se
», para Se tornar em tudo semelhante a nós (cf. Fil 2,7; Heb 4,15). A
encarnação de Deus é um grande mistério. Mas, a razão de tudo isso é o amor
divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando
em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas criaturas. A caridade, o amor é
partilhar, em tudo, a sorte do amado. O amor torna semelhante, cria igualdade,
abate os muros e as distâncias. Foi o que Deus fez connosco. Na realidade,
Jesus « trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu
com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria,
tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no
pecado » (ConC. ECum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 22).
A finalidade de Jesus Se fazer pobre não foi a pobreza em si
mesma, mas – como diz São Paulo – « para vos enriquecer com a sua pobreza ».
Não se trata dum jogo de palavras, duma frase sensacional. Pelo contrário, é
uma síntese da lógica de Deus: a lógica do amor, a lógica da Encarnação e da
Cruz. Deus não fez cair do alto a salvação sobre nós, como a esmola de quem dá
parte do próprio supérfluo com piedade filantrópica. Não é assim o amor de
Cristo! Quando Jesus desce às águas do Jordão e pede a João Baptista para O
baptizar, não o faz porque tem necessidade de penitência, de conversão; mas
fá-lo para se colocar no meio do povo necessitado de perdão, no meio de nós
pecadores, e carregar sobre Si o peso dos nossos pecados. Este foi o caminho
que Ele escolheu para nos consolar, salvar, libertar da nossa miséria. Faz
impressão ouvir o Apóstolo dizer que fomos libertados, não por meio da riqueza
de Cristo, mas por meio da sua pobreza. E todavia São Paulo conhece bem a «
insondável riqueza de Cristo » (Ef 3,8), « herdeiro de todas as coisas » (Heb
1,2).
Em que consiste então esta pobreza com a qual Jesus nos liberta
e torna ricos? É precisamente o seu modo de nos amar, o seu aproximar-Se de nós
como fez o Bom Samaritano com o homem abandonado meio morto na berma da estrada
(cf. Lc 10,25-37). Aquilo que nos dá verdadeira liberdade, verdadeira salvação
e verdadeira felicidade é o seu amor de compaixão, de ternura e de partilha. A
pobreza de Cristo, que nos enriquece, é Ele fazer-Se carne, tomar sobre Si as
nossas fraquezas, os nossos pecados, comunicando-nos a misericórdia infinita de
Deus. A pobreza de Cristo é a maior riqueza: Jesus é rico de confiança
ilimitada em Deus Pai, confiando-Se a Ele em todo o momento, procurando sempre
e apenas a sua vontade e a sua glória. É rico como o é uma criança que se sente
amada e ama os seus pais, não duvidando um momento sequer do seu amor e da sua
ternura. A riqueza de Jesus é Ele ser o Filho: a sua relação única com o Pai é
a prerrogativa soberana deste Messias pobre. Quando Jesus nos convida a tomar
sobre nós o seu « jugo suave » (cf. Mt 11,30), convida-nos a enriquecer-nos com
esta sua « rica pobreza » e « pobre riqueza », a partilhar com Ele o seu
Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão
Primogénito (cf. Rm 8,29).
Foi dito que a única verdadeira tristeza é não ser santos (Léon
Bloy); poder-se-ia dizer também que só há uma verdadeira miséria: é não viver
como filhos de Deus e irmãos de Cristo.
2. O nosso testemunho
Poderíamos pensar que este « caminho » da pobreza fora o de
Jesus, mas não o nosso: nós, que viemos depois d’Ele, podemos salvar o mundo
com meios humanos adequados. Isto não é verdade. Em cada época e lugar, Deus
continua a salvar os homens e o mundo por meio da pobreza de Cristo, que Se faz
pobre nos Sacramentos, na Palavra e na sua Igreja, que é um povo de pobres. A
riqueza de Deus não pode passar através da nossa riqueza, mas sempre e apenas
através da nossa pobreza, pessoal e comunitária, animada pelo Espírito de
Cristo.
