sexta-feira, 11 de junho de 2010

UM RENOVADO COMPROMISSO DA VIDA CONSAGRADA:PARTIR DE CRISTO

INTRODUÇÃO

Contemplando o esplendor do rosto de Cristo

1.Contemplando o rosto crucificado e glorioso1 de Cristo e testemunhando o Seu amor no mundo, as pessoas consagradas acolhem com alegria, no início do terceiro milênio, o urgente convite do Santo Padre João Paulo II a fazer-se ao largo: «Duc in altum!» (Lc 5, 4). Tais palavras, ressoadas em toda a Igreja, suscitaram uma nova grande esperança, reavivaram o desejo de uma vida evangélica mais intensa e abriram de par em par os horizontes do diálogo e da missão.

Talvez hoje, como nunca, o convite de Jesus a fazer-se ao largo revela-se como resposta ao drama da humanidade, vítima do ódio e da morte. O Espírito Santo sempre obra na história e pode tirar dos dramas humanos um discernimento dos acontecimentos, aberto ao mistério da misericórdia e da paz entre os homens. O Espírito, com efeito, da própria agitação das nações, suscita em muitos a nostalgia de um mundo diferente e que já se faz presente em meio a nós. Confirma-o João Paulo II aos jovens, quando os exorta a que sejam «sentinelas da manhã» que velam, fortes na esperança, à espera da aurora.2

Certamente, os dramáticos acontecimentos do mundo, nestes últimos anos, impuseram aos povos interrogativos novos e mais graves, que se vieram a somar aos já presentes, surgidos com respeito à orientação de uma sociedade globalizada, ambivalente na realidade, na qual «não se globalizaram apenas a tecnologia e a economia, mas também a insegurança e o medo, a criminalidade e a violência, as injustiças e as guerras».3

Nesta situação, as pessoas consagradas são chamadas pelo Espírito a uma constante conversão para dar uma nova força à dimensão profética da sua vocação. Elas, de fato, «chamadas a colocarem a própria existência ao serviço da causa do Reino de Deus, deixando tudo e imitando mais de perto a forma de vida de Jesus Cristo, assumem um papel eminentemente pedagógico para todo o Povo de Deus».4

O Santo Padre se fez intérprete desta expectativa na sua Mensagem aos Membros da última Plenária da nossa Congregação: «A Igreja — ele escreve — conta com a dedicação constante desta multidão eleita de filhos e filhas, com a sua aspiração à santidade e com o entusiasmo do seu serviço para favorecer e apoiar a tensão de todo o cristão para a perfeição e reforçar o solidário acolhimento do próximo, especialmente do mais necessitado. Deste modo, é testemunhada a presença vivificante da caridade de Cristo entre os homens».5

Caminhando sobre as pegadas de Cristo

2. Mas como decifrar no espelho da história, bem como no da atualidade, os vestígios e sinais do Espírito e as sementes do Verbo, presentes hoje como sempre na vida e na cultura humana?6 Como interpretar os sinais dos tempos numa realidade como a nossa, na qual abundam as zonas de sombra e de mistério? É necessário que o próprio Senhor se faça nosso companheiro de viagem — como com os discípulos que iam em direção a Emaús — e nos dê o seu Espírito. Somente Ele, presente entre nós, pode fazer-nos compreender plenamente a sua Palavra e atualizá-la, pode iluminar as mentes e aquecer os corações.

«Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20). O Senhor Ressuscitado permanece fiel a esta promessa. Ao longo de dois mil anos de história da Igreja, graças ao seu Espírito, fez-se constantemente presente nela, iluminando-lhe o caminho, cumulando-a de graça, infundindo-lhe a força para viver, sempre com maior intensidade, a sua Palavra e para desempenhar a missão de salvação, como sacramento da unidade dos homens com Deus e entre si.7

A vida consagrada, no contínuo suceder-se e afirmar-se de formas sempre novas, é já, em si mesma, eloqüente expressão desta sua presença, quase uma espécie de Evangelho desdobrado nos séculos. Ela aparece, com efeito, como «prolongamento na história de uma especial presença do Senhor ressuscitado».8 Desta certeza, as pessoas consagradas devem auferir um impulso renovado, fazendo dela a força inspiradora do seu caminho.9

A sociedade hodierna espera ver nelas o reflexo concreto do agir de Jesus, do Seu amor por cada pessoa, sem distinções ou adjetivos qualificativos. Quer experimentar que é possível dizer com o apóstolo Paulo «Esta minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé, crendo no Filho de Deus, que me amou e por mim se entregou» (Gl 2, 20).

Passados cinco anos da Exortação Apostólica Vita consecrata

3.Para ajudar no discernimento que procura tornar sempre mais segura esta vocação particular e sustentar, hoje, as corajosas opções de testemunho evangélico, a Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica celebrou a sua Plenária entre os dias 25 e 28 de Setembro de 2001.

Em 1994, a IX Assembléia ordinária do Sínodo dos Bispos, completando a exposição «das peculiaridades características dos vários estados de vida que o Senhor Jesus quis na sua Igreja»,10 depois dos Sínodos dedicados aos leigos e aos presbíteros, estudou A vida consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo. O Santo Padre João Paulo II, recolhendo as reflexões e as esperanças da Assembléia sinodal, ofereceu a toda a Igreja a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Vita consecrata.

Passados cinco anos da publicação deste fundamental Documento do Magistério eclesial, o nosso Dicastério, durante a Plenária, interrogou-se a respeito da eficácia com a qual foi este acolhido e levado à prática no seio das comunidades e dos institutos, assim como nas Igrejas particulares.

A Exortação Apostólica Vita consecrata soube exprimir com clareza e profundidade a dimensão cristológica e eclesial da vida consagrada numa perspectiva teológico-trinitária que ilumina com nova luz a teologia do seguimento e da consagração, da vida fraterna em comunidade e da missão; contribuiu em criar uma nova mentalidade no que concerne à sua missão no Povo de Deus e ajudou as mesmas pessoas consagradas a tomar uma maior consciência da graça da própria vocação.

É mister que este documento programático continue a ser aprofundado e levado à prática. Ele permanece o ponto de referência mais significativo e necessário para guiar o caminho de fidelidade e de renovação dos Institutos de vida consagrada e das Sociedades de vida apostólica, permanecendo, outrossim, aberto no sentido de suscitar perspectivas válidas de novas formas de vida consagrada e de vida evangélica.

Partir na esperança

4.O Grande Jubileu do Ano 2000 marcou profundamente a vida da Igreja e nele comprometeu-se fortemente toda a vida consagrada, em todas as partes do mundo. No dia 2 de Fevereiro de 2000, celebrou-se em todas as igrejas particulares, precedido por oportuna preparação, o Jubileu da vida consagrada.

No termo do Ano Jubilar, a fim de que cruzássemos todos juntos o umbral do novo milênio, o Santo Padre quis recolher o legado das celebrações jubilares na Carta Apostólica Novo millennio ineunte. Neste texto, com extraordinária, mas não imprevista, continuidade, encontram-se alguns temas fundamentais, de algum modo já antecipados na Exortação Vita consecrata: Cristo, centro da vida de cada cristão,11 a pastoral e a pedagogia da santidade, o seu caráter exigente, a sua medida alta na vida cristã ordinária,12 a exigência difundida de espiritualidade e de oração, vivida especialmente na contemplação e na escuta da Palavra de Deus,13 a incidência insubstituível da vida sacramental,14 a espiritualidade de comunhão15 e o testemunho do Amor que se expressa por meio duma nova fantasia da caridade junto a quem sofre, junto a um mundo ferido e escravo do ódio, assim como no diálogo ecumênico e inter-religioso.16

Os Padres da Plenária, partindo dos elementos já adquiridos pela Exortação Apostólica e postos, pela experiência do Jubileu, frente às necessidades de um renovado compromisso de santidade, evidenciaram os interrogativos e as aspirações que, nas diversas partes do mundo, as pessoas consagradas advertem, resgatando-lhes os aspectos mais relevantes. O escopo deles não foi o de oferecer um ulterior documento doutrinal, mas sim o de ajudar a vida consagrada a entrar nas grandes indicações pastorais do Santo Padre, com o contributo da sua autoridade e do seu serviço carismático em prol da unidade e da missão universal da Igreja. Um dom que se retribui e se leva à prática com a fidelidade ao seguimento de Cristo, segundo os conselhos evangélicos, e com a força da caridade, vivida cotidianamente na comunhão fraterna e numa generosa espiritualidade apostólica.

