domingo, 31 de março de 2013

Mensagem de Páscoa do Papa Francisco


 


Amados irmãos e irmãs de Roma e do mundo inteiro, boa Páscoa!

Que grande alegria é para mim poder dar-vos este anúncio: Cristo ressuscitou! Queria que chegasse a cada casa, a cada família e, especialmente onde há mais sofrimento, aos hospitais, às prisões...
Sobretudo queria que chegasse a todos os corações, porque é lá que Deus quer semear esta Boa Nova: Jesus ressuscitou, uma esperança despertou para ti, já não estás sob o domínio do pecado, do mal! Venceu o amor, venceu a misericórdia!
Também nós, como as mulheres discípulas de Jesus que foram ao sepulcro e o encontraram vazio, nos podemos interrogar que sentido tenha este acontecimento (cf. Lc 24, 4). Que significa o fato de Jesus ter ressuscitado? Significa que o amor de Deus é mais forte que o mal e a própria morte; significa que o amor de Deus pode transformar a nossa vida, fazer florir aquelas parcelas de deserto que ainda existem no nosso coração.
Este mesmo amor pelo qual o Filho de Deus Se fez homem e prosseguiu até ao extremo no caminho da humildade e do dom de Si mesmo, até a morada dos mortos, ao abismo da separação de Deus, este mesmo amor misericordioso inundou de luz o corpo morto de Jesus e transfigurou-o, o fez passar à vida eterna. Jesus não voltou à vida que tinha antes, à vida terrena, mas entrou na vida gloriosa de Deus e o fez com a nossa humanidade, abrindo-nos um futuro de esperança.
Eis o que é a Páscoa: é o êxodo, a passagem do homem da escravidão do pecado, do mal, à liberdade do amor, do bem. Porque Deus é vida, somente vida, e a sua glória é o homem vivo (cf. Ireneu, Adversus haereses, 4, 20, 5-7).
Amados irmãos e irmãs, Cristo morreu e ressuscitou de uma vez para sempre e para todos, mas a força da Ressurreição, esta passagem da escravidão do mal à liberdade do bem, deve realizar-se em todos os tempos, nos espaços concretos da nossa existência, na nossa vida de cada dia. Quantos desertos tem o ser humano de atravessar ainda hoje! Sobretudo o deserto que existe dentro dele, quando falta o amor a Deus e ao próximo, quando falta a consciência de ser guardião de tudo o que o Criador nos deu e continua a dar. Mas a misericórdia de Deus pode fazer florir mesmo a terra mais árida, pode devolver a vida aos ossos ressequidos (cf. Ez 37, 1-14).
Eis, portanto, o convite que dirijo a todos: acolhamos a graça da Ressurreição de Cristo! Deixemo-nos renovar pela misericórdia de Deus, deixemo-nos amar por Jesus, deixemos que a força do seu amor transforme também a nossa vida, tornando-nos instrumentos desta misericórdia, canais através dos quais Deus possa irrigar a terra, guardar a criação inteira e fazer florir a justiça e a paz.
E assim, a Jesus ressuscitado que transforma a morte em vida, peçamos para mudar o ódio em amor, a vingança em perdão, a guerra em paz. Sim, Cristo é a nossa paz e, por seu intermédio, imploramos a paz para o mundo inteiro.
Paz para o Médio Oriente, especialmente entre israelitas e palestinos, que sentem dificuldade em encontrar a estrada da concórdia, a fim de que retomem, com coragem e disponibilidade, as negociações para pôr termo a um conflito que já dura há demasiado tempo. Paz no Iraque, para que cesse definitivamente toda a violência, e sobretudo para a amada Síria, para a sua população vítima do conflito e para os numerosos refugiados, que esperam ajuda e conforto. Já foi derramado tanto sangue… Quantos sofrimentos deverão ainda atravessar antes de se conseguir encontrar uma solução política para a crise?
Paz para a África, cenário ainda de sangrentos conflitos: no Mali, para que reencontre unidade e estabilidade; e na Nigéria, onde infelizmente não cessam os atentados, que ameaçam gravemente a vida de tantos inocentes, e onde não poucas pessoas, incluindo crianças, são mantidas como reféns por grupos terroristas. Paz no leste da República Democrática do Congo e na República Centro-Africana, onde muitos se veem forçados a deixar as suas casas e vivem ainda no medo.
Paz para a Ásia, sobretudo na península coreana, para que sejam superadas as divergências e amadureça um renovado espírito de reconciliação.
Paz para o mundo inteiro, ainda tão dividido pela ganância de quem procura lucros fáceis, ferido pelo egoísmo que ameaça a vida humana e a família – um egoísmo que faz continuar o tráfico de pessoas, a escravatura mais extensa neste século vinte e um. Paz para todo o mundo dilacerado pela violência ligada ao narcotráfico e por uma iníqua exploração dos recursos naturais. Paz para esta nossa Terra! Jesus ressuscitado leve conforto a quem é vítima das calamidades naturais e nos torne guardiões responsáveis da criação.
Amados irmãos e irmãs, originários de Roma ou de qualquer parte do mundo, a todos vós que me ouvis, dirijo este convite do Salmo 117: «Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterno o seu amor. Diga a casa de Israel: É eterno o seu amor» (vv. 1-2).