À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver
as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar
concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria
é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir
três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria
espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e
atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados
dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a
água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de
crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a
sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que
deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de
Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. O nosso
compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações
da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão
na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos,
acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas.
Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade,
à sobriedade e à partilha.
Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em
tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia,
porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo
álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o
sentido da vida; sem perspectivas de futuro, perderam a esperança! E quantas
pessoas se vêem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por
falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa,
por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a
miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de
miséria, que é causa também de ruína económica, anda sempre associada com a
miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o
seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão,
porque nos consideramos auto-suficientes, vamos a caminho da falência. O único
que verdadeiramente salva e liberta é Deus.
O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a miséria espiritual:
o cristão é chamado a levar a todo o ambiente o anúncio libertador de que
existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos
ama gratuitamente e sempre, e de que estamos feitos para a comunhão e a vida
eterna. O Senhor convida-nos a sermos jubilosos anunciadores desta mensagem de
misericórdia e esperança. É bom experimentar a alegria de difundir esta boa
nova, partilhar o tesouro que nos foi confiado para consolar os corações
dilacerados e dar esperança a tantos irmãos e irmãs imersos na escuridão.
Trata-se de seguir e imitar Jesus, que foi ao encontro dos pobres e dos
pecadores como o pastor à procura da ovelha perdida, e fê-lo cheio de amor.
Unidos a Ele, podemos corajosamente abrir novas vias de evangelização e
promoção humana.
Queridos irmãos e irmãs, possa este tempo de Quaresma encontrar
a Igreja inteira pronta e solícita para testemunhar, a quantos vivem na miséria
material, moral e espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio
do amor do Pai misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda a pessoa. E
poderemos fazê-lo na medida em que estivermos configurados com Cristo, que Se
fez pobre e nos enriqueceu com a sua pobreza. A Quaresma é um tempo propício
para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos
privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não
esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem
esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói.
Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser « tidos
por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo
possuindo » (2 Cor 6,10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em
nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos
misericordiosos e agentes de misericórdia. Com estes votos, asseguro a minha
oração para que cada crente e cada comunidade eclesial percorra frutuosamente o
itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e
Nossa Senhora vos guarde!
Vaticano, 26 de Dezembro de 2013
Festa de Santo Estêvão, diácono e protomártir
PAPA FRANCISCUS
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
ORAÇÃO ÀS CINCO CHAGAS DE JESUS
Oracao
as Cinco Chagas de Cristo Document Transcript
1.
ORAÇÃO ÀS CINCO CHAGAS DE JESUS Festa
Litúrgica das Cinco Chagas de Nosso Senhor Jesus Cristo 07 de Fevereiro
2.
V. Deus, vinde em nosso auxílio. R. Senhor, socorrei-nos e salvai-nos. V.
Glória ao pai, ao Filho e ao Espírito Santo. R. Como era no princípio, agora e
sempre. Ámen. À Chaga da Mão direita: Amabilíssimo meu Senhor, Jesus
Crucificado: Adoro, profundamente prostrado, unido a Maria Santíssima, com
todos os Anjos e Santos do Céu, a chaga Sacratíssima da Vossa Mão direita.
Peço-Vos a graça de concederdes à Igreja vitória sobre os seus inimigos e que
todos os seus filhos vivam santamente. Pai Nosso Avé Maria Glória Jaculatória:
Mãe da Igreja, rogai por nós e intercedei pelo Santo Padre e pela Santa Igreja.
