Há dez anos, no dia 30 de agosto de 1999, durante votação organizada pela ONU, 78% dos eleitores timorenses se pronunciaram pela independência da Indonésia, que ocupava o país desde a retirada dos colonizadores portugueses, em 1975.
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
Timor Leste celebra o décimo aniversário do referendo sobre sua independência
Há dez anos, no dia 30 de agosto de 1999, durante votação organizada pela ONU, 78% dos eleitores timorenses se pronunciaram pela independência da Indonésia, que ocupava o país desde a retirada dos colonizadores portugueses, em 1975.
sábado, 29 de agosto de 2009
Referendo - 10 Anos – A CONSULTA POPULAR FOI MEMORÁVEL
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
Queridos jovens!
Por ocasião da XXII Jornada Mundial da Juventude, que será celebrada nas dioceses no próximo Domingo de Ramos, gostaria de propor à vossa meditação as palavras de Jesus: "que vos ameis uns aos outros assim como Eu vos amei" (Jo 13, 34).
É possível amar?
Cada pessoa sente o desejo de amar e ser amada. Mas como é difícil amar, quantos erros e falências se verificam no amor! Há até quem chegue a duvidar se o amor é possível. Mas se carências afectivas ou desilusões sentimentais podem levar a pensar que amar é uma utopia, um sonho irrealizável, será solução resignar-se? Não! O amor é possível e a finalidade desta mensagem é contribuir para reavivar em cada um de vós, que sois o futuro e a esperança da humanidade, a confiança no amor verdadeiro, fiel e forte; um amor que gera paz e alegria; um amor que une as pessoas, fazendo-as sentir-se livres no respeito mútuo. Deixai então que eu percorra juntamente convosco um itinerário, em três tempos, na "descoberta" do amor.
Deus, fonte do amor
O primeiro tempo refere-se à fonte do amor verdadeiro, que é única: Deus. São João faz ressaltar bem este aspecto ao afirmar que "Deus é amor" (1 Jo 4, 8.16); agora ele não quer dizer apenas que Deus nos ama, mas que o próprio ser de Deus é amor. Estamos aqui diante da revelação mais luminosa da fonte do amor que é o mistério trinitário: em Deus, uno e trino, há um intercâmbio eterno de amor entre as pessoas do Pai e do Filho, e este amor não é uma energia ou um sentimento, mas uma pessoa, o Espírito Santo.
A Cruz de Cristo revela plenamente o amor de Deus
Como se nos manifesta o Deus-Amor?
Amar o próximo como Cristo nos ama
Chegamos agora ao terceiro tempo da nossa reflexão. Na cruz Cristo grita: "Tenho sede" (Jo 19, 28). Revela assim uma sede ardente de amar e de ser amado por todos nós. Só quando conseguirmos compreender a profundeza e a intensidade deste mistério, nos aperceberemos da necessidade e da urgência de o amarmos "como" Ele nos amou. Isto exige o compromisso de dar também, se for necessário, a própria vida pelos irmãos sustentados pelo Seu amor. Já no Antigo Testamento Deus dissera: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Lv 19, 18), mas a novidade de Cristo consiste no facto de que amar como Ele nos amou significa amar todos, sem distinções, também os inimigos, "até ao fim" (cf. Jo 13, 1).
Testemunhas do amor de Cristo
Gostaria agora de me deter sobre três âmbitos da vida quotidiana onde vós, queridos jovens, sois particularmente chamados a manifestar o amor de Deus. O primeiro é a Igreja que é a nossa família espiritual, composta por todos os discípulos de Cristo. Recordando-nos das suas palavras: "Por isso é que todos conhecerão que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13, 35), alimentai, com o vosso entusiasmo e com a vossa caridade, as actividades das paróquias, das comunidades, dos movimentos eclesiais e dos grupos juvenis aos quais pertenceis. Sede solícitos em procurar o bem do próximo, fiéis aos compromissos assumidos. Não hesiteis em renunciar com alegria a alguns dos vossos divertimentos, aceitai de bom grado os sacrifícios necessários, testemunhai o vosso amor fiel a Jesus anunciando o seu Evangelho especialmente aos vossos contemporâneos.
