quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

HOMILIA DE D. RENATO MARTINO

Díli, 19 de Maio de 2002

Eminentíssimos SenhoresExcelentíssimas AutoridadesSenhor Bispo D. Ximenes Belo Queridos Amigos em Cristo

Este é o dia que o Senhor fez; exultemos e alegremo-nos nele! É com os corações transbordantes de alegria que aqui nos juntamos, porque vós, povo de Timor Leste, encontrastes recentemente a liberdade e a independêmcia; um benefício conquistado por alto preço.
Agradeço profundamente ao Senhor D. Carlos Filipe Ximenes Belo, não só por me convidar a presidir à celebração desta Santa Missa, mas também pela sua função importante no longo e difícil processo para uma serena independência de Timor Leste; função essa que lhe obteve o Prémio Nobel da Paz em 1996 uma honra bem merecida por ti, meu Irmão no Episcopado, e por quantos se encontram hoje aqui connosco e que trabalham contigo como arquitectos da liberdade e independência.

D. Ximenes Belo, tu és um bom pastor que conhece o seu rebanho! Agradeço-te pelo testemunho do Evangelho e pela solicitude para com o Povo de Deus!
Celebramos hoje esta Missa no mesmo lugar onde o fez o Papa João Paulo II, no dia 12 de Outubro de 1989. A sua decisão de celebrar Missa em Díli foi uma expressão da grande esperança que depositava no Povo timorense e um sinal de encorajamento. O Santo Padre sempre esteve e continua solidário convosco, manifestando as suas pessoais congratulações a cada um de vós aqui presentes nesta especial ocasião. Além disso, exorta-vos, com as palavras de São Pedro, a "comportar-vos como homens livres, não como aqueles que fazem da liberdade como que um véu para encobrir a malícia, mas como servos de Deus".

O facto de Sua Santidade me ter querido seu enviado Extraordinário à Proclamação da Independência de Timor Leste constitui para mim uma grave honra e privilégio. Sinto-me verdadeiramente feliz por estar aqui, não só porque pessoalmente interessado numa serena independência desta nobre terra, mas também porque durante os últimos quinze anos, na minha qualidade de Núncio Apostólico e Observador Permanente da Santa Sé junto das Nações Unidas, tive repetidas oportunidades de trabalhar para esta importante causa. Mesmo quando a outros na Família das Nações lhes pareceu o contrário, a Santa Sé sempre se manteve activamente empenhada procurando ajudar o Povo timorense na concretização da sua liberdade e independência.

No Antigo Testamento, Moisés ensinou o seu povo a recordar-se das grandes obras que Deus fez por eles; como Ele os fez sair juntos, caminhou à sua frente através do deserto, alimentou-os com o pão do céu, libertou-os da escravidão e guiou-os através de terras vastas e perigosas.
O mesmo sucedeu com o povo de Timor Leste, que há-de manter vivo na memória também "quem nos conduziu juntos?", "qual foi o nosso percurso?", "quem nos levou através do deserto, dando-nos alimento e bebida?", "quem nos libertou?". Estas são as interrogações acerca da vossa identidade, unidade, história, segurança e fé comum. São as perguntas que alimentam a vossa busca de independência, que alcançastes pagando um alto preço.

Quer a nível pessoal, quer como Nação, muitas vezes reflectis sobre a causa das vossas inquietações. Os fracassos e frustrações, juntamente com ameaças, guerra e violência, deixam-vos não raro abatidos. A realidade política e social muitas vezes vos amedronta. Uns preocupam-se com o futuro da Igreja, outros com o estado da Nação. Muitos vivem alarmados com a situação mundial. Em todo este alvoroço da alma, subjaz o mesmo refrão: "Onde está a nossa âncora? Em quem podemos confiar?". São Paulo, na Carta aos Efésios, ajuda-nos a discernir nestas questões. Diz que Cristo é a fonte da nossa unidade, e que a nossa identificação com o Senhor é uma força de onde brota justiça e paz.

Quando Jesus apareceu aos discípulos depois da sua ressurreição, deu-lhes o único dom que poderia libertá-los das cadeias que os imobilizavam; cadeias de tristeza e mágoas, de confusão e medo. Jesus deu-lhes o Espírito Santo e eles sentiram-se livres, com uma nova coragem e energia para irem ensinar todas as nações, para serem um povo santo, um sacerdócio real, uma nação sagrada.

