segunda-feira, 6 de outubro de 2008

POVOAÇÃO

Antigamente, a distribuição da habitação rural em Timor efectuava-se segundo dois modos fundamentais de povoamento: a aglomeração das casas em aldeamentos e o povoamento disperso em pequenos núcleos familiares isolados.
O modo de povoamento em dispersão devia-se a três factores, designadamente a natureza geográfica do território), as características sociais e culturais e o terceiro resultava da interacção destes dois, podendo conduzir, de acordo com as circunstâncias, à dispersão ou à concentração em aldeamentos.
O primeiro factor era o mais preponderante, pois tratando-se de um território montanhoso determina a fragmentação dos recursos naturais e, uma vez que a economia de subsistência assenta em culturas itinerantes e na horticultura mista, é necessária a disseminação do habitat, pois as pequenas superfícies de terras cultiváveis nas montanhas, só, podem fornecer alimentação a poucas famílias praticantes da cultura itinerante, que exige uma área múltipla das terras cultivadas num dado ano.
Por outro lado, a aglomeração de casas em aldeamento devia-se às constantes guerras entre os “Sucos”, surgindo a tendência de se agruparem em grandes aglomerados fortificados em locais de difícil acesso como um modo dos nativos se defenderam das guerrilhas e rapinagens.
Mais tarde, depois de assegurada a paz entre os reinos nativos rivais, devido à acção da administração portuguesa, os timorenses espalharam-se por todos os recantos da ilha.

A CASA

Nos primórdios do povo timorense, os belos da região norte, orientavam as suas das habitações segundo disposições simbólicas, ligadas a remotas tradições. Alguns implantavam-nas na direcção das montanhas mais altas, a terra das almas (mate-bian); outros, na direcção do mar, neste caso, o norte; e outros orientavam-nas para a região de onde, em tempos antigos, a gente nobre tomou as mulheres.

A forma como o remate da cobertura é construído permite distinguir dois tipos de casa. O primeiro - uma-rabi - é o mais vulgar, uma vez que o fecho da cobertura é de mais fácil construção e o segundo tipo é a uma-kakaduk. Em tempos remotos, ambos demarcavam zonas distintas no aldeamento, por pertencerem a famílias de diferentes linhagens e classe. Ainda hoje, a uma-kakadul confere distinção hierárquica aos seus ocupantes. Encontra-se, por vezes, um terceiro tipo, chamando uma-suco-sou, considerado o modelo de casa mais antigo, por pertencer aos melus, os primitivos ocupantes da ilha, hoje, completamente, diluídos na população.

“A casa tradicional timorense, de forma rectangular e assente em numerosos prumos, atinge, vulgarmente, 11 m de comprimento por 7 m de largura e é coberta, até 1 m do chão, por 4 águas muito inclinadas, revestidas a capim. As arestas de intercepção da cobertura são arredondadas, oferecendo, assim, uma resistência menor aos ventos das montanhas. As duas águas maiores interceptam-se, segundo uma aresta paralela ao eixo maior da habitação e definida pelo pau de fileira. O remate da cobertura distinguea a uma-rabi e a uma kakaduk. Na primeira, os molhos de capim apostos junto do pau de fileira são atados a este na altura em que se interceptam e unidos depois nas suas extremidades dos molhos do capim são acamadas por feixes de amuti, que se fixam por meio de traves colocadas, duas a duas, de ambos os lados da cumiera; um rebordo de caniço cruzado encima o conjunto e assegura a aderência perfeita do gamuti-elemento isolar-ao capim da cobertura.

O pau de fileira apoia-se em dois grossos pilares colocados nas extremidades. Estes dois postes, considerados sagrados, definem a compartimentação interna da casa em três zonas fundamentais: a varanda de entrada; a dependência cultural, de pavimento elevado em relação ao das outras divisões e, no outro extremo, uma terceira divisão eventual. A sala central, separada da varanda por uma parede de 1,5 de altura, comunica com esta por uma porta baixa e estreita situada junto do pilar principal, kaluk lor ou simplesmente, lor. Do lado oposto da sala, junto da lareira, ergue-se o kakaluk-rai ou “pilar da terra”. Kakaluk –lor significa “pilar do mar fundo” e relaciona-se com os mitos de origem e migração segundo os quais os antepassados teriam vindo de outras terras de além do mar. Testemunha também que, em tempos, a entrada da casa estava voltada na direcção do mar. Estes dois pilares são objectos ritos culturais por parte dos habitantes: no chão, junto dele, o chefe de família coloca um prato de pedra, o lor-fufu-hun e, sobre a lareira, depõe um outro, o lor-hun. Ambos servem de altar às cerimónias propiciatórias e neles colocam oferendas de natureza vária, aos espíritos protectores do lar. O centro de habitação destina-se à dormida e à preparação de alimentos. A lareira fica, aparentemente, separada do resto da sala por uma viga transversal (kotan). Esta sala é um sítio de ócio e dormida dos donos da casa e crianças.

No kahak-lor, estrado situado por cima da varanda de entrada, e no kradak, colocado sobre o compartimento posterior, guarda-se o arroz, a batata-doce e o amendoim. Sobre a lareira, numa arrecadação chamada kahak-rai, guarda-se o milho e o feijão, armazenados em sacos de fibra de palmeira. A lenha é arrumada debaixo do sobrado, que serve, igualmente, de abrigo aos porcos e galinhas.”
Os casais jovens e os rapazes dormem na varanda (selak), separados uns aos outros por esteiras verticais. Na região de língua tétum, as raparigas casadoiras repousam em pequenos lantens construídos junto da sala, onde a claridade é quase nula, a pouca luz e ar que lhes chega provém da porta principal da sala grande e dos intervalos das tábuas mal unidas do sobrado e das paredes.

Actualmente, as casas tradicionais ainda existem e são habitadas pelos autóctones, mas a habitação de construção europeia, em tijolo, encontra-se, igualmente, bastante difundida.

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