As Assembléias especiais do Sínodo dos Bispos, de índole continental, que escandiram a preparação para o Jubileu, interessaram-se já pela contextualização eclesial e cultural das aspirações e dos desafios da vida consagrada. Os Padres da Plenária não tiveram a intenção de retomar uma análise da situação. Em forma mais simples, observando o hoje da vida consagrada e sempre atentos às indicações do Santo Padre, convidam os consagrados e as consagradas, em cada um de seus ambientes e culturas, a que se apóiem sobretudo na espiritualidade. A sua reflexão, recolhida nestas páginas, articula-se em quatro partes. Depois de ter reconhecido a riqueza da experiência que a vida consagrada está vivendo atualmente na Igreja, quiseram exprimir a sua gratidão e plena estima pelo que ela é e pelo que ela faz (I Parte). Não se ocultaram as dificuldades, as provas e os desafios aos quais os consagrados e as consagradas estão hoje submetidos, contudo foram estes lidos como uma nova oportunidade para descobrir, de modo mais profundo, o sentido e a qualidade da vida consagrada (II Parte). O apelo mais importante é o de um renovado empenho na vida espiritual, partindo de Cristo no seguimento do Evangelho e vivendo, de modo particular, a espiritualidade da comunhão (III Parte). Finalmente, os Padres quiseram acompanhar as pessoas consagradas pelos caminhos do mundo, por onde encaminhou-se Cristo e onde está presente hoje, onde a Igreja O proclama Salvador do mundo, onde o pulsar trinitário da caridade dilata a comunhão numa renovada missão (IV Parte).



PRIMEIRA PARTE

PRESENÇA DA CARIDADE DE CRISTO
EM MEIO À HUMANIDADE

5. Dirigindo o olhar para a presença e o variado engajamento que consagrados e consagradas levam a todos os campos da vida eclesial e social, os Padres da Plenária quiseram manifestar-lhes sincero apreço, reconhecimento e solidariedade. Este é o sentir de toda a Igreja, que o Papa, dirigindo-se ao Pai, fonte de todo o Bem, assim exprime: «Agradecemo-Vos o dom da vida consagrada, que na fé Vos procura e, na sua missão universal, convida a todos a caminharem para Vós».17 Através de uma existência transfigurada, ela participa da vida da Trindade, confessando-lhe o amor que salva.18

As pessoas consagradas merecem, verdadeiramente, a gratidão da comunidade eclesial: monges e monjas, contemplativos e contemplativas, religiosos e religiosas dedicados às obras de apostolado, membros dos institutos seculares e das sociedades de vida apostólica, eremitas e virgens consagradas. A sua existência dá testemunho de amor a Cristo quando eles se encaminham pelo seu seguimento, tal como este se propõe no Evangelho e, com íntima alegria, assumem o mesmo estilo de vida que Ele escolheu para Si.19 Esta louvável fidelidade, embora não procurando outra aprovação que a do Senhor, «constitui memória viva da forma de existir e atuar de Jesus, como Verbo encarnado face ao Pai e aos irmãos».20

Um caminho no tempo

6. É, precisamente, no simples cotidiano que a vida consagrada cresce, em progressivo amadurecimento, a fim de se tornar anúncio de um modo de viver alternativo aos do mundo e da cultura dominante. Com o estilo de vida e a busca do Absoluto, sugere quase que uma terapia espiritual para os males do nosso tempo. Por isso, no coração da Igreja, representa uma bênção e um motivo de esperança para a vida humana e para a própria vida eclesial.21

Além da presença ativa de novas gerações de pessoas consagradas que tornam viva a presença de Cristo no mundo, bem como o esplendor dos carismas eclesiais, é igualmente significativa, de modo particular, a presença escondida e fecunda de consagrados e consagradas que conhecem a velhice, a solidão, a doença e o sofrimento. Ao serviço que já prestaram e à sabedoria que podem ainda compartilhar com os demais, acrescentam eles a própria e preciosa contribuição, unindo-se com a sua oblação ao Cristo padecente e glorificado, em favor de seu Corpo que é a Igreja (cfr. Cl 1, 24).