Preparar-se para o futuro
O segundo âmbito, no qual sois chamados a expressar o amor e a crescer nele, é a preparação para o futuro que vos espera. Se sois noivos, Deus tem um projecto de amor para o vosso futuro de casal e de família e por conseguinte é essencial que o descubrais com a ajuda da Igreja, livres do preconceito difundido de que o cristianismo, com os seus mandamentos e as suas proibições, constitui obstáculos à alegria do amor e impede sobretudo de viver plenamente aquela felicidade que o homem e a mulher procuram no seu amor recíproco. O amor do homem e da mulher está na origem da família humana, e o casal formado por um homem e por uma mulher tem o seu fundamento no desígnio original de Deus (Gn 2, 18-25). Aprender a amar-se como casal é um caminho maravilhoso, que contudo exige uma aprendizagem laboriosa. O período do noivado, fundamental para construir o casal, é um tempo de expectativa e de preparação, que deve ser vivido na castidade dos gestos e das palavras. Isto permite amadurecer no amor, na solicitude e nas atenções ao outro; ajuda a exercer o domínio de si, a desenvolver o respeito do outro, características do verdadeiro amor que não procura em primeiro lugar a própria satisfação nem o seu bem-estar. Na oração comum, pedi ao Senhor que guarde e incremente o vosso amor e o purifique de qualquer egoísmo. Não hesiteis em responder generosamente à chamada do Senhor, porque o matrimónio cristão é uma verdadeira e autêntica vocação na Igreja. De igual modo, queridos jovens e queridas jovens, estai preparados para dizer "sim", se Deus vos chamar a segui-lo pelo caminho do sacerdócio ministerial ou da vida consagrada. O vosso exemplo servirá de encorajamento para muitos outros vossos contemporâneos, que estão em busca da verdadeira felicidade.
Crescer no amor todos os dias
O terceiro âmbito do compromisso que o amor exige é o da vida quotidiana nos seus diversos aspectos. Refiro-me sobretudo à família, à escola, ao trabalho e ao tempo livre. Queridos jovens, cultivai os vossos talentos não só para conquistar uma posição social, mas também para ajudar os outros "a crescer". Desenvolvei as vossas capacidades, não só para vos tornardes mais "competitivos" e "produtivos", mas para serdes "testemunhas da caridade". Juntai à formação profissional o esforço de adquirir conhecimentos religiosos úteis, para poder desempenhar a vossa missão de modo responsável. Convido-vos sobretudo a aprofundar a Doutrina Social da Igreja, para que a vossa acção no mundo seja inspirada e iluminada pelos seus princípios. O Espírito Santo faça com que sejais inovadores na caridade, perseverantes nos compromissos que assumis, e audaciosos nas vossas iniciativas, a fim de que possais oferecer o vosso contributo para a edificação da "civilização do amor". O horizonte do amor é verdadeiramente ilimitado: é o mundo inteiro!
"Atrever-se a amar" seguindo o exemplo dos santos
Queridos jovens, gostaria de vos convidar a "atrever-se a amar", isto é, a não desejar mais do que um amor forte e belo, capaz de tornar toda a existência uma jubilosa realização da doação de vós próprios a Deus e aos irmãos, à imitação d'Aquele que mediante o amor venceu para sempre o ódio e a morte (cf. Ap 5, 13). O amor é a única força capaz de mudar o coração do homem e a humanidade inteira, tornando frutíferas as relações entre homens e mulheres, entre ricos e pobres, entre culturas e civilizações. Disto dá testemunho a vida dos Santos que, verdadeiros amigos de Deus, são o canal e o reflexo deste amor original. Comprometei-vos a conhecê-los melhor, entregai-vos à sua intercessão, procurai viver como eles. Limito-me a citar Madre Teresa que, para se apressar a responder ao grito de Cristo "Tenho sede", grito que a comoveu profundamente, começou a recolher os moribundos nas estradas de Calcutá, na Índia. A partir de então, o único desejo da sua vida tornou-se o de extinguir a sede de amor de Jesus, não com palavras, mas com gestos concretos, reconhecendo o seu rosto desfigurado, sequioso de amor, no rosto dos mais pobres. A Beata Teresa pôs em prática o ensinamento do Senhor: "Sempre que fizerdes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes" (Mt 25, 40). E a mensagem desta humilde testemunha do amor divino difundiu-se por todo o mundo.