À Chaga da Mão esquerda: Amabilíssimo meu Senhor, Jesus Crucificado: Adoro,
profundamente prostrado, unido a Maria Santíssima, com todos os Anjos e Santos
do Céu, a chaga Sacratíssima da Vossa Mão esquerda. Peço-Vos a graça da
conversão de todos os pecadores e misericórdia para os agonizantes,
especialmente para aqueles que não querem reconciliar-se convosco. Pai Nosso
Avé Maria Glória Jaculatória: Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo o
Inferno; levai para o Céu todas as almas, e socorrei principalmente as que mais
precisarem.
3.
À Chaga do Pé direito: Amabilíssimo meu Senhor, Jesus Crucificado: Adoro,
profundamente prostrado, unido a Maria Santíssima, com todos os Anjos e Santos
do Céu, a chaga Sacratíssima do Vosso Pé esquerdo. Peço-Vos a graça da
santificação do Clero e de todos os que a Vós se consagraram. Pai Nosso Avé
Maria Glória Jaculatória: Ó Maria, Rainha dos Apóstolos: rogai por nós,
santificai os Sacerdotes e intercedei por todos os Consagrados. À Chaga do Pé
esquerdo: Amabilíssimo meu Senhor, Jesus Crucificado: Adoro, profundamente
prostrado, unido a Maria Santíssima, com todos os Anjos e Santos do Céu, a
chaga Sacratíssima do Vosso Pé esquerdo. Peço-Vos pelo alívio das almas do
Purgatório, em especial das mais abandonadas, que não têm ninguém que se lembre
e peça por elas. Pai Nosso Avé Maria Glória Jaculatória: Dai-lhes, Senhor o
eterno descanso, nos esplendores da Luz perpétua. Que descansem em paz. Ámen.
Mãe de Misericórdia, rogai por nós. À Chaga do Santo Lado: Amabilíssimo meu
Senhor, Jesus Crucificado: Adoro, profundamente prostrado, unido a Maria
Santíssima, com todos os Anjos e Santos do Céu, a chaga Sacratíssima do Vosso
Santo Lado Peço-Vos que Vos digneis ouvir e atender as preces daqueles se
confiaram às minhas orações e apresento diante do Vosso peito aberto pela lança
as minhas intenções pessoais: Pai Nosso Avé Maria Glória Jaculatória: Jesus, eu
confio em Vós (3x)
4.
Virgem Clemente, rogai por nós; Virgem Fiel, rogai por nós; Virgem Dolorosa,
rogai por nós. ORAÇÃO FINAL: Ó Jesus, eu Vos louvo e dou graças por terdes
suportado tantos e tão atrozes sofrimentos, para expiar os meus pecados e os do
mundo inteiro. Peço-Vos que, pelos méritos da Vossa Paixão e pelas Vossas Cinco
Chagas, possa viver rectamente e detestar o pecado. Concedei-me também a graça
de, no fim da vida, morrer santamente, com o conforto dos Sacramentos da Vossa
Igreja e viver eternamente convosco na glória do Céu. Ámen.
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO AOS JOVENS
MENSAGEM
Mensagem do Papa Francisco para a 29ª Jornada Mundial da Juventude (13 de abril de 2014)
Quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Mensagem do Papa Francisco para a 29ª Jornada Mundial da Juventude (13 de abril de 2014)
Quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
Boletim da Santa Sé
Confira
a seguir a mensagem do Papa Francisco para a 29ª Jornada Mundial da Juventude,
que será realizada em 13 de abril de 2014, Domingo de Ramos, em nível
diocesano.
“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu” (Mt
5, 3)
Queridos
jovens,
Permanece
gravado na minha memória o encontro extraordinário que vivemos no Rio de
Janeiro, na XXVIII Jornada Mundial da Juventude: uma grande festa da fé e da
fraternidade. A boa gente brasileira acolheu-nos de braços escancarados, como a
estátua de Cristo Redentor que domina, do alto do Corcovado, o magnífico
cenário da praia de Copacabana. Nas margens do mar, Jesus fez ouvir de novo a
sua chamada para que cada um de nós se torne seu discípulo missionário, O
descubra como o tesouro mais precioso da própria vida e partilhe esta riqueza
com os outros, próximos e distantes, até às extremas periferias geográficas e
existenciais do nosso tempo.
