segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Timor Leste celebra o décimo aniversário do referendo sobre sua independência






O nosso País Timor Leste celebrou neste domingo (30), em Dili, o décimo aniversário do referendo que levou o país à independência após 25 anos de resistência à ocupação indonésia.

Há dez anos, no dia 30 de agosto de 1999, durante votação organizada pela ONU, 78% dos eleitores timorenses se pronunciaram pela independência da Indonésia, que ocupava o país desde a retirada dos colonizadores portugueses, em 1975.
Ao longo 10 anos todos os timorenses estão a desfrutar a PAZ e a LIBERDADE.
Claro, que tenha ainda para construir mas o essencial já conquistamos.
Todos nós sabemos que a PAZ é um DOM e uma conquista. Dom do Senhor, conquista do homem. É mister estancar as nascentes do mal, arrancar as raízes do veneno, arremessar para as bordas do campo os pedregulhos que empecem a semente: ódio, ofensa, desespero, tristeza...
Quando cada um de nós filhos e filhas de Timor Loro Sae, assumir conscientemente a sua dignidade de homem livre e quiser cooperarcom lealdade no projecto do Deus Amor, a PAZ brilhará no seu coração e na sua vida.
E seremos, na verdade, INSTRUMENTOS DE PAZ, a meio da família das nações.
Que sejamos uma só alma e um só coração para construir um TIMOR MELHOR segundo os nossos sonhos e desejos...

sábado, 29 de agosto de 2009

Referendo - 10 Anos – A CONSULTA POPULAR FOI MEMORÁVEL

SOMOS OS OLHOS QUE VÊEM,OS OUVIDOS QUE ESCUTAM,OS CORPOS QUE SENTEM,AS VOZES QUE NÃO SE CALAM

Diário de Notícias – Lusa – 27 Agosto 2009 O bispo emérito de Díli, Timor, D. Ximenes Belo, considerou a consulta popular de 30 de Agosto de 1999, que determinou a independência de Timor-Leste, como "um momento memorável"."
Foi um momento memorável porque todos os timorenses participaram", disse à Agência Lusa D. Ximenes Belo, acrescentando que "os timorenses acorreram em massa às urnas e, através desse instrumento jurídico, manifestarem o seu desejo de se libertarem, de construírem um país novo, um país livre e independente".
Confrontado com o apelo que fez ler numa missa em Díli um dia antes da consulta, pedindo aos fiéis para não terem medo e irem votar, o prelado sublinhou que "era preciso correr o risco".
"Era preciso tomar esta decisão [votar]", realçou D. Ximenes Belo, que à data era administrador apostólico de Díli, referindo que "muitas nações surgem do sacrifício e da morte".
Destacando a "grande coragem" e o "grande sacrifício" que os timorenses demonstraram, o responsável sustentou que a consulta popular "deveria ter acontecido em 1975", ano da ocupação do território pela Indonésia, pois "não haveria tantas mortes".
Dez anos volvidos sobre o referendo em que os timorenses votaram a independência do território ao invés da integração na Indonésia, o prelado afirmou que o país - o primeiro do século XXI - "tem evoluído positivamente", advertindo, contudo, que a Democracia é uma aprendizagem."
A Democracia aprende-se", declarou, salientando que "é preciso aprender e aprender a praticar".
Para D. Ximenes Belo é preciso também ajudar o país, para que os valores subjacentes ao voto pelo qual lutou a população timorense sejam apreendidos, mas também do ponto de vista económico e social."É preciso continuar a viver os ideais da fraternidade, da solidariedade, da Paz", defendeu..

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Etiquetas: Timor-Leste

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI



"Que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei" (Jo 13, 34)

Queridos jovens!

Por ocasião da XXII Jornada Mundial da Juventude, que será celebrada nas dioceses no próximo Domingo de Ramos, gostaria de propor à vossa meditação as palavras de Jesus: "que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei" (Jo 13, 34).

É possível amar?

Cada pessoa sente o desejo de amar e ser amada. Mas como é difícil amar, quantos erros e falências se verificam no amor! Há até quem chegue a duvidar se o amor é possível. Mas se carências afectivas ou desilusões sentimentais podem levar a pensar que amar é uma utopia, um sonho irrealizável, será solução resignar-se? Não! O amor é possível e a finalidade desta mensagem é contribuir para reavivar em cada um de vós, que sois o futuro e a esperança da humanidade, a confiança no amor verdadeiro, fiel e forte; um amor que gera paz e alegria; um amor que une as pessoas, fazendo-as sentir-se livres no respeito mútuo. Deixai então que eu percorra juntamente convosco um itinerário, em três tempos, na "descoberta" do amor.

