CICATRIZES DE MÃE
Algumas crianças de nove anos a caminho de casa, no final de mais uma manhã de aulas, iam conversando sobre suas mães pelo caminho. Um deles porém virando-se para o Ricardo, disse-lhe, em tom de desprezo:
- “A tua mãe é feia. Aquela cicatriz horrível que tem na cara!”
Na verdade, a mãe do Ricardo, quando aparecia na escola, impressionava todas as crianças, o seu rosto, realmente, estava muito marcado por uma enorme cicatriz a todo o comprimento da cara no lado esquerdo. Ricardo, ao ouvir o que o colega disse sobre a sua mãe, desatou a correr, chegou a casa, passou diante da mãe e, sem a cumprimentar, deitou-se na cama, a chorar. A mãe, preocupada, entrou no quarto e sentou-se ao lado do filho.
- “Meu filho, porque não me deste um beijo quando chegas-te, como era costume? Estás zangado comigo?”
- “Vai-te embora, mãe, que és feia! Essa cara horrível, essas mãos horríveis ...”
- “Meu filho, meu filho! Tens razão – disse a mãe, magoada com o que ouviu, - eu sou feia e as minhas mãos são horríveis. Mas vou dizer-te porquê. Quando tu tinhas dois aninhos de idade, eu fui ajudar uma vizinha para ganhar o pão para nós. Alguém me foi dizer que a minha casa estava em chamas. Eu corri quanto pude. Os bombeiros já lá estavam apagando o fogo, mas não se atreviam a entrar. Eu ouvia-te a chorar lá dentro e rompi por entre as chamas, subi as escadas, que já ardiam, e fui direita ao berço onde te encontravas. Enrolei-te nos cobertores e saí o mais depressa que pude, Ao descer as escadas, uma trave ia cair sobre ti e eu defendi-te com as minhas costas, tendo-me um prego da trave, em brasa, rasgado a minha cara. Quando te entreguei na mão dos bombeiros, as minhas mãos estavam queimadas, os meu cabelos ardidos e a minha cara com esta enorme cicatriz. Meu filho, desculpa, nunca te quis dizer isto, mas não quero perder o teu amor. Foi para te salvar que fiquei no estado em que estou, que tenho as cicatrizes que tenho. Preferi a tua vida e prefiro mil vezes a tua vida do que a beleza da minha cara. Preferi e prefiro mil vezes usar esta peruca que esconde uma cabeça sem cabelo e cheia de feridas por causa do fogo que me queimou enquanto te sustinha nos meus braços, do que te ter perdido, meu querido filho.
Depois de lhe dar um beijo furtivo, retirou-se mas, mal tinha chegado à porta, o filho correu a abraçá-la e disse-lhe: - Mãezinha, desculpa! Eu gosto muito de ti!
Nesta história verídica, quero prestar homenagem às cicatrizes das nossas mães, da tua mãe em particular, cicatrizes no corpo e na alma, que lhes deixamos, pela entrega com que se deram a nós. De facto, quem pode descrever a sublime grandeza do amor de mãe? Nem o poeta com as marcas da sua fantasia; nem o pintor com a capacidade imaginativa das suas mãos; nem o cantor com as melodias mais formosas. Quem será o filho ingrato que se atreve a esquecer as lágrimas que sua mãe chorou, os sacrifícios que a sua mãe passou ou os conselhos que a sua mãe lhe deu?
Mãe! Expressão de sublimes sentimentos nas agruras da vida. Mãe! Manancial de virtudes no sacerdócio familiar. Mãe! Fonte de misericórdia de consolação e de afectos. Mãe! Sentinela, no campo de batalha; vigia, nos momentos de perigo; providência nos momentos de necessidade e conforto nas sombras da solidão. Sim, mãe! Ninguém te rivaliza em sacrifícios; ninguém supera o teu amor; ninguém te excede nas tribulações e ninguém te imita na grandeza das dores. Mãe! Palavra majestosa como a vastidão dos mares; meiga como o ciciar de uma brisa; bela como o surgir da aurora; forte como murmurar do trovão; mais perfumada que todos os perfumes; mais sonora que a mais bela melodia e mais fascinante que o brilho das estrelas ou a grandeza do Universo.
Na sua fragilidade materna, agiganta-se para defender o filho mesmo que tenha que passar pelo fogo sujeita a ficar sem a vida, ou marcada por milhões de cicatrizes, contando que salve a vida do seu rebento. Num meigo murmúrio de beijos e numa doce balada de enlevos acolhe o filho; intemerata, permanece diante dos perigos que o cercam; meiga nas enfermidades que o acabrunham; corajosa nos infortúnios que o perseguem; compadecente nos delitos que comete; espalhando alívio nas suas mágoas, alívio nas suas tristezas, ânimo nas suas lágrimas; coragem na sua resignação. E com que ternura desvendou os Mistérios ao filho, que levava no seu colo, quando foi à comunhão:
“Minha mãe, que era aquilo que deu o senhor abade, vestido de branco à grade?...”
“Fala baixinho, menino…estás na mesa do Senhor, Silêncio…reza…fervor…”
“Mas tu, ó mãe, diz-me o que era? Tão bonita parecias, quando alegre recebias aquela coisinha branca”.
“Filho, aquilo era Jesus! Quis ficar prisioneiro no alvo pão que abençoou…e tu cuidas que ele dorme?... Não, lindo infante, desperto vela a cada instante por todos, por mim e por ti e d`amor vive preso ali!...”
E agora pergunto eu:
Existe mais alguém,
Com valor superior,
Ao da tua própria mãe?
Nos sacrifícios e nos afectos,
Na entrega e no amor,
Digam lá o que disserem
Ninguém lhe é superior!
Tenham valor as pérolas
E tudo o que o mundo contém,
Mas há valor mais precioso
Que as cicatrizes da mãe?
FELIZ DIA DA MÃE!
Feliz Mês da Mãe!
Padre Frei José Dias de Lima OFM