O segredo do amor
Queridos amigos, a cada um de nós só é concedido alcançar este grau de amor se recorrermos ao indispensável apoio da graça divina. Só a ajuda do Senhor nos permite, de facto, evitar a resignação diante da grandiosidade da tarefa a ser desenvolvida e infunde-nos a coragem de realizar quanto é humanamente impensável. Sobretudo a Eucaristia é a grande escola do amor. Quando se participa regularmente e com devoção na Santa Missa, quando se vivem na companhia de Jesus Eucarístico pausas prolongadas de adoração, é mais fácil compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do seu amor que ultrapassa todo o conhecimento (cf. Ef 3, 17-18). Partilhando o Pão eucarístico com os irmãos da comunidade eclesial sentimo-nos depois estimulados a converter com prontidão, como fez a Virgem com Isabel, o amor de Cristo em generoso serviço aos irmãos.
Rumo ao encontro de Sidney
A este propósito, é iluminadora a exortação do apóstolo João: "Meus filhinhos, não amemos com palavras e com a boca, mas com obras e de verdade. Por isto conheceremos que somos da verdade" (1 Jo 3, 18-19). Queridos jovens, é com este espírito que vos convido a viver a próxima Jornada Mundial da Juventude juntamente com os vossos Bispos nas vossas respectivas dioceses. Ela representará uma etapa importante rumo ao encontro de Sidney, cujo tema será: "Ides receber uma força, a do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas" (Act 1, 8).
Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, ajudar-vos-á a fazer ressoar em toda a parte o grito que mudou o mundo: "Deus é amor!". Acompanho-vos com a oração e abençoo-vos de coração.
Vaticano, 27 de Janeiro de 2007.
BENTO XVI
Taman yang indah...
sábado, 15 de agosto de 2009
O Timor Leste Hoje
Indicações Bibliográficas
WALDMAN, Maurício, 1993, Em Timor-Leste, A Luta Continua, artigo in Dossier “Véspera”, número 247, de 07/03/1993, AGEN - Agência Ecumênica de Notícias, São Paulo. Artigo disponibilizado na seção de história do site www.mw.pro.br;
WALDMAN, Maurício et SERRANO, Carlos, 1997, Brava Gente de Timor, Prefácio de Noam Chomsky, Editora Xamã, São Paulo, SP.
Timor: Um Cadinho de Esperanças
A jovem república conta com o apoio solidário do espaço lusófono e neste, com toda a rica experiência do Brasil no domínio da tropicalidade. Conta com a simpatia comprovada dos grupos democráticos, progressistas e de apoio ao Terceiro Mundo. Conta com as Ongs populares. Conta com as proposições alternativas e inovadoras, factíveis de transformar Timor num novo espaço de experiências para o conjunto dos seus povos.
Os timorenses contam enfim com um mundo inteiro, inteiro demais para que seu jovem e simpático país deixe de despontar no futuro como um exemplo na constelação de países que povoam o nosso planeta!
A Organização do Espaço Timorense
Embora a sociedade timorense tenha vivenciado, a partir do contato com os portugueses, mudanças em diversos aspectos, isto não implicou na desarticulação da vida tradicional, pois Timor ocupava uma posição marginal no Império Colonial Português. As atividades prediletas do mercantilismo português - o comércio de especiarias, agricultura de plantation, tráfico de escravos e a obtenção de metais preciosos - não eram sob qualquer ponto de vista favorecidas em Timor. Mesmo as especiarias - produtos típicos da Insulíndia - se concentravam nas ilhas mais a Oeste (as Molucas) ou a Leste (Java e Sumatra).
A grande riqueza do Timor colonial, a madeira do sândalo, esgotou-se logo nos primeiros momentos da colonização. Somente a partir do Século XIX, com o crescimento da demanda internacional pelo café, o país volta a figurar no mapa econômico português. O café timorense, de excelente qualidade, retinha um papel suplementar junto à economia tradicional, tornando-se o principal item da pauta de exportações do Timor Português (80% do total).