A
próxima etapa da peregrinação intercontinental dos jovens será em Cracóvia, em
2016. Para cadenciar o nosso caminho, gostaria nos próximos três anos de
reflectir, juntamente convosco, sobre as Bem-aventuranças que lemos no
Evangelho de São Mateus (5, 1-12). Começaremos este ano meditando sobre a
primeira: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» (Mt 5,
3); para 2015, proponho: «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt
5, 8); e finalmente, em 2016, o tema será: «Felizes os misericordiosos, porque
alcançarão misericórdia» (Mt 5, 7).
1.
A força revolucionária das Bem-aventuranças
É-nos
sempre muito útil ler e meditar as Bem-aventuranças! Jesus proclamou-as no seu
primeiro grande sermão, feito na margem do lago da Galileia. Havia uma multidão
imensa e Ele, para ensinar os seus discípulos, subiu a um monte; por isso é
chamado o «sermão da montanha». Na Bíblia, o monte é visto como lugar onde Deus
Se revela; pregando sobre o monte, Jesus apresenta-Se como mestre divino, como
novo Moisés. E que prega Ele? Jesus prega o caminho da vida; aquele caminho que
Ele mesmo percorre, ou melhor, que é Ele mesmo, e propõe-no como caminho da
verdadeira felicidade. Em toda a sua vida, desde o nascimento na gruta de Belém
até à morte na cruz e à ressurreição, Jesus encarnou as Bem-aventuranças. Todas
as promessas do Reino de Deus se cumpriram n’Ele.
Ao
proclamar as Bem-aventuranças, Jesus convida-nos a segui-Lo, a percorrer com
Ele o caminho do amor, o único que conduz à vida eterna. Não é uma estrada
fácil, mas o Senhor assegura-nos a sua graça e nunca nos deixa sozinhos. Na
nossa vida, há pobreza, aflições, humilhações, luta pela justiça, esforço da
conversão quotidiana, combates para viver a vocação à santidade, perseguições e
muitos outros desafios. Mas, se abrirmos a porta a Jesus, se deixarmos que Ele
esteja dentro da nossa história, se partilharmos com Ele as alegrias e os
sofrimentos, experimentaremos uma paz e uma alegria que só Deus, amor infinito,
pode dar.
As
Bem-aventuranças de Jesus são portadoras duma novidade revolucionária, dum
modelo de felicidade oposto àquele que habitualmente é transmitido pelos mass
media, pelo pensamento dominante. Para a mentalidade do mundo, é um escândalo
que Deus tenha vindo para Se fazer um de nós, que tenha morrido numa cruz. Na
lógica deste mundo, aqueles que Jesus proclama felizes são considerados
«perdedores», fracos. Ao invés, exalta-se o sucesso a todo o custo, o
bem-estar, a arrogância do poder, a afirmação própria em detrimento dos outros.
Queridos
jovens, Jesus interpela-nos para que respondamos à sua proposta de vida, para
que decidamos qual estrada queremos seguir a fim de chegar à verdadeira
alegria. Trata-se dum grande desafio de fé. Jesus não teve medo de perguntar
aos seus discípulos se verdadeiramente queriam segui-Lo ou preferiam ir por
outros caminhos (cf. Jo 6, 67). E Simão, denominado Pedro, teve a coragem de
responder: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna» (Jo 6,
68). Se souberdes, vós também, dizer «sim» a Jesus, a vossa vida jovem
encher-se-á de significado, e assim será fecunda.
2.
A coragem da felicidade
O
termo grego usado no Evangelho é makarioi, «bem-aventurados». E
«bem-aventurados» quer dizer felizes. Mas dizei-me: vós aspirais deveras à
felicidade? Num tempo em que se é atraído por tantas aparências de felicidade,
corre-se o risco de contentar-se com pouco, com uma ideia «pequena» da vida.