Deus, fonte do amor

O primeiro tempo refere-se à fonte do amor verdadeiro, que é única: Deus. São João faz ressaltar bem este aspecto ao afirmar que "Deus é amor" (1 Jo 4, 8.16); agora ele não quer dizer apenas que Deus nos ama, mas que o próprio ser de Deus é amor. Estamos aqui diante da revelação mais luminosa da fonte do amor que é o mistério trinitário: em Deus, uno e trino, há um intercâmbio eterno de amor entre as pessoas do Pai e do Filho, e este amor não é uma energia ou um sentimento, mas uma pessoa, o Espírito Santo.
A Cruz de Cristo revela plenamente o amor de Deus

Como se nos manifesta o Deus-Amor?
Estamos no segundo tempo do nosso itinerário. Mesmo se já na criação são claros os sinais do amor divino, a revelação total do mistério íntimo de Deus verificou-se com a Encarnação, quando o próprio Deus se fez homem. Em Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, conhecemos o amor em todo o seu sentido. De facto, "a verdadeira novidade do Novo Testamento, escrevi na Encíclica Deus caritas est, não consiste em ideias novas, mas na própria figura de Cristo, que dá carne e sangue aos conceitos: um realismo extraordinário" (n. 12). A manifestação do amor divino é total e perfeita na Cruz, onde, como afirma São Paulo, "é assim que Deus demonstra o seu amor para connosco: quando ainda éramos pecadores é que Cristo morreu por nós" (Rm 5, 8). Portanto, cada um de nós pode dizer sem receio de errar: "Cristo amou-me e entregou-se a Si mesmo por mim" (Ef 5, 2). Redimida pelo seu sangue, vida humana alguma é inútil ou de pouco valor, porque todos somos amados pessoalmente por Ele com um amor apaixonado e fiel, um amor sem limites. A Cruz, loucura para o mundo, escândalo para muitos crentes, é ao contrário "sabedoria de Deus" para todos os que se deixam tocar profundamente no seu ser, "o que é considerado loucura de Deus é mais sábio que os homens, e o que é debilidade de Deus é mais forte que os homens" (1 Cor 1, 24-25). Aliás, o Crucificado, que depois da ressurreição carrega para sempre os sinais da própria paixão, põe em relevo as "falsificações" e as mentiras sobre Deus, que se disfarçam com a violência, a vingança e a exclusão. Cristo é o Cordeiro de Deus, que assume os pecados do mundo e arranca o ódio do coração do homem. Eis a sua verdadeira "revolução": o amor.

Amar o próximo como Cristo nos ama

Chegamos agora ao terceiro tempo da nossa reflexão. Na cruz Cristo grita: "Tenho sede" (Jo 19, 28). Revela assim uma sede ardente de amar e de ser amado por todos nós. Só quando conseguirmos compreender a profundeza e a intensidade deste mistério, nos aperceberemos da necessidade e da urgência de o amarmos "como" Ele nos amou. Isto exige o compromisso de dar também, se for necessário, a própria vida pelos irmãos sustentados pelo Seu amor. Já no Antigo Testamento Deus dissera: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lv 19, 18), mas a novidade de Cristo consiste no facto de que amar como Ele nos amou significa amar todos, sem distinções, também os inimigos, "até ao fim" (cf. Jo 13, 1).

Testemunhas do amor de Cristo

Gostaria agora de me deter sobre três âmbitos da vida quotidiana onde vós, queridos jovens, sois particularmente chamados a manifestar o amor de Deus. O primeiro é a Igreja que é a nossa família espiritual, composta por todos os discípulos de Cristo. Recordando-nos das suas palavras: "Por isso é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13, 35), alimentai, com o vosso entusiasmo e com a vossa caridade, as actividades das paróquias, das comunidades, dos movimentos eclesiais e dos grupos juvenis aos quais pertenceis. Sede solícitos em procurar o bem do próximo, fiéis aos compromissos assumidos. Não hesiteis em renunciar com alegria a alguns dos vossos divertimentos, aceitai de bom grado os sacrifícios necessários, testemunhai o vosso amor fiel a Jesus anunciando o seu Evangelho especialmente aos vossos contemporâneos.