Embora fossem conhecidas (ou parcialmente exploradas) jazidas de cobre, de ouro, manganês, mármore azul - e em particular as fabulosas reservas de gás e petróleo - país permaneceu essencialmente agrícola, tendo o milho e o arroz como principais cultivos. A pesca era (e ainda é) explorada artesanalmente pelas populações costeiras. A caça conquistava certa proeminência na sociedade tradicional, incorporada à pauta alimentar ou fornecendo “bens de prestígio” (peles e penas raras).
Devido ao isolamento, Timor Oriental, contrariamente às demais colônias portuguesas, orientou seu comércio mais na direção dos países da região do que para a metrópole. Fato notório, Portugal investiu grande parte das suas energias nas colônias africanas, notadamente Angola e Moçambique. O nível de vida do Timor Português permaneceu muito baixo, não diferindo, contudo do encontrado na parte ocidental da ilha.
Este contexto explica a fraca articulação da rede urbana. Pouco expressiva, era composta por vilarejos geralmente dispostos ao longo da planície litorânea, servindo de suporte ao domínio colonial. Díli, a capital, contava em 1970 com apenas 18.000 habitantes. Os demais núcleos urbanos, como Lospalos, Baucau, Viqueque, Same, Ainaro, Balibo, Manatuto, Maubara e Liquiça, embora importantes na vida do país eram ainda mais modestos.
Esta organização espacial, que durante décadas caracterizou o espaço timorense, foi dilacerada pela ocupação Indonésia e rearticulada de modo a favorecer o novo ocupante, muito mais sequioso de explorar as riquezas do país. Os traumas provocados pela decidida atitude dos novos colonizadores em saquear o país constituem ainda hoje um dos desafios a serem enfrentados pela RDTL.
Impactos da Invasão Indonésia e a Independência
Conforme já registramos, a presença portuguesa no Timor-Leste, introduziu mudanças e intercâmbios que se sedimentaram lentamente ao longo de quase cinco séculos de história. Nada disto pode obscurecer o fato evidente de que a dominação portuguesa foi marcada, como é próprio de qualquer situação colonial, pela opressão e subserviência da colônia à metrópole, e indiscutivelmente, sempre na direção de favorecer economicamente os mandatários.
No entanto, em nada a administração portuguesa poderia ser equiparada em termos da brutalidade e desumanidade com as duas décadas e meia de ocupação da Indonésia. Ao contrário dos portugueses, os indonésios promoveram alterações radicais no país.
A grande meta dos indonésios era o petróleo. Timor detém uma das maiores jazidas de petróleo e de gás natural do mundo. Deste modo, muitos concordam com a avaliação pela qual o controle destas jazidas seria um dos principais motivos da invasão. O petróleo também constituiu elemento de barganha para a Indonésia obter o apoio da Austrália à anexação, com a qual foi acertada a partilha do recurso através do infame Tratado chamado Timor Gap (1989).
À espoliação econômica, somaram-se os impactos decorrentes dos deslocamentos forçado
s de população, colonização da ilha com etnias estranhas ao território, destruição do meio ambiente, repressão cultural e sumamente, o massacre puro e simples dos mauberes, produzindo duras seqüelas, das quais os timorenses até hoje se ressentem. Não por acaso, Timor é a nação mais pobre da Ásia.
Nobel para Timor
Dois filhos da terra de Timor, José Ramos-Horta, considerado o rosto da resistência maubere no exterior e o Bispo D. Ximenes Belo, foram laureados com o Nobel da Paz de 1996. Esta decisão foi considerada como das mais polêmicas da história do Nobel da Paz. Tratou-se de um inequívoco reconhecimento do direito do povo maubere a autodeterminação nacional.
A ocupação Indonésia alterou drasticamente os dados básicos da demografia timorense. Uma das conseqüências da invasão foi um acelerado “processo de urbanização” resultante da fuga em massa da população civil das áreas de conflito ou pelos deslocamentos induzidos pelas tropas de ocupação. Por isso mesmo ocorreu, em termos da realidade timorense, um “inchaço urbano” em várias cidades do território.