Vós, pelo contrário, aspirai a coisas grandes! Ampliai os vossos corações! Como
dizia o Beato Pierjorge Frassati, «viver sem uma fé, sem um património a
defender, sem sustentar numa luta contínua a verdade, não é viver, mas ir
vivendo. Não devemos jamais ir vivendo, mas viver» (Carta a I. Bonini, 27 de
Fevereiro de 1925). Em 20 de Maio de 1990, no dia da sua beatificação, João
Paulo II chamou-lhe «homem das Bem-aventuranças» (Homilia na Santa Missa: AAS
82 [1990], 1518).
Se
verdadeiramente fizerdes emergir as aspirações mais profundas do vosso coração,
dar-vos-eis conta de que, em vós, há um desejo inextinguível de felicidade, e
isto permitir-vos-á desmascarar e rejeitar as numerosas ofertas «a baixo preço»
que encontrais ao vosso redor. Quando procuramos o sucesso, o prazer, a riqueza
de modo egoísta e idolatrando-os, podemos experimentar também momentos de
inebriamento, uma falsa sensação de satisfação; mas, no fim de contas,
tornamo-nos escravos, nunca estamos satisfeitos, sentimo-nos impelidos a buscar
sempre mais. É muito triste ver uma juventude «saciada», mas fraca.
Escrevendo
aos jovens, São João dizia: «Vós sois fortes, a palavra de Deus permanece em
vós e vós vencestes o Maligno» (1 Jo 2, 14). Os jovens que escolhem Cristo são
fortes, nutrem-se da sua Palavra e não se «empanturram» com outras coisas.
Tende a coragem de ir contra a corrente. Tende a coragem da verdadeira
felicidade! Dizei não à cultura do provisório, da superficialidade e do
descartável, que não vos considera capazes de assumir responsabilidades e
enfrentar os grandes desafios da vida.
3.
Felizes os pobres em espírito…
A
primeira Bem-aventurança, tema da próxima Jornada Mundial da Juventude, declara
felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu. Num tempo em que
muitas pessoas penam por causa da crise económica, pode parecer inoportuno
acostar pobreza e felicidade. Em que sentido podemos conceber a pobreza como
uma bênção?
Em
primeiro lugar, procuremos compreender o que significa «pobres em espírito». Quando
o Filho de Deus Se fez homem, escolheu um caminho de pobreza, de despojamento.
Como diz São Paulo, na Carta aos Filipenses: «Tende entre vós os mesmos
sentimentos que estão em Cristo Jesus: Ele, que é de condição divina, não
considerou como uma usurpação ser igual a Deus; no entanto, esvaziou-Se a Si
mesmo, tomando a condição de servo e tornando-Se semelhante aos homens» (2,
5-7). Jesus é Deus que Se despoja da sua glória. Vemos aqui a escolha da
pobreza feita por Deus: sendo rico, fez-Se pobre para nos enriquecer com a sua
pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). É o mistério que contemplamos no presépio, vendo o
Filho de Deus numa manjedoura; e mais tarde na cruz, onde o despojamento chega
ao seu ápice.
O
adjectivo grego ptochós (pobre) não tem um significado apenas material, mas
quer dizer «mendigo». Há que o ligar com o conceito hebraico de anawim (os
«pobres de Iahweh»), que evoca humildade, consciência dos próprios limites, da
própria condição existencial de pobreza. Os anawim confiam no Senhor, sabem que
dependem d’Ele.
Como
justamente soube ver Santa Teresa do Menino Jesus, Cristo na sua Encarnação
apresenta-Se como um mendigo, um necessitado em busca de amor. O Catecismo da
Igreja Católica fala do homem como dum «mendigo de Deus» (n. 2559) e diz-nos
que a oração é o encontro da sede de Deus com a nossa (n. 2560).
São
Francisco de Assis compreendeu muito bem o segredo da Bem-aventurança dos
pobres em espírito. De facto, quando Jesus lhe falou na pessoa do leproso e no
Crucifixo, ele reconheceu a grandeza de Deus e a própria condição de humildade.
Na sua oração, o Poverello passava horas e horas a perguntar ao Senhor: «Quem
és Tu? Quem sou eu?» Despojou-se duma vida abastada e leviana, para desposar a
«Senhora Pobreza», a fim de imitar Jesus e seguir o Evangelho à letra.
Francisco viveu a imitação de Cristo pobre e o amor pelos pobres de modo
indivisível, como as duas faces duma mesma moeda.
Posto
isto, poder-me-íeis perguntar: Mas, em concreto, como é possível fazer com que
esta pobreza em espírito se transforme em estilo de vida, incida concretamente
na nossa existência? Respondo-vos em três pontos.
Antes
de mais nada, procurai ser livres em relação às coisas. O Senhor chama-nos a um
estilo de vida evangélico caracterizado pela sobriedade, chama-nos a não ceder
à cultura do consumo. Trata-se de buscar a essencialidade, aprender a
despojarmo-nos de tantas coisas supérfluas e inúteis que nos sufocam.
Desprendamo-nos da ambição de possuir, do dinheiro idolatrado e depois
esbanjado. No primeiro lugar, coloquemos Jesus. Ele pode libertar-nos das
idolatrias que nos tornam escravos. Confiai em Deus, queridos jovens! Ele
conhece-nos, ama-nos e nunca se esquece de nós. Como provê aos lírios do campo
(cf. Mt 6, 28), também não deixará que nos falte nada! Mesmo para superar a
crise económica, é preciso estar prontos a mudar o estilo de vida, a evitar
tantos desperdícios. Como é necessária a coragem da felicidade, também é
precisa a coragem da sobriedade.
Em
segundo lugar, para viver esta Bem-aventurança todos necessitamos de conversão
em relação aos pobres. Devemos cuidar deles, ser sensíveis às suas carências
espirituais e materiais. A vós, jovens, confio de modo particular a tarefa de
colocar a solidariedade no centro da cultura humana. Perante antigas e novas
formas de pobreza – o desemprego, a emigração, muitas dependências dos mais
variados tipos –, temos o dever de permanecer vigilantes e conscientes,
vencendo a tentação da indiferença. Pensemos também naqueles que não se sentem
amados, não olham com esperança o futuro, renunciam a comprometer-se na vida
porque se sentem desanimados, desiludidos, temerosos. Devemos aprender a estar
com os pobres. Não nos limitemos a pronunciar belas palavras sobre os pobres!
Mas encontremo-los, fixemo-los olhos nos olhos, ouçamo-los. Para nós, os pobres
são uma oportunidade concreta de encontrar o próprio Cristo, de tocar a sua carne
sofredora.
Mas
– e chegamos ao terceiro ponto – os pobres não são pessoas a quem podemos
apenas dar qualquer coisa. Eles têm tanto para nos oferecer, para nos ensinar.
Muito temos nós a aprender da sabedoria dos pobres! Pensai que um Santo do
século XVIII, Bento José Labre – dormia pelas ruas de Roma e vivia das esmolas
da gente –, tornara-se conselheiro espiritual de muitas pessoas, incluindo
nobres e prelados. De certo modo, os pobres são uma espécie de mestres para
nós. Ensinam-nos que uma pessoa não vale por aquilo que possui, pelo montante
que tem na conta bancária. Um pobre, uma pessoa sem bens materiais, conserva
sempre a sua dignidade. Os pobres podem ensinar-nos muito também sobre a
humildade e a confiança em Deus. Na parábola do fariseu e do publicano (cf. Lc
18, 9-14), Jesus propõe este último como modelo, porque é humilde e se
reconhece pecador. E a própria viúva, que lança duas moedinhas no tesouro do
templo, é exemplo da generosidade de quem, mesmo tendo pouco ou nada, dá tudo
(Lc 21, 1-4).