Preparar-se para o futuro

O segundo âmbito, no qual sois chamados a expressar o amor e a crescer nele, é a preparação para o futuro que vos espera. Se sois noivos, Deus tem um projecto de amor para o vosso futuro de casal e de família e por conseguinte é essencial que o descubrais com a ajuda da Igreja, livres do preconceito difundido de que o cristianismo, com os seus mandamentos e as suas proibições, constitui obstáculos à alegria do amor e impede sobretudo de viver plenamente aquela felicidade que o homem e a mulher procuram no seu amor recíproco. O amor do homem e da mulher está na origem da família humana, e o casal formado por um homem e por uma mulher tem o seu fundamento no desígnio original de Deus (Gn 2, 18-25). Aprender a amar-se como casal é um caminho maravilhoso, que contudo exige uma aprendizagem laboriosa. O período do noivado, fundamental para construir o casal, é um tempo de expectativa e de preparação, que deve ser vivido na castidade dos gestos e das palavras. Isto permite amadurecer no amor, na solicitude e nas atenções ao outro; ajuda a exercer o domínio de si, a desenvolver o respeito do outro, características do verdadeiro amor que não procura em primeiro lugar a própria satisfação nem o seu bem-estar. Na oração comum, pedi ao Senhor que guarde e incremente o vosso amor e o purifique de qualquer egoísmo. Não hesiteis em responder generosamente à chamada do Senhor, porque o matrimónio cristão é uma verdadeira e autêntica vocação na Igreja. De igual modo, queridos jovens e queridas jovens, estai preparados para dizer "sim", se Deus vos chamar a segui-lo pelo caminho do sacerdócio ministerial ou da vida consagrada. O vosso exemplo servirá de encorajamento para muitos outros vossos contemporâneos, que estão em busca da verdadeira felicidade.

Crescer no amor todos os dias

O terceiro âmbito do compromisso que o amor exige é o da vida quotidiana nos seus diversos aspectos. Refiro-me sobretudo à família, à escola, ao trabalho e ao tempo livre. Queridos jovens, cultivai os vossos talentos não só para conquistar uma posição social, mas também para ajudar os outros "a crescer". Desenvolvei as vossas capacidades, não só para vos tornardes mais "competitivos" e "produtivos", mas para serdes "testemunhas da caridade". Juntai à formação profissional o esforço de adquirir conhecimentos religiosos úteis, para poder desempenhar a vossa missão de modo responsável. Convido-vos sobretudo a aprofundar a Doutrina Social da Igreja, para que a vossa acção no mundo seja inspirada e iluminada pelos seus princípios. O Espírito Santo faça com que sejais inovadores na caridade, perseverantes nos compromissos que assumis, e audaciosos nas vossas iniciativas, a fim de que possais oferecer o vosso contributo para a edificação da "civilização do amor". O horizonte do amor é verdadeiramente ilimitado: é o mundo inteiro!
"Atrever-se a amar" seguindo o exemplo dos santos

Queridos jovens, gostaria de vos convidar a "atrever-se a amar", isto é, a não desejar mais do que um amor forte e belo, capaz de tornar toda a existência uma jubilosa realização da doação de vós próprios a Deus e aos irmãos, à imitação d'Aquele que mediante o amor venceu para sempre o ódio e a morte (cf. Ap 5, 13). O amor é a única força capaz de mudar o coração do homem e a humanidade inteira, tornando frutíferas as relações entre homens e mulheres, entre ricos e pobres, entre culturas e civilizações. Disto dá testemunho a vida dos Santos que, verdadeiros amigos de Deus, são o canal e o reflexo deste amor original. Comprometei-vos a conhecê-los melhor, entregai-vos à sua intercessão, procurai viver como eles. Limito-me a citar Madre Teresa que, para se apressar a responder ao grito de Cristo "Tenho sede", grito que a comoveu profundamente, começou a recolher os moribundos nas estradas de Calcutá, na Índia. A partir de então, o único desejo da sua vida tornou-se o de extinguir a sede de amor de Jesus, não com palavras, mas com gestos concretos, reconhecendo o seu rosto desfigurado, sequioso de amor, no rosto dos mais pobres. A Beata Teresa pôs em prática o ensinamento do Senhor: "Sempre que fizerdes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes" (Mt 25, 40). E a mensagem desta humilde testemunha do amor divino difundiu-se por todo o mundo.