Em 2003, refletindo este drástico processo ocorrido em 25 anos, Díli, que nos anos 70 possuía 18.000 habitantes, alcançava 50.800 habitantes; Dae, 18.100; Baucau, 15.000; Maliana, 13.000; Ermera, 12.600; Aubá 6.600 e Suai, 6.400 (World Gazeteen).
Recorde-se que em Timor, tal como em outros países crivados por conflitos, a expansão urbana raramente é sinal de qualidade de vida, mas sim de favelamento, más condições sanitárias, falta de oportunidades, etc.
Porém, acima de tudo o povo maubere ressente-se das perdas humanas. Acredita-se que durante a ocupação (1975-1999) cerca de 200.000 pessoas, ou seja, 1/3 da população total, tenha sido dizimada pelo exército da Indonésia. Este genocídio reuniria, pois características “judaicas” (pois como no caso dos judeus uma terça parte do grupo foi morta), assim como “armênias” (face ao primitivismo dos métodos de eliminação praticados pelo exército indonésio).
Praticado com uma impiedosa determinação, o massacre do povo maubere foi pouco noticiado no exterior. Uma dos raros registros destes acontecimentos foi a cobertura realizada pelo cineasta Max Stahl do massacre no cemitério de Santa Cruz, ocorrido em 1991 em Díli, quando os indonésios massacraram dezenas de civis.
A resistência contou com reduzida rede de apoios no exterior, praticamente restrita a setores da Igreja Católica, nações de língua portuguesa na África e a opinião pública de Portugal. A dificuldade em agremiar apoio foi tanto decorrente da luta desenvolver-se em um país distante e pouco conhecido, quanto pelo apoio ocidental à Indonésia, favorecendo a aceitação de uma situação “de fato”.
Os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP): Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique, destacaram-se no apoio à luta do povo maubere. Registra o Relatório de 1982 da Delegação Central da FRETILIN em Missão de Serviço no Exterior do País: “Na nossa luta pela libertação nacional, os cinco Países irmãos de África que conosco sofreram o colonialismo português tem sido a nossa retaguarda segura. A sua experiência vitoriosa tem sido uma fonte constante de ensinamentos; o seu prestígio internacional tem contribuído para as nossas vitórias diplomáticas. A sua experiência diplomática tem sido posta a serviço do Povo Maubere. Em todas as instâncias internacionais, o Timor Leste tem estado na primeira linha de preocupações dos dirigentes e dos quadros dos cinco Estados irmãos”.
Seguramente, ante a uma situação como esta, restavam aos mauberes duas alternativas: submeter-se ou lutar. Escolheram lutar. Iniciada em 1975, a resistência continuada dos mauberes forçou a Indonésia finalmente a anunciar em 1999, a realização de um referendo, propondo independência ou autonomia. 80% dos timorenses optaram pela independência.
Ainda assim não havia terminado a “algema de lágrimas” do povo maubere. A reação do exército indonésio e das milícias ligadas ao aparato de repressão originou novos massacres e destruição generalizada do país. O resultado inequívoco do plebiscito, acompanhado do clamor mundial contrário à Indonésia, respaldou a entrada em cena da ONU no território.
A UNTAET (United Nations Transitional Administration in East Timor), assumiu o exercício da administração do território, conduzindo-o finalmente à independência em 2002. E, a testa da nova República está um veterano da luta pela independência: José Alexandre “Xanana” Gusmão, a quem se requisita a totalidade do seu conhecimento político para conduzir os primeiros passos da nova república.
TIMOR LESTE
A ilha é uma das últimas que formam a Insulíndia. Esta região é formada por arquipélagos de variada extensão, que se espalham em arco entre a Malásia e a Austrália. Deste modo, de um ponto de vista geográfico, histórico e cultural, Timor corresponde a uma área de transição, combinando características asiáticas e do contexto oceânico.
Timor soma aproximadamente 30.000 km², sendo uma das ilhas que compõem o Arquipélago de Sonda, igualmente parte da Insulíndia. Timor possui formato ablongo, interpretado pelo imaginário local como sendo o contorno de um crocodilo. Este, aliás, é um dos símbolos do país. A ilha está orientada na direção Sudoeste/Nordeste. Ao Sul e Leste é banhado pelo Oceano Índico (Mar de Timor) e ao Norte, pelo Mar de Banda.