7. A vida consagrada prosseguiu, nestes anos, caminhos de aprofundamento, purificação, comunhão e missão. Nas dinâmicas comunitárias intensificaram-se as relações pessoais, tendo-se reforçado, junto a isso, o intercâmbio cultural, reconhecido como benéfico e estimulante para as próprias instituições. Aprecia-se um esforço louvável por encontrar um exercício da autoridade e da obediência mais inspirado no Evangelho que afirma, ilumina, convoca, integra e reconcilia. Na docilidade às indicações do Papa, cresce a sensibilidade aos pedidos dos Pastores e incrementa-se a colaboração formativa e apostólica entre os Institutos.

As relações com toda a comunidade cristã se vão configurando de um modo sempre melhor como intercâmbio de dons na reciprocidade e na complementariedade das vocações eclesiais.22 É, com efeito, nas Igrejas locais que se podem estabelecer aquelas linhas programáticas concretas que permitam ao anúncio de Cristo chegar até as pessoas, plasmar as comunidades, incidir profundamente, através do testemunho dos valores evangélicos, na sociedade e na cultura.23

De meras relações formais, passa-se prazenteiramente a uma fraternidade vivida no recíproco enriquecimento carismático. É um esforço que pode ajudar a todo o Povo de Deus, porquanto a espiritualidade da comunhão confere alma ao aspecto institucional, com um sentido de confiança e abertura que responde plenamente à dignidade e à responsabilidade de cada batizado.24

Para a santidade de todo o Povo de Deus

8. O chamado a seguir a Cristo com uma especial consagração é um dom da Trindade para todo o Povo de eleitos. Vendo no batismo a origem sacramental comum, consagrados e consagradas vão ao encontro dos outros fiéis, para compartilhar a vocação à santidade a ao apostolado. Ao serem sinais desta vocação universal, eles manifestam a missão específica da vida consagrada.25

As pessoas consagradas receberam, para o bem da Igreja, o chamado a uma «nova e especial consagração»,26 que compromete a viver, com amor apaixonado, a forma de vida de Cristo, da Virgem Maria e dos Apóstolos.27 No mundo atual, faz-se urgente um testemunho profético apoiado «sobre a afirmação da primazia de Deus e dos bens futuros, como transparece do seguimento e imitação de Cristo casto, pobre e obediente, votado completamente à glória do Pai e ao amor dos irmãos e irmãs».28

Das pessoas consagradas, expande-se sobre a Igreja um persuasivo convite a considerar o primado da graça e a responder-lhe mediante um generoso compromisso espiritual.29 Não obstante os amplos processos de secularização, os fiéis advertem uma generalizada exigência de espiritualidade, muitas vezes expressa numa renovada carência de oração.30 Os acontecimentos da vida, mesmo corriqueiros, põem-se como interrogativos a serem lidos sob a ótica da conversão. A dedicação dos consagrados ao serviço de uma qualidade evangélica da vida contribui para manter viva, em muitos modos, a prática espiritual em meio ao povo cristão. As comunidades religiosas procuram sempre mais ser lugares para a escuta e a partilha da palavra, para a celebração litúrgica, a pedagogia da oração, o acompanhamento e a direção espiritual. Então, ainda que sem o pretender, a ajuda dada aos outros retorna numa recíproca vantagem.31

Em missão para o Reino

9. À imitação de Jesus, os que Deus chama a seu seguimento são consagrados e enviados ao mundo para continuar-lhe a missão. Antes bem, a própria vida consagrada, sob a ação do Espírito Santo, faz-se missão. Quanto mais os consagrados se deixam conformar com Cristo, tanto mais O tornam presente e operante na história para a salvação dos homens.32 Abertos às necessidades do mundo na perspectiva de Deus, olham para um futuro com sabor de ressurreição, dispostos a seguir o exemplo de Cristo, que veio entre nós para dar a vida, e vida em abundância (cfr. Jo 10, 10).

O zelo pela instauração do Reino de Deus e pela salvação dos irmãos vem assim a constituir a melhor prova de uma doação autenticamente vivida pelas pessoas consagradas. Eis porque cada uma de suas tentativas de renovação traduz-se num novo impulso para a missão evangelizadora.33 Aprendem a escolher com o auxílio de uma formação permanente, caracterizada por intensas experiências espirituais que levam a decisões corajosas.

Nas intervenções dos Padres, durante a Plenária, bem como nas relações apresentadas, suscitou admiração a multiforme atividade missionária dos consagrados e das consagradas.