Documentos | Papa Francisco | 2013-03-31 | 11:13:00 | 4800 Caracteres | Papa Francisco

 

sexta-feira, 29 de março de 2013

Sexta-feira Santa: dia da Misericórdia


“Minha filha, o dia da Misericórdia, Sexta-feira Santa, não deve ser para ti de tristeza, mas de grande alegria, toda interior, porque neste dia mostrei à tua alma meu amor infinito.
Sendo Sexta-feira o grande dia da Misericórdia, exijo de ti, para bem o comemorares, que adornes a tua alma com um ato heróico de confiança na Minha infinita Misericórdia. Este ato consiste em jamais duvidares de que te amo infinitamente, e de jamais deixares de falar a quem quer que seja, de Minha grande Misericórdia em sempre perdoar!”
(dos manuais da devoção à Divina Misericórdia - Festa da Misericórdia)

Muitas vezes, nós só concedemos o perdão quando a pessoa que nos feriu se humilha diante de nós: isso não é dar o perdão, não é “per-doar” (doar-se plenamente): é exigir retratação...
Só Deus sabe perdoar. Portanto, aprendamos com Ele! Peçamos a Deus que nos conceda essa graça de um coração misericordioso, que Ele tanto quer nos dar. Lembremo-nos do que nos diz São Tiago:

“Haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia. A misericórdia triunfa sobre o julgamento.” (Tg 2, 13)

 

SENHOR, deixai-nos estar ajoelhados a Vossos pés, nesta hora mais amarga da Vossa vida e lembrar-Vos da terceira hora do Monte das Oliveiras, onde o Vosso próprio desejo era que rezássemos:
SENHOR, pelos méritos da Vossa terceira hora do Monte das Oliveiras, dai-nos uma gota do Vosso sangue dessa hora,
para o Santo Padre,
para a Vossa Igreja,
para os Vossos sacerdotes,
para nós irmãos e irmãs,
para todos os doentes e moribundos,
para todos os famintos e abandonados,
para os sacerdotes aparentemente perdidos!
Queremos, pois, pedir-Vos juntamente com os nossos Anjos:
SENHOR, dai-nos o Vosso último suspiro como tesouro de graças para todos os sacerdotes que se desviaram de Vós, a fim de que novamente encontrem o caminho de volta para Vós.
SENHOR, dai-nos o Vosso último olhar como tesouro de graças para todos os sacerdotes obscurecidos através de ciência e mundo, para aqueles que não mais se voltam para Vós, a fim de que a força do Amor os mude!
SENHOR, dai-nos as últimas contrações do Vosso pobre corpo como tesouro de graças, para aqueles que por mais nada poderiam ser salvos, a fim de que as amarras do maligno se soltem deles!
SENHOR, dai-nos a Vossa última gota de sangue, como tesouro de graças, para que a Obra dos Santos Anjos cresça e subsista através do Vosso sangue, para que nossa sede por almas, através do Vosso sangue, jamais se apague, para que nossa palavra, através do Vosso sangue, reavive os homens, para que nosso amor, através do Vosso sangue, seja o respirar de nossa vida!
Amém.

Gabriele Bitterlich,
Obra dos Santos Anjos

quinta-feira, 28 de março de 2013

COMO EU FIZ, VÓS FAZEIS TAMBÉM.

 
Evangelho segundo S. João 13,1-15.

Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo bem que tinha chegado a sua hora da passagem deste
mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles
até ao extremo. O diabo já tinha metido no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, a
decisão de o entregar. Enquanto celebravam a ceia, Jesus, sabendo perfeitamente que o Pai
tudo lhe pusera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou
o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura. Depois deitou água na bacia e começou a lavar
os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura. Chegou, pois, a Simão
Pedro. Este disse-lhe: «Senhor, Tu é que me lavas os pés?» Jesus respondeu-lhe: «O que Eu
estou a fazer tu não o entendes por agora, mas hás-de compreendê-lo depois.» Disse-lhe
Pedro: «Não! Tu nunca me hás-de lavar os pés!» Replicou-lhe Jesus: «Se Eu não te lavar,
nada terás a haver comigo.» Disse-lhe, então, Simão Pedro: «Ó Senhor! Não só os pés, mas
também as mãos e a cabeça!» Respondeu-lhe Jesus: «Quem tomou banho não precisa de lavar
senão os pés, pois está todo limpo. E vós estais limpos, mas não todos.» Ele bem sabia quem
o ia entregar; por isso é que lhe disse: 'Nem todos estais limpos'. Depois de lhes ter lavado os
pés e de ter posto o manto, voltou a sentar-se à mesa e disse-lhes: «Compreendeis o que vos
fiz? Vós chamais-me 'o Mestre' e 'o Senhor', e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor
e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei vos
exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também.
 