O país possui vários picos ultrapassando 2.000 metros, configurando um território escarpado. Muitas das montanhas findam abruptamente no mar ao largo da costa setentrional. No interior, as ramificações da cadeia montanhosa central formam grande número de vales, rugosidades típicas do relevo de vastas extensões do território timorense.
O clima é equatorial, com temperaturas elevadas e a amplitude térmica pouco significativa. Entre Outubro e Dezembro ocorre o período mais quente. Timor-Leste está inserido na área de ocorrência das monções, influenciando sua pluviometria. Conseqüentemente, uma forte estação chuvosa ocorre entre Dezembro e Março.
A floresta equatorial constitui uma das mais magníficas manifestações da vegetação original de Timor. A capacidade desta cobertura vegetal em fornecer alimento, lenha e proteção foi desde cedo apreciada pelas diversas etnias que ocuparam o território timorense. A presença abundante do sândalo, coqueiros e acácias constitui uma marca notável da exuberante flora do país.
Pântanos, mangues e clareiras formadas por extensões savaneiras e de campos completam o quadro biogeográfico do país.
Um Pouco da História de Timor
Fontes chinesas, indianas, árabes e malaias indicam a existência de laços comerciais muito antigos com Timor. A partir dos primórdios do Século XVI, no contexto das grandes navegações, seu território foi declarado integrante do império português. Mais tarde, a Holanda disputou o controle da ilha com Portugal, terminando por ocupar sua parte Oeste (Ocidental).
As disputas pela posse do país perduraram até o Século XX. Timor foi o último baluarte da presença portuguesa na Oceania, vivendo em permanente instabilidade provocada pelos cercos e combates com os holandeses. Somente em 1914 a linha fronteiriça com os Países Baixos foi fixada definitivamente, consagrando a divisão de Timor entre as duas potências européias.
A delimitação das esferas de influência em Timor contemplou Portugal com a metade Oriental e a Holanda, com a metade ocidental. No interior da metade holandesa, foi reconhecida a soberania portuguesa sobre o enclave de Oe-Cusse (Ocussi ou ainda Ambeno). Neste enclave, localizava-se a primeira sede administrativa do Timor Português, a cidade de Ocussi. Ademais, também coube a Portugal a ilha de Atauro, na Costa Norte e o ilhéu de Jacó, na ponta Leste.
Ressalve-se que durante a maior parte da sua história o vasto interior do Timor permaneceu livre da dominação portuguesa, que se restringia a alguns povoados do litoral. A ocupação do áspero hinterland montanhoso do país foi muito difícil, dificultado pela resistência da população local - também conhecida como maubere - ao domínio português.
Os portugueses não encontraram um território desabitado e muito menos carente de organização política. Os timorenses encontravam-se organizados em diversas formações políticas, definidas pelos cronistas coloniais como “Reinos”. Denominados de Sucos pela população local, estas estruturas políticas tinham nos Liurais ou Régulos, chefes políticos tradicionais, sua representação mais evidente.
Assim, longe de manterem-se impassíveis, os povos locais resistiram como puderam ao colonialismo, encetando diversas insurreições anticoloniais: Kamenasse-Kailako (1719/1726), Luka (1775/1882), Kova-Kotubaba (1865/1912) e Manu-Fahi (1895/1912). Estas rebeliões acabaram por compelir Portugal a organizar “campanhas de pacificação”, ações militares que se prolongaram por quase 20 anos (1984/1912).
No tocante ao Timor Holandês, este integrava as Índias Orientais Neerlandesas, sob domínio dos Países Baixos. Tornou-se independente em 1945 no interior da República da Indonésia. A Indonésia foi governada por Ahmed Sukarno, um importante líder progressista que encaminhou uma política nacionalista e de contestação ao neocolonialismo. Por isso mesmo, um sangrento golpe de estado promovido por militares pró-ocidentais e apoiado pelos EUA afastou-o do poder em 1965.