O segredo do amor

Queridos amigos, a cada um de nós só é concedido alcançar este grau de amor se recorrermos ao indispensável apoio da graça divina. Só a ajuda do Senhor nos permite, de facto, evitar a resignação diante da grandiosidade da tarefa a ser desenvolvida e infunde-nos a coragem de realizar quanto é humanamente impensável. Sobretudo a Eucaristia é a grande escola do amor. Quando se participa regularmente e com devoção na Santa Missa, quando se vivem na companhia de Jesus Eucarístico pausas prolongadas de adoração, é mais fácil compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do seu amor que ultrapassa todo o conhecimento (cf. Ef 3, 17-18). Partilhando o Pão eucarístico com os irmãos da comunidade eclesial sentimo-nos depois estimulados a converter com prontidão, como fez a Virgem com Isabel, o amor de Cristo em generoso serviço aos irmãos.

Rumo ao encontro de Sidney

A este propósito, é iluminadora a exortação do apóstolo João: "Meus filhinhos, não amemos com palavras e com a boca, mas com obras e de verdade. Por isto conheceremos que somos da verdade" (1 Jo 3, 18-19). Queridos jovens, é com este espírito que vos convido a viver a próxima Jornada Mundial da Juventude juntamente com os vossos Bispos nas vossas respectivas dioceses. Ela representará uma etapa importante rumo ao encontro de Sidney, cujo tema será: "Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas" (Act 1, 8).

Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, ajudar-vos-á a fazer ressoar em toda a parte o grito que mudou o mundo: "Deus é amor!". Acompanho-vos com a oração e abençoo-vos de coração.

Vaticano, 27 de Janeiro de 2007.

BENTO XVI

Taman yang indah...

Taman yang indah melambangkan
hati yang damai
hati yang tenang
hati yang penuh cinta
hati yang suci
hati yang ada tempat untuk DIA

semoga hatimu dan hatiku ada tempat
untuk kediamanNya...

sábado, 15 de agosto de 2009

O Timor Leste Hoje


Nome Oficial: República Democrática de Timor-Leste
Superfície: 18.899 km²Capital: Díli
Data de Formação do Estado: 28/11/1975.
Reconhecimento internacional em 20/05/2002.
Línguas Oficiais: A constituição reconhece o Português e o Tétum como línguas oficiais de Timor-Leste.
O Tétum e as demais línguas nacionais serão desenvolvidas e valorizadas pelo Estado. A RDTL autoriza a utilização do Bahasa-indonésio e do inglês.
População absoluta: 794.298 habitantes (ONU, 2001)População relativa: 42 hab/km²
Religião: 95% são católicos; práticas animistas subsistem.
Hino Nacional: “Pátria”
Renda per capita: US$ 478

Indicações Bibliográficas

WALDMAN, Maurício, 1993, Em Timor-Leste, A Luta Continua, artigo in Dossier “Véspera”, número 247, de 07/03/1993, AGEN - Agência Ecumênica de Notícias, São Paulo. Artigo disponibilizado na seção de história do site www.mw.pro.br;
WALDMAN, Maurício et SERRANO, Carlos, 1997, Brava Gente de Timor, Prefácio de Noam Chomsky, Editora Xamã, São Paulo, SP.

Timor: Um Cadinho de Esperanças

Afastado para sempre o terror da dominação colonial, vislumbra-se para o povo maubere todas as potencialidades que se colocam pela liberdade. A RDTL, como depositária de tantas lutas e esperanças não está sozinha.

A jovem república conta com o apoio solidário do espaço lusófono e neste, com toda a rica experiência do Brasil no domínio da tropicalidade. Conta com a simpatia comprovada dos grupos democráticos, progressistas e de apoio ao Terceiro Mundo. Conta com as Ongs populares. Conta com as proposições alternativas e inovadoras, factíveis de transformar Timor num novo espaço de experiências para o conjunto dos seus povos.

Os timorenses contam enfim com um mundo inteiro, inteiro demais para que seu jovem e simpático país deixe de despontar no futuro como um exemplo na constelação de países que povoam o nosso planeta!

A Organização do Espaço Timorense

A sociedade maubere tradicional se pautava pelo minucioso aproveitamento dos recursos naturais, tendo por base a propriedade comum. Praticava-se a agricultura, a coleta de raízes e frutos, a caça e a pesca. Alguns grupos, como os Makassai da Cordilheira Central, construíam terraços nas montanhas para a cultura do arroz de regadio. Um comércio fundamentado em trocas complementares atravessava o conjunto da ilha. Os timorenses desconheciam a carestia. A fome era um acontecimento excepcional.

