segunda-feira, 21 de julho de 2008

PAPA CITA SANTO AGOSTINHO PARA EXPLICAR ESPÍRITO SANTO


Oferece uma explanação teológica da Trindade

SYDNEY, domingo, 20 de julho de 2008 (ZENIT.org).
- Com a ajuda de S. Agostinho, Bento XVI dá uma breve aula de teologia sobre a terceira pessoa da Santíssima Trindade na vigília de sábado da Jornada Mundial da Juventude, no hipódromo de Randwick, em Sydney.

O Espírito Santo «tem sido, de variadas maneiras, a Pessoa esquecida da Santíssima Trindade», disse o Papa aos jovens. «Uma clara noção d’Ele parece estar quase fora do nosso alcance».
O Pontífice relembrou que era criança quando ouviu falar do Espírito Santo, mas nunca conseguiu entender a terceira pessoa da Trindade até se tornar um sacerdote e começar a estudar os escritos de S. Agostinho.
Ele disse que o entendimento de Agostinho sobre o Espírito Santo também se «desenvolveu gradualmente», e «foi uma luta».

O Santo Padre falou que o teólogo teve «três intuições particulares relativas ao Espírito Santo enquanto vínculo de unidade no seio da Santíssima Trindade: unidade como comunhão, unidade como amor duradouro, unidade como doador e dom.
«Estas três intuições – disse o Papa – não são meramente teóricas; ajudam a explicar como age o Espírito».

«Num mundo em que tanto os indivíduos como as comunidades sofrem muitas vezes por falta de unidade e coesão, tais intuições ajudam-nos a permanecer sintonizados com o Espírito e a alargar e esclarecer o âmbito do nosso testemunho».
Unidade
Bento XVI explicou que a primeira intuição de Santo Agostinho vem da reflexão sobre as palavras «Santo» e «Espírito», que «dizem respeito àquilo que pertence à natureza divina».
«Em outras palavras», ele acrescenta, «àquilo que é compartilhado pelo Pai e pelo Filho na sua comunhão».
«De facto, só na vida de comunhão é que a unidade subsiste e a identidade humana se realiza plenamente: reconhecemos a necessidade comum de Deus, correspondemos à presença unificadora do Espírito Santo e damo-nos reciprocamente servindo uns aos outros».

Amor
Bento XVI ainda falou sobre a segunda intuição do santo de Hipona, o Espírito Santo como amor que permanece.
Na primeira carta de João, capítulo 1, versículo 16 está escrito que «Deus é amor», acrescentou o Papa. «Agostinho sugere que estas palavras, embora referindo-se à Trindade no seu todo, também se devem entender como expressão duma característica particular do Espírito Santo».
O pontífice explica: «Reflectindo sobre a natureza permanente do amor – quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele’ – Agostinho interroga-se: é o amor ou o Espírito que garante o dom duradouro?»
Citando a obra do santo «De Trinitate», o Santo Padre reflete na conclusão do teólogo: «O Espírito Santo faz-nos habitar em Deus e Deus em nós; mas é o amor que causa tudo isto. Portanto, o Espírito é Deus enquanto amor».
«É uma explicação magnífica», exclama o bispo de Roma. «Deus compartilha-Se como amor no Espírito Santo».
Bento XVI reflete ainda: «O amor é o sinal da presença do Espírito Santo. As ideias ou as palavras que carecem de amor – ainda que se apresentem sofisticadas ou sagazes – não podem ser ‘do Espírito’.»
«Além disso, o amor apresenta um traço particular: longe de ser permissivo ou volúvel, tem uma missão ou um objectivo a realizar que é o de permanecer. Por sua natureza, o amor é duradouro.»
«Mais uma vez, queridos amigos», diz o Papa, «podemos dar uma vista de olhos àquilo que o Espírito Santo oferece ao mundo: amor que dissolve a incerteza; amor que supera o medo da traição; amor que traz em si a eternidade; o verdadeiro amor que nos introduz numa unidade que permanece!»

Dom

Bento XVI disse que a terceira intuição de Santo Agostinho – o Espírito Santo como dom – deriva do relato evangélico da conversa de Cristo com a mulher samaritana junto ao poço.
«Aqui Jesus revela-Se como o dador de água viva, que em seguida será especificada como sendo o Espírito», explica.
Citando o Evangelho de João o bispo de Roma diz que «O Espírito é ‘o dom de Deus’ – a fonte interior – que sacia verdadeiramente a nossa sede mais profunda e nos conduz ao Pai».
Com base ainda na obra «De Trinitate», o Santo Padre explica que «Agostinho conclui que o Deus que Se concede a nós como dom é o Espírito Santo».
O Pontífice continua: «Amigos, uma vez mais lancemos um olhar sobre a Trindade em acção: o Espírito Santo é Deus que eternamente Se dá; como uma nascente perene, Ele oferece-Se precisamente a Si mesmo».
«Observando este dom incessante, chegamos a ver os limites de tudo o que perece, a loucura duma mentalidade consumista. De forma particular, começamos a compreender por que motivo a busca de novidade nos deixa insatisfeitos e desejosos de algo diferente.»
«Porventura não andamos nós à procura de um dom eterno? À procura da fonte que jamais se exaurirá? Com a samaritana exclamemos: Dá-me desta água, para que eu não sinta mais sede!»
«Jovens caríssimos» – continua o Papa –, «vimos que é o Espírito Santo quem realiza a maravilhosa comunhão dos crentes em Cristo Jesus. Fiel à sua natureza de dador e simultaneamente de dom, agora Ele está a actuar por meio de vós. Inspirados pelas intuições de Santo Agostinho, fazei com que o amor unificante seja a vossa medida; o amor duradouro seja o vosso desafio; o amor que se dá a vossa missão».

Realidade

Bento XVI disse aos jovens que «há momentos, porém, em que nos podemos sentir tentados a procurar certas satisfações fora de Deus», e fez a mesma pergunta que Cristo fez aos doze Apóstolos: «Também vós quereis retirar-vos?»
«Talvez um tal afastamento ofereça a ilusão da liberdade. Mas onde nos leva? Para quem havemos nós de ir? De facto, em nossos corações, sabemos que só o Senhor tem ‘palavras de vida eterna’.»

Citando Agostinho, Bento XVI diz que «o afastamento d’Ele é só uma tentativa vã de fugirmos de nós mesmos».
«Deus está connosco, não na fantasia, mas na realidade da vida», disse o Papa. «O que temos de procurar é enfrentar a realidade, não fugir dela. Por isso, o Espírito Santo atrai-nos delicada mas resolutamente para aquilo que é real, duradouro, verdadeiro. É o Espírito que nos reconduz à comunhão com a Trindade Santíssima!»


Sem comentários: