( Homilia do Pe. José Câncio Costa Gomes, SDB, no dia 28 de Novembro, missa de comudade timorense em Lisboa)
Primeiro Domingo do Advento (Ano C)
Entramos já no novo ano litúrgico, e começamos com o tempo Advento. É o tempo de preparação para uma grande recepção do Senhor que virá para salvar-nos e libertar-nos. A preparação deve começar de nossa mente e de nosso coração. Essa implica penitência e conversão pessoal, que é um esforço para mudar atitude mental inclinada para o mal. Nesse tempo também é o momento de formação e de aprendizagem por orando e meditando a palavra de Deus como discípulos de Cristo. Portanto, Advento é o tempo de penitência aprendendo acolher as pessoas como uma acção de amor seguindo aquilo que Jesus fazia com os pecadores e os vulneráveis, os necessitados/pobres e corações atribulados. Cristo veio para os acolher embora que o próprio Cristo não fosse acolhido por muitos desde o seu nascimento até a sua morte.
Caros irmãos compatriotas, iniciamos este momento forte com o dia memorável da nossa libertação. Lembramos os momentos da nossa luta pela independência. Muitas vezes pensemos que nós lutamos contra as pessoas invasoras (estrangeiras), mas sim lutamos contra a maldade que reina na mente e no coração das pessoas. Ninguém é mau, todas as pessoas são boas, por isso que Deus veio para salvá-las. Tudo depende de percepção e convicção de cada um. Temos que tomar consciência para reflectir os nossos pontos altos e baixos. Meus irmãos, a raiz do nosso sofrimento prolongado é a divisão entre nós, fomos conquistados pelo mal, estávamos sob o reinado do maligno. Devemos entender a libertação em todos aspectos de vida ou uma libertação integral que enquadra todas as dimensões de vida. A nossa divisão interna nos anos 70s tornou-se uma doença agravada que precisa de curar, a relação entre nós ainda está injusta. Ainda há muros que nos separem, o ódio e a vingança do nosso passado ainda permanecem, a arrogância e o egoísmo ainda nos reinam. Agora é o tempo para sararmos as nossas feridas nos nossos relacionamentos na sociedade. Precisamos uma relação verdadeiramente justa.
Meus irmãos, nós já estamos perto do Natal. Meditamos a mensagem de amor que Jesus trouxe para o mundo e para cada um de nós. Cristo não trouxe nenhuma coisa nova da sua mensagem, mas simplesmente para afirmar coisas que um ser humano deveria ter. Ele vem ajudar-nos para realizar os nossos desejos e anseios profundos; os desejos para sermos alegres e felizes, os anseios para vivermos eternamente e sermos livres para sempre. Essas são mensagens de amor, da paz e da justiça, que nos convidam para criar amizade entre nós. Os valores celestes são a elevação destes valores humanos; se quisermos ser salvos então temos que viver em plenitude esses valores implicados na mensagem de Jesus.
O evangelho hoje fala-nos sobre o fim. Observamos as notícias nos jornais sobre catástrofes e desastres naturais, o aquecimento global que causa o fim imediato de massa dos gelos nos pólos norte e sul com risco de subida do volume do mar que vai submergir muitas partes da habitação humana ao longo das costas, as doenças incuráveis, etc. Caríssimos irmãos, estes anúncios não são ameaças para nós, mas sim são desafios e dão-nos oportunidades para nossa purificação e conversão. Muitas vezes nós somos catalisadores do nosso fim e do fim da natureza. Talvez estamos numa fase da queda da civilização humana. Há guerras em todo o mundo, crimes contra a humanidade e contra a natureza. Isso é trabalho do maligno que reina na mente de certas pessoas. O fim referido na Bíblia é a libertação quer neste mundo quer noutro.
Haverá a libertação total e final de todo o mal, tais como do sofrimento e da morte, da guerra e da injustiça, da doença e da pobreza. A mensagem de Jesus Cristo implica a libertação das condições injustas e desumanas. Não podemos separar o nosso bem-estar de nossa salvação eterna. Temos que ter os olhos fixos a Jesus imitando os seus exemplos; aquilo que Ele pretendia dizer é aquilo que Ele fazia/praticava durante a sua vida. Daí que podemos definir a santidade como a realização plena de um ser humano. Não podemos falar o assunto de salvação sem ligar de nada com a nossa experiência de dia a dia. A santidade implica sempre a humanidade, porque somente os humanos que possam atingir aquela perfeição ou realização plena dos seus desejos e anseios. Por isso, a nossa condição social faz parte integral na mensagem evangélica que Jesus Cristo deixou.
Na primeira leitura Jeremias retrata uma situação ideal que os judeus deportados aspiravam, também aquela que é os desejos profundos da humanidade. Ele fala de esperança na tribulação para elevar o espírito do seu povo que estava desesperado. São Paulo na segunda leitura fala-nos sobre a caridade mútua par concretizar a comunhão fraterna como uma família em Jesus Cristo. Existe um paralelismo entre a primeira leitura com o evangelho hoje retratando os sinais da libertação total, que é o fim de tudo. Isso é uma condição ideal que todos nós desejamos para que seja realizada na sociedade Timor Leste e na nossa família.
Irmãos e irmãs, a salvação é uma oferta com os seus desafios para quem quiser. Tudo depende de cada um de nós. Para o bem ou para o mal, a decisão é nossa. Os nossos grandes desafios hoje são consumismo e egoísmo que nos dividem talvez muito radical. A nossa independência como um Povo e País ainda precisa muitas coisas de nós, principalmente a nossa unidade para criarmos aquela condição que nós desejamos e Deus também a deseja. Aquelas duas tentações também crescem e já estão enraizadas profundamente em Timor. Pedimos ao Senhor nos conceda a força e coragem para lutar contra o mal que nos reina e divide.
Lisboa, 28 de Novembro de 2009
Pe. Câncio