Quanto ao Timor Português, este permaneceu sob domínio colonial até 1975. Em Abril de 1974, eclodiu em Portugal a Revolução dos Cravos, derrubando o regime salazarista. O movimento tinha como um dos seus principais objetivos a retirada de Portugal de todas as suas possessões. Em Timor, tal como nas demais colônias, a autonomia finalizaria uma ocupação colonial repudiada pelo conjunto dos nacionalistas.
No entanto, apesar de todas as colônias africanas de Portugal terem alcançado a independência, o mesmo não aconteceu com Timor. A República Democrática de Timor-Leste (RDTL), proclamada pela primeira vez pela FRETILIN (Frente Revolucionária do Timor Leste Independente) em 28 de Novembro de 1975, teve existência efêmera.
Apenas dez dias após a proclamação da independência, iniciou-se em 07 de Dezembro de 1975 a invasão de Timor pela Indonésia. Preparada durante meses pelo Exército deste país com o apoio logístico da administração Gerald Ford, dos EUA, sua intenção era promover a Integrasi, ou seja, a anexação do Timor-Leste à Indonésia.
A invasão inaugurou uma era de repressão, violências e de genocídio físico e cultural sem precedentes na história do território. Ela foi desenvolvida sob o comando do General Suharto, líder do grupo militar que dez anos antes tinha tomado o poder na Indonésia. Sua meta era a transformação do Timor-Leste na “27ª Província da Indonésia”, rebatizado Loro Sae. Com isto, os militares objetivavam assenhorar-se das riquezas do Timor-Leste e liquidar para sempre com o sonho de independência dos seus habitantes.
Naturalmente, a anexação não possuía qualquer amparo legal e, por conseguinte, não foi reconhecida pelo Comitê de Descolonização da ONU. A Organização das Nações Unidas continuou a considerar Portugal como “potência administradora” do país, desqualificando juridicamente a Integrasi promovida pela Indonésia.
O povo timorense repudiou de modo quase unânime os intentos dos invasores estrangeiros. Após muitos anos de duras lutas e resistência ao invasor, o Timor-Leste finalmente conquistou sua independência em 2002.
A RDTL ressurgiu em 2002 como o mais novo Estado soberano do IIº Milênio, uma nação cujas características a transformam num país irmão do conjunto dos brasileiros e numa fonte das novas possibilidades que se desenham no futuro.
A Pluralidade Timorense no Tempo e no Espaço
Como vimos, Timor possui relevo acidentado, repleto de escarpas e vales montanhosos. Os ecossistemas são também diversificados. Este quadro natural, composto por “nichos ecológicos” bem caracterizados, constituiu importante apoio para a perpetuação da diversidade humana na ilha. Isto porque os grupos étnicos de Timor sempre mantiveram forte identificação com determinados ambientes naturais da ilha.
Conseqüentemente, a diversidade do mundo tradicional timorense tanto foi sustentada pelo quadro natural do país assim como este também constituiu condição para esta perpetuação. A relação de equilíbrio mantida com a Natureza fortaleceu a tendência de heterogeneidade da sociedade tradicional maubere, não sendo possível pensar-se numa destas inferências sem a sua contrapartida e vice-versa.
Por isso mesmo, não há um tipo timorense homogêneo. Dum ponto de vista antropológico, os mauberes diferem enormemente entre si. Sem excluir os traços comuns a todas as suas populações, o fato é que estamos diante de um universo crivado de alto a baixo pela heterogeneidade, mantida durante o período colonial.
A manutenção desta diversidade sob domínio português resultou tanto da escassa inserção do colonizador no país, que nunca reuniu condições de homogeneizar culturalmente o Timor Oriental, quanto pela política de exaltar deliberadamente as diferenças como parte de uma estratégia visando manter os mauberes em desunião permanente.
A isto se agrega o fato do país caracterizar-se, desde passado remoto, por densa presença humana. Em 1979, a população do Timor Oriental somava 740.000 almas, isto é, algo como 39 hab/km², cifra bastante significativa para uma sociedade tradicional. A sociedade maubere era basicamente rural e o timorense típico, habitante de uma das centenas de aldeias disseminadas no território da ilha, assentamentos via de regra imemoriais.