- Jesus levantou-se da mesa. Ele nos diz que é preciso sair do nosso egoísmo, mobilizar-se, ir ao encontro dos outros.

- Tirou o manto. Jesus se esvazia de si mesmo e coloca-se na condição de servo. Ele nos ensina sobre a necessidade de despojar-se de tudo o que divide, dos fechamentos, das barreiras, dos medos, das inseguranças, que nos bloqueiam na prática do bem.

- Pegou uma toalha e amarrou-a na cintura. Jesus põe o avental para servir. "Aquele que era de condição divina, humilhou-se a si mesmo" (Fl 2, 6-8). Ele nos propõe o uso do avental do servir na disponibilidade, e na generosidade, e ainda do comprometer-se com os mais necessitados e colocar-se em último lugar.

- Colocou água na bacia. Jesus usa instrumentos da cultura do povo: água e bacia. Repete um gesto que era feito pelos escravos ou pelas mulheres. Ele quer nos dizer que para anunciar sua proposta é preciso entender, conhecer, assumir o que o povo vive, sofre, sonha...

- E começou a lavar os pés dos discípulos. Para lavar os pés Jesus se inclina, olha, percebe e acolhe a reação de cada discípulo. Com o lavar os pés, Jesus nos compromete a acolher os outros com alegria, sem discriminações, a escutar com paciência, a partilhar os nossos dons...

- Enxugando com a toalha que tinha na cintura. Jesus enxuga os pés calejados, rudes e descalços de seus discípulos. São muitos os gestos que Jesus nos convida a praticar para amenizar os calos das dores de tantos irmãos: visita a doentes e idosos, organizar-se para atender crianças de rua, uma palavra de ânimo a aidéticos, valorização de nossos irmãos indígenas...

EUCARISTIA
"Tirou as vestes", é o mesmo verbo de "entregou a vida" (em grego: tizenai). Assim João relaciona o lava-pés com a sua morte. O abaixamento de Jesus traz-nos a Salvação. É essencial que nós façamos o mesmo, despojando-nos de nós e SERVINDO, com o fim de Salvar o mundo.
Depois de nos ter dado o seu ensinamento, através da pregação e dos milagres, agora Jesus resume tudo num banquete. Com o seu PÃO comungamos tudo o que Ele fez e entramos em COMUNHÃO com todos os homens e mulheres que Ele salvou, através do AMOR.
Para Jesus a vida não é domínio, mas OFERENDA aos outros. O seu amor sem restrição é uma MORTE para Ele mesmo, para que os outros cresçam. A Eucaristia é o Sacramento deste amor que dá TUDO. Jesus diz-nos: este é o meu estilo, fazei-o da mesma maneira

quarta-feira, 27 de março de 2013

QUINTA FEIRA SANTA (2008)


CIDADE DO VATICANO, Homilia do Papa Bento XVI na Missa da Ceia do Senhor, março de 2008

Caros irmãos e irmãs,

São João inicia seu relato sobre como Jesus lavou os pés de seus discípulos com uma

linguagem particularmente solene, quase litúrgica. «Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo que havia chegado sua hora de passar deste mundo ao Pai, depois de ter amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim» (13, 1). É chegada a «hora» de Jesus, junto à qual seu agir era dirigido desde o início. O que constitui o conteúdo desta hora, João o descreve com duas palavras: passagem (metabainein, metabasis) e agape – amor. As duas palavras ilustram o evento; ambas descrevem a Páscoa de Jesus: cruz e ressurreição, crucifixão como elevação, como «passagem» à glória de Deus, como um «passar» do mundo ao Pai. Não é como se Jesus, depois de uma breve visita ao mundo, agora simplesmente partisse e retornasse ao Pai. A passagem é uma transformação. Ele leva consigo sua carne, o seu ser homem. Sobre a Cruz, na doação de si mesmo. Ele é como que fundido e transformado em um novo modo de ser, no qual agora está sempre com o Pai e contemporaneamente com os homens. Transforma a Cruz, o ato da execução, em um ato de doação, de amor até o fim. Com esta expressão, «até o fim», João refere-se em antecipação à última palavra de Jesus sobre a Cruz: tudo foi levado

a término, «está consumado» (19, 30). Mediante seu amor, a Cruz torna-se metabasis,

transformação do ser humano no ser partícipe da glória de Deus. Nesta transformação, Ele envolve todos nós, atraindo-nos dentro da força transformadora de seu amor, a ponto de, em nosso ser com Ele, nossa vida se torna «passagem», transformação. Assim, recebemos a redenção – o ser partícipes do amor eterno, uma condição à qual tendemos com toda a nossa existência.