4.
… porque deles é o Reino do Céu
Tema
central no Evangelho de Jesus é o Reino de Deus. Jesus é o Reino de Deus em
pessoa, é o Emanuel, Deus connosco. E é no coração do homem que se estabelece e
cresce o Reino, o domínio de Deus. O Reino é, simultaneamente, dom e promessa.
Já nos foi dado em Jesus, mas deve ainda realizar-se em plenitude. Por isso
rezamos ao Pai cada dia: «Venha a nós o vosso Reino».
Há
uma ligação profunda entre pobreza e evangelização, entre o tema da última
Jornada Mundial da Juventude – «Ide e fazei discípulos entre todas as nações»
(Mt 28, 19) – e o tema deste ano: «Felizes os pobres em espírito, porque deles
é o Reino do Céu» (Mt 5, 3). O Senhor quer uma Igreja pobre, que evangelize os
pobres. Jesus, quando enviou os Doze em missão, disse-lhes: «Não possuais ouro,
nem prata, nem cobre, em vossos cintos; nem alforge para o caminho, nem duas
túnicas, nem sandálias, nem cajado; pois o trabalhador merece o seu sustento»
(Mt 10, 9-10). A pobreza evangélica é condição fundamental para que o Reino de
Deus se estenda. As alegrias mais belas e espontâneas que vi ao longo da minha
vida eram de pessoas pobres que tinham pouco a que se agarrar. A evangelização,
no nosso tempo, só será possível por contágio de alegria.
Como
vimos, a Bem-aventurança dos pobres em espírito orienta a nossa relação com
Deus, com os bens materiais e com os pobres. À vista do exemplo e das palavras
de Jesus, damo-nos conta da grande necessidade que temos de conversão, de fazer
com que a lógica do ser mais prevaleça sobre a lógica do ter mais. Os Santos
são quem mais nos pode ajudar a compreender o significado profundo das
Bem-aventuranças. Neste sentido, a canonização de João Paulo II, no segundo
domingo de Páscoa, é um acontecimento que enche o nosso coração de alegria. Ele
será o grande patrono das Jornadas Mundiais da Juventude, de que foi o
iniciador e impulsionador. E, na comunhão dos Santos, continuará a ser, para
todos vós, um pai e um amigo.
No
próximo mês de Abril, tem lugar também o trigésimo aniversário da entrega aos
jovens da Cruz do Jubileu da Redenção. Foi precisamente a partir daquele acto
simbólico de João Paulo II que principiou a grande peregrinação juvenil que,
desde então, continua a atravessar os cinco continentes. Muitos recordam as
palavras com que, no domingo de Páscoa do ano 1984, o Papa acompanhou o seu
gesto: «Caríssimos jovens, no termo do Ano Santo, confio-vos o próprio sinal
deste Ano Jubilar: a Cruz de Cristo! Levai-a ao mundo como sinal do amor do
Senhor Jesus pela humanidade, e anunciai a todos que só em Cristo morto e
ressuscitado há salvação e redenção».
Queridos
jovens, o Magnificat, o cântico de Maria, pobre em espírito, é também o canto
de quem vive as Bem-aventuranças. A alegria do Evangelho brota dum coração
pobre, que sabe exultar e maravilhar-se com as obras de Deus, como o coração da
Virgem, que todas as gerações chamam «bem-aventurada» (cf. Lc 1, 48). Que Ela,
a mãe dos pobres e a estrela da nova evangelização, nos ajude a viver o
Evangelho, a encarnar as Bem-aventuranças na nossa vida, a ter a coragem da
felicidade.
Vaticano,
21 de Janeiro – Memória de Santa Inês, virgem e mártir – de 2014.
PAPA
FRANCISCO
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