Sou Ir.
Maria Mendes, Missionária Serva do Espírito Santo. Comecei a sentir a vocação
missionária quando tinha 9 anos de idade. Sou duma família em que a fé era
vivida ao ritmo da vida e de forma simples. Todos os dias rezávamos o terço em
família. Tínhamos de ir à missa todos os domingos. O meu pai sempre nos contava
as histórias dos missionários que entregaram as suas vidas e partiram para
muito longe para ajudar as pessoas em necessidade. Isso ajudou-me a abrir o
coração e a pensar que eu também poderia, um dia, fazer o mesmo.
Os meus pais
eram muito simples. Eles educaram-nos a viver a fé cristã. Creio que a sua
educação influencia muito o meu modo de estar e agir, pois caracteriza a minha
história pessoal que traduz o que sou hoje.
Fiz a minha
formação religiosa em Timor Ocidental e, depois dos primeiros votos em 1995,
fui enviada a Timor Leste, minha terra natal. A experiência que vivi e os
factos que presenciei, especialmente em 1999, foram duros demais. O povo passou
pelas experiências de muita dor, desespero, tristeza, sofrimentos e uma
situação de trevas. Gostaria de dizer que os religiosos e religiosas que
trabalharam em Timor Leste, nessa altura da história, trouxeram perdão, paz,
esperança, consolo, alegria. Éramos segurança e proteção, dando um grande
contributo à vida dos timorenses, alguns com a sua própria vida. Naquele
momento eu tinha certeza de que Deus estava comigo. Senti muita força e coragem
para lutar e estar ao lado do povo. Mesmo estando cansada, sentia dentro de mim
o desafio de continuar e não desanimar. Fiquei no meio das pessoas que fugiram
e acompanhei-as, rezando o terço. Ficámos sempre em oração, entregando tudo nas
mãos de Deus. Como consequência de todo esse trabalho e com as consequências
que dele deriva, depois do referendo em 1999, tive que fugir de Timor para as
Filipinas por causa da situação política. Fiz os meus votos perpétuos nas
Filipinas e lá recebi o destino missionário para Portugal que tanto desejava.
Cheguei a
Portugal, terra do meu sonho, no fim do ano de 2001 e integrei-me na comunidade
de Casal de Cambra. Comecei a aprender a língua de Camões e, aos poucos, ia
conhecendo a realidade e as diferentes actividades que existem na paróquia das
quais participava com a minha presença e interesse por descobrir cada dia
coisas novas.
Tenho tido,
felizmente, muitas oportunidades na minha missão aqui em Portugal através da
minha congregação. Os momentos como a oração, a formação pessoal e permanente,
as animações missionárias, a catequese e outras experiências apostólicas
ajudam-me a ir descobrindo o desejo de partilhar a minha vida para que os
outros possam descobrir também a alegria de viver. As pessoas que encontro no
campo da missão são muito acolhedoras. Sinto que tenho lugar no coração deste
povo. O que recebo das pessoas é muito mais do que aquilo que eu possa dar. Eu
sinto-me profundamente amada por Deus.
Olhando para
trás, pelas experiências dolorosas que passei na minha pátria, Deus fez-me
crescer. Nas situações mais complicadas senti fortemente que Deus é o meu
Salvador. Aquela experiência desafiou-me a crescer mais na fé, na esperança e
na caridade. Não me sinto sozinha, tenho o apoio de toda a minha família e as
minhas irmãs da comunidade. A oração e o carinho de todos fazem parte do meu
dia-a-dia.
Manifesto a
minha profunda gratidão a Portugal e sobretudo aos missionários portugueses que
trouxeram o grão de mostarda do Evangelho, há quase quinhentos anos atrás, para
o nosso país e hoje, como timorense e com todos os timorenses, podemos dizer que
o grão transformou-se em árvore ramoso. E um dos ramos sou eu próprio. Creio
que a minha presença em Portugal não é mais para evangelizar mas, sobretudo,
para testemunhar a minha própria fé.
Agradeço a
Deus pelas experiências vividas nas diferentes etapas do meu crescimento. Amei
e amo cada uma delas e procuro viver, aproveitando sempre o máximo.
Portugal, 2014