Embora a sociedade timorense tenha vivenciado, a partir do contato com os portugueses, mudanças em diversos aspectos, isto não implicou na desarticulação da vida tradicional, pois Timor ocupava uma posição marginal no Império Colonial Português. As atividades prediletas do mercantilismo português - o comércio de especiarias, agricultura de plantation, tráfico de escravos e a obtenção de metais preciosos - não eram sob qualquer ponto de vista favorecidas em Timor. Mesmo as especiarias - produtos típicos da Insulíndia - se concentravam nas ilhas mais a Oeste (as Molucas) ou a Leste (Java e Sumatra).

A grande riqueza do Timor colonial, a madeira do sândalo, esgotou-se logo nos primeiros momentos da colonização. Somente a partir do Século XIX, com o crescimento da demanda internacional pelo café, o país volta a figurar no mapa econômico português. O café timorense, de excelente qualidade, retinha um papel suplementar junto à economia tradicional, tornando-se o principal item da pauta de exportações do Timor Português (80% do total).

Embora fossem conhecidas (ou parcialmente exploradas) jazidas de cobre, de ouro, manganês, mármore azul - e em particular as fabulosas reservas de gás e petróleo - país permaneceu essencialmente agrícola, tendo o milho e o arroz como principais cultivos. A pesca era (e ainda é) explorada artesanalmente pelas populações costeiras. A caça conquistava certa proeminência na sociedade tradicional, incorporada à pauta alimentar ou fornecendo “bens de prestígio” (peles e penas raras).

Devido ao isolamento, Timor Oriental, contrariamente às demais colônias portuguesas, orientou seu comércio mais na direção dos países da região do que para a metrópole. Fato notório, Portugal investiu grande parte das suas energias nas colônias africanas, notadamente Angola e Moçambique. O nível de vida do Timor Português permaneceu muito baixo, não diferindo, contudo do encontrado na parte ocidental da ilha.

Este contexto explica a fraca articulação da rede urbana. Pouco expressiva, era composta por vilarejos geralmente dispostos ao longo da planície litorânea, servindo de suporte ao domínio colonial. Díli, a capital, contava em 1970 com apenas 18.000 habitantes. Os demais núcleos urbanos, como Lospalos, Baucau, Viqueque, Same, Ainaro, Balibo, Manatuto, Maubara e Liquiça, embora importantes na vida do país eram ainda mais modestos.

Esta organização espacial, que durante décadas caracterizou o espaço timorense, foi dilacerada pela ocupação Indonésia e rearticulada de modo a favorecer o novo ocupante, muito mais sequioso de explorar as riquezas do país. Os traumas provocados pela decidida atitude dos novos colonizadores em saquear o país constituem ainda hoje um dos desafios a serem enfrentados pela RDTL.

Impactos da Invasão Indonésia e a Independência

Conforme já registramos, a presença portuguesa no Timor-Leste, introduziu mudanças e intercâmbios que se sedimentaram lentamente ao longo de quase cinco séculos de história. Nada disto pode obscurecer o fato evidente de que a dominação portuguesa foi marcada, como é próprio de qualquer situação colonial, pela opressão e subserviência da colônia à metrópole, e indiscutivelmente, sempre na direção de favorecer economicamente os mandatários.

No entanto, em nada a administração portuguesa poderia ser equiparada em termos da brutalidade e desumanidade com as duas décadas e meia de ocupação da Indonésia. Ao contrário dos portugueses, os indonésios promoveram alterações radicais no país.

A grande meta dos indonésios era o petróleo. Timor detém uma das maiores jazidas de petróleo e de gás natural do mundo. Deste modo, muitos concordam com a avaliação pela qual o controle destas jazidas seria um dos principais motivos da invasão. O petróleo também constituiu elemento de barganha para a Indonésia obter o apoio da Austrália à anexação, com a qual foi acertada a partilha do recurso através do infame Tratado chamado Timor Gap (1989).

À espoliação econômica, somaram-se os impactos decorrentes dos deslocamentos forçado
s de população, colonização da ilha com etnias estranhas ao território, destruição do meio ambiente, repressão cultural e sumamente, o massacre puro e simples dos mauberes, produzindo duras seqüelas, das quais os timorenses até hoje se ressentem. Não por acaso, Timor é a nação mais pobre da Ásia.

Nobel para Timor

Dois filhos da terra de Timor, José Ramos-Horta, considerado o rosto da resistência maubere no exterior e o Bispo D. Ximenes Belo, foram laureados com o Nobel da Paz de 1996. Esta decisão foi considerada como das mais polêmicas da história do Nobel da Paz. Tratou-se de um inequívoco reconhecimento do direito do povo maubere a autodeterminação nacional.

A ocupação Indonésia alterou drasticamente os dados básicos da demografia timorense. Uma das conseqüências da invasão foi um acelerado “processo de urbanização” resultante da fuga em massa da população civil das áreas de conflito ou pelos deslocamentos induzidos pelas tropas de ocupação. Por isso mesmo ocorreu, em termos da realidade timorense, um “inchaço urbano” em várias cidades do território.

Em 2003, refletindo este drástico processo ocorrido em 25 anos, Díli, que nos anos 70 possuía 18.000 habitantes, alcançava 50.800 habitantes; Dae, 18.100; Baucau, 15.000; Maliana, 13.000; Ermera, 12.600; Aubá 6.600 e Suai, 6.400 (World Gazeteen).
Recorde-se que em Timor, tal como em outros países crivados por conflitos, a expansão urbana raramente é sinal de qualidade de vida, mas sim de favelamento, más condições sanitárias, falta de oportunidades, etc.

Porém, acima de tudo o povo maubere ressente-se das perdas humanas. Acredita-se que durante a ocupação (1975-1999) cerca de 200.000 pessoas, ou seja, 1/3 da população total, tenha sido dizimada pelo exército da Indonésia. Este genocídio reuniria, pois características “judaicas” (pois como no caso dos judeus uma terça parte do grupo foi morta), assim como “armênias” (face ao primitivismo dos métodos de eliminação praticados pelo exército indonésio).
Praticado com uma impiedosa determinação, o massacre do povo maubere foi pouco noticiado no exterior. Uma dos raros registros destes acontecimentos foi a cobertura realizada pelo cineasta Max Stahl do massacre no cemitério de Santa Cruz, ocorrido em 1991 em Díli, quando os indonésios massacraram dezenas de civis.

A resistência contou com reduzida rede de apoios no exterior, praticamente restrita a setores da Igreja Católica, nações de língua portuguesa na África e a opinião pública de Portugal. A dificuldade em agremiar apoio foi tanto decorrente da luta desenvolver-se em um país distante e pouco conhecido, quanto pelo apoio ocidental à Indonésia, favorecendo a aceitação de uma situação “de fato”.

Os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP): Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique, destacaram-se no apoio à luta do povo maubere. Registra o Relatório de 1982 da Delegação Central da FRETILIN em Missão de Serviço no Exterior do País: “Na nossa luta pela libertação nacional, os cinco Países irmãos de África que conosco sofreram o colonialismo português tem sido a nossa retaguarda segura. A sua experiência vitoriosa tem sido uma fonte constante de ensinamentos; o seu prestígio internacional tem contribuído para as nossas vitórias diplomáticas. A sua experiência diplomática tem sido posta a serviço do Povo Maubere. Em todas as instâncias internacionais, o Timor Leste tem estado na primeira linha de preocupações dos dirigentes e dos quadros dos cinco Estados irmãos”.

Seguramente, ante a uma situação como esta, restavam aos mauberes duas alternativas: submeter-se ou lutar. Escolheram lutar. Iniciada em 1975, a resistência continuada dos mauberes forçou a Indonésia finalmente a anunciar em 1999, a realização de um referendo, propondo independência ou autonomia. 80% dos timorenses optaram pela independência.

Ainda assim não havia terminado a “algema de lágrimas” do povo maubere. A reação do exército indonésio e das milícias ligadas ao aparato de repressão originou novos massacres e destruição generalizada do país. O resultado inequívoco do plebiscito, acompanhado do clamor mundial contrário à Indonésia, respaldou a entrada em cena da ONU no território.

A UNTAET (United Nations Transitional Administration in East Timor), assumiu o exercício da administração do território, conduzindo-o finalmente à independência em 2002. E, a testa da nova República está um veterano da luta pela independência: José Alexandre “Xanana” Gusmão, a quem se requisita a totalidade do seu conhecimento político para conduzir os primeiros passos da nova república.