Percebe-se, de um modo particular, a preciosidade do trabalho apostólico desempenhado, com a generosidade e a peculiar riqueza inerente ao “gênio feminino”, pelas mulheres consagradas. Este merece o maior reconhecimento por parte de todos, pastores e fiéis. Porém, o caminho empreendido se deve ainda aprofundar e ampliar, «é, portanto, urgente realizar alguns passos concretos, começando pela abertura às mulheres de espaços de participação nos vários setores e a todos os níveis, mesmo nos processos de elaboração das decisões».34

Um agradecimento seja dirigido, sobretudo, a quem se encontra na linha de frente. A disponibilidade missionária afirmou-se com uma corajosa expansão em direção aos povos que esperam o primeiro anúncio do Evangelho. Jamais quiçá, como nestes últimos anos, foram conhecidas tantas novas fundações, precisamente em momentos onerados pela dificuldade numérica sofrida pelos Institutos. Procurando, entre as indicações da história, uma resposta para as expectativas da humanidade, o empreendimento e a audácia evangélica impeliram consagrados e consagradas a lugares difíceis até ao risco e ao efetivo sacrifício da vida.35

Com renovada solicitude, muitas pessoas consagradas encontram, no exercício das obras de misericórdia evangélica, enfermos que curar, necessitados de todo o tipo, aflitos por antigas e novas formas de pobreza. Inclusive outros ministérios, como o da educação, recebem deles uma contribuição indispensável que faz amadurecer a fé, através da catequese, ou exercita um verdadeiro apostolado intelectual. Tampouco deixam de sustentar com sacrifício e colaborações sempre mais amplas a voz da Igreja nos meios de comunicação que promovem a transformação social.36 Uma opção convencida e forte levou ao aumento do número de religiosos e religiosas que vivem entre os excluídos. Numa humanidade em movimento, quando tantas pessoas vêem-se obrigadas a emigrar, estes homens e mulheres do Evangelho se dirigem à «fronteira» por amor a Cristo, fazendo-se próximos dos últimos.

Igualmente significativa é a contribuição eminentemente espiritual que as monjas oferecem à evangelização. Tal contribuição é «alma e fermento das iniciativas apostólicas, deixando a quem compete por vocação a participação ativa nas mesmas».37 «Assim a sua vida se torna uma fonte misteriosa de fecundidade apostólica e de bênção para a comunidade cristã e para o mundo inteiro».38

Enfim, é mister recordar que, nestes últimos anos, o Martirológio das testemunhas da fé e do amor na vida consagrada enriqueceu-se ulterior e notavelmente. As situações difíceis exigiram de não poucas entre elas a extrema prova de amor em genuína fidelidade ao Reino. Consagrados a Cristo e ao serviço de seu Reino testemunharam a fidelidade do seguimento até a cruz. Diversas foram as circunstâncias e várias as situações, porém única a causa do martírio: a fidelidade ao Senhor e a seu Evangelho: «pois não é a pena que faz o mártir, mas sim a causa».39
Dóceis ao Espírito

10.Este é um tempo no qual o Espírito irrompe, abrindo novas possibilidades. A dimensão carismática das diversas formas de vida consagrada, embora sempre em processo e jamais terminada, prepara na Igreja, em sinergia com o Paráclito, o advento d'Aquele que é já o futuro da humanidade em caminho. Como Maria Santíssima, a primeira consagrada, gerou a Cristo, pelo poder do Espírito Santo e pelo dom total de si, para redimir a humanidade com uma doação de amor, assim, as pessoas consagradas, perseverando na abertura ao Espírito criador e mantendo-se numa humilde docilidade, são chamadas hoje a apostar na caridade, «frutificando no compromisso dum amor ativo e concreto por cada ser humano».40 Existe um laço particular de vida e dinamismo entre o Espírito Santo e a vida consagrada, por isso as pessoas consagradas devem perseverar na docilidade ao Espírito criador. Ele obra segundo o querer do Pai para o louvor da graça que foi concedida aos consagrados no Filho bem-amado. E é o mesmo Espírito que irradia o esplendor do mistério sobre toda a existência, gasta pelo Reino de Deus e pelo bem de multidões tão carentes quanto abandonadas. Também o futuro da vida consagrada se confia ao dinamismo do Espírito, autor e dispensador dos carismas eclesiais, postos por Ele a serviço da plenitude do conhecimento e da realização do Evangelho de Jesus Cristo.

Fonte Vaticano, (Junho de 2002)

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