Outro aspecto importante no Timor português é que a população autóctone sempre foi majoritária. Por exemplo, os dados oficiais de 1950 relativos à população contabilizavam 442.378 habitantes. Nestes, os europeus somavam 568 indivíduos (quase todos portugueses), os mestiços, 2.022 (geralmente pai português e mãe maubere), os chineses, 3.128 (em sua maioria comerciantes) e outros não-indígenas, como árabes e goeses (naturais de Goa, então parte da chamada Índia Portuguesa), 212. Estavam também identificados 1.541 “indígenas civilizados”, assimilados ao modo de vida do colonizador.
Os dados evidenciam que a imensa maioria da população (98%) era formada por mauberes, milenarmente estabelecidos no país. O substrato original da população local, assim como dos habitantes das ilhas dos arredores e da Papua-Nova Guiné, decorre de uma vaga de povoamento antiqüíssima, datada de 30.000 anos atrás. Posteriormente, uma segunda onda migratória, procedente da Ásia Continental e formada por malaios, alcançou a região por volta de 2.500/1.500 a.C.Por conseguinte, os mauberes resultam da mestiçagem entre o primeiro grupo de migrantes, aparentados com os papuas e com os melanésios, com grupos de malaios. Numa proporção muito menor, árabes, chineses, indianos e inclusive africanos provenientes das colônias portuguesas, dissolveu-se no corpo principal do povo maubere. Quanto à sociedade tradicional propriamente dita, esta é formada por cerca de 16 grupos étnicos, configurando um complexo mosaico lingüístico e cultural.
No entanto, a diversidade jamais significou ausência de contatos entre as etnias do território. A sociedade tradicional timorense estabeleceu formas de cimentar a solidariedade sem perder suas especificidades. Esta tendência explica a afirmação do Tétum enquanto língua franca ou veicular, desempenhando papel de idioma de contato entre as etnias do Timor-Leste.
Através do Tétum, os timorenses comunicavam-se entre si, sem prejuízo para as demais línguas e dialetos. O prestígio do Tétum no período colonial foi reafirmado pelo apoio da Igreja Católica, utilizando-o na evangelização. O ensino do Tétum foi promovido pelos missionários e também pela administração portuguesa.
Nas lutas de libertação nacional, o Tétum consolidou-se enquanto elemento de unidade nacional. Nas montanhas, utilizando o método Paulo Freire, a resistência timorense desenvolveu intensas campanhas de alfabetização em Tétum, contribuindo assim para sua afirmação no seio do povo maubere. Não sem motivo, o Tétum, ao lado do português, constitui uma das línguas oficiais da RDTL.
Outro ponto a ser ponderado quanto aos aspectos sociais, lingüísticos e culturais de Timor foram os 470 anos de dominação colonial. Os portugueses marcaram indelevelmente a personalidade nacional maubere, processo este que impregnou sua cultura nos mais diferentes aspectos.
Dentre estes, a contribuição religiosa conquista destaque especial. Com a chegada dos primeiros missionários a partir do último quartel do Século XVII, iniciou-se a evangelização, base para que mais tarde, o Timor-Leste se transformasse num país quase inteiramente católico. Esta é uma singularidade importante quando lembramos que a Indonésia, seu poderoso vizinho, é o mais populoso país muçulmano do mundo.
Além do catolicismo, outra contribuição importante foi a língua portuguesa. O português consolidou-se como meio de comunicação dos segmentos instruídos e das camadas urbano-cristianizadas do país. Proibido pelos invasores indonésios, o idioma sobreviveu e terminou reconhecido, ao lado do Tétum, como língua oficial do Timor-Leste.
A Resistência Maubere sempre insistiu no papel central da língua portuguesa no Timor-Leste independente. O português é um suporte fundamental da identidade nacional timorense, diferenciando-a dos milhões de falantes do Bahasa na Indonésia e do inglês na Austrália e em vários dos países vizinhos.
Não admira, pois que o Timor-Leste independente tenha se tornado o oitavo país de língua oficial portuguesa no mundo e também, ingressado na CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Timor é indiscutivelmente um parceiro na solidariedade inquebrantável que deve unir o mundo lusófono, contrapartida a uma globalização anglófona.