O Espírito, que encheu os discípulos no Pentecostes, foi tão forte como confirmação da fé em Jesus que os crentes eram capazes de falar de forma não apenas unânime mas compreensível universalmente. É o Espírito, como recorda o grande hino Veni, Sancte Spiritus, que habita no coração do pobre e desvalido; que gera alegria e consola o triste; que dá uma inteligência profunda e transforma aflições, enchendo de gozo o coração humano.

Como suspirou o Povo timorense pelos efeitos vigorosos e libertadores do Pentecostes! Quanto vos sacrificastes para chegar a esta hora! Quantos milhares de vidas se perderam ao longo do caminho! No Evangelho de hoje, Jesus lembra-nos que não há amor maior do que este: dar a própria vida pelos seus amigos. Nós queremos lembrar nesta Missa todos aqueles que perderam as suas vidas na luta pela liberdade; encomendamos as suas almas à misericórdia amorosa de Deus, com a certeza e firme esperança de que um dia havemos de vê-los de novo, quando o amor de Cristo, que tudo domina, destruir por fim a própria morte. Rezamos também por aqueles que choram a sua perda: os familiares e amigos que, em seus corações, conservam viva a lembrança dos seus entes queridos.

Também São Paulo diz que o amor, a alegria, a paz, a confiança, a benignidade, a bondade, a mansidão, a paciência e a continência desarmam os efeitos perversos da idolatria, das divergências, das acções, da inveja e do ódio. Os dons do Espírito Santo tornam-nos capazes de ultrapassar as tristes divisões da nossa humanidade dilacerada, e permitem-nos exprimir a nossa união de irmãos no Senhor. O Senhor Jesus diz-nos, no Evangelho de São João, que devemos amar-nos uns aos outros como Ele nos amou. Não se trata de uma gentil sugestão; é um mandamento. Temos de continuar a pedir os dons do Espírito Santo, para que a alegria de sermos livres sempre se radique na verdade, na justiça e na paz para com todos.
Uma verdadeira liberdade e uma autêntica independência são dom do Espírito de Deus; um dom sumamente prezado pelas pessoas que sofreram a sua privação, que suspiraram e lutaram para ser livres. Isto mesmo está bem espelhado na bandeira do vosso País novo; são quatro cores que simbolizam o percurso feito até chegar à independência e à esperança de um amanhã mais promissor: o preto simboliza os sofrimentos e aflições passadas; o vermelho, o sangue derramado pela liberdade; o dourado traduz o anseio dum futuro próspero; o branco, a paz; e por fim uma estrela, para guiar o vosso caminho pátrio.

Hoje é um dia glorioso para o Povo timorense. É um dia igualmente glorioso para os católicos timorenses. Sim! É o Espírito Santo que nos consola com a certeza de que realmente os nossos trabalhos e esforços modificaram o mundo, mas neste aqui, como em todos os âmbitos da vida, não há solução última que não saia das mãos de Deus. Muitas vezes nos ensinou a história que, quando as declarações de independência colocam Deus fora da cena, prepara-se o desastre, tanto dos indivíduos como da nação. Só Deus é o nosso refúgio, e um baluarte contra os nossos temores. Em todas as coisas, devemos perguntar-nos: qual é a nossa rocha, a nossa esperança, a nossa protecção, a nossa força? Em tudo, a resposta é Deus, o único que pode servir como nossa segurança sem tornar-se um ídolo que nos escravize no medo.

Por este motivo, nesta maravilhosa ocasião em que nos congregamos para celebrar a Declaração de Independência, convido-vos a deixar espaço para uma certa dependência de Deus; uma dependência que todos nós devemos manter, se queremos ser verdadeiramente livres. Na verdade, a dependência de Deus pode ser o maior contributo para a democracia que agora rege esta terra; este nobre e soberano Estado que, com ufania, chamamos Timor Leste.

Timor Loro Sae


As irmãs Missionárias Servas do Espírito Santo estão acompanhar os grupos jovens de várias Paróquias em Timor Leste.
Os jovens reuniam mensalmente com o objectivo de partilhar a experiêcia da própria Fé como cristãos e como jovens Católicos. Cada encontro descobrem que o grupo é como um espaço onde possam crescer juntos na fé e na esperança para construir a paz na sociedade, na escola, no seio dos seus familiares e entre os próprios jovens.