Este processo essencial da hora de Jesus é representado no lava-pés em uma espécie de

profético ato simbólico. Nele, Jesus evidencia com um gesto concreto justamente isso que o grande hino cristológico da Carta aos Filipenses descreve como o conteúdo do mistério de Cristo. Jesus depõe as vestes de sua glória, cinge-se com o «pano» da humanidade e se faz escravo. Lava os pés sujos dos discípulos e os faz, assim, capazes de participar do convívio divino ao qual Ele os convida. Ao lado das purificações cultuais e externas, que purificam o homem ritualmente, deixando, contudo, assim como é, subentende-se o banho novo: Ele nos torna puros mediante sua palavra e seu amor, mediante o dom de si mesmo. «Vós já estais limpos pela palavra que vos anunciei», dirá aos discípulos no discurso sobre a videira (Jo 15,3). Sempre de novo nos lava com sua palavra. Sim, se acolhemos as palavras de Jesus em atitude de meditação, de oração e de fé, elas desenvolvem em nós sua força purificadora. Dia a dia somos como que recobertos de sujeira multiforme, de palavras vazias, de preconceitos, de sabedoria reduzida e alterada; uma múltipla semi-falsidade ou falsidade aberta se infiltra continuamente em nosso íntimo. Tudo isso ofusca e contamina nossa alma, ameaça-nos com a incapacidade para a verdade e para o bem. Se acolhermos as palavras de Jesus com coração atento, elas se revelam verdadeira limpeza, purificação da alma, do homem interior. É a isso que nos convida o Evangelho do lava-pés: deixar-nos sempre de novo lavar por esta água pura, deixar-nos ser capazes da comunhão com Deus e com os irmãos. Mas do lado de Jesus, depois do golpe da lança do soldado, não sai somente água, mas também sangue (Jo 19, 34; cf 1 Jo 5, 6. 8). Jesus não só falou, não nos deixou só palavras. Ele doa a si mesmo. Lava-nos com o poder sagrado de seu sangue, isto é, com o seu doar-se «até o fim», até a Cruz. Sua palavra é mais que um simples falar; é carne e sangue «para a vida do homem» (Jo 6, 51). Nos santos Sacramentos, o Senhor novamente se ajoelha diante de nossos pés e nos purifica. Peçamos-lhe que do banho sagrado de seu amor sejamos sempre mais profundamente penetrados e assim verdadeiramente purificados!

Se escutarmos o Evangelho com atenção, podemos perceber no acontecimento do lava-pés dois aspectos diversos. A limpeza que Jesus faz a seus discípulos é, antes de tudo,

simplesmente ação sua – o dom da pureza, da «capacidade para Deus» oferecido a eles. Mas o dom torna-se um modelo, o mandamento de fazer a mesma coisa uns aos outros. Os Padres qualificaram esta duplicidade de aspectos do lava-pés com as palavras sacramentum e exemplum. Sacramentum significa neste contexto não um dos sete sacramentos, mas o mistério de Cristo em seu todo, da encarnação até a cruz e a ressurreição: este todo se torna força restauradora e santificadora, a força transformadora para os homens, torna-se nossa metabasis, nossa transformação em uma nova forma de ser, na abertura para Deus e na comunhão com Ele. Mas este novo ser que Ele, sem nosso mérito, simplesmente nos dá deve então transformar-se em nós na dinâmica de uma nova vida. O conjunto de dom e exemplo, que encontramos no lava-pés, é característico para a natureza do cristianismo em geral. O cristianismo, em relação ao moralismo, é maior e uma coisa diversa. No início não está o nosso agir, nossa capacidade moral. Cristianismo é, antes de tudo, dom: Deus se doa a nós – não dá alguma coisa, mas a si mesmo. E isso ocorre não só no início, no momento de nossa conversão. Ele permanece continuamente como Aquele que doa. Sempre, e de novo, Ele nos oferece seus dons. Sempre nos precede. Por isso, o ato central do ser cristão é a Eucaristia: a gratidão por ter sido gratificado, a alegria pela vida nova que Ele nos dá.

Com isso, todavia, não nos tornamos destinatários passivos da bondade divina. Deus nos gratifica como parceiros pessoais e vivos. O amor doado é a dinâmica do «amar juntos», quer ser em nós vida nova a partir de Deus. Assim compreendemos a palavra que, no término do relato do lava-pés, Jesus diz a seus discípulos e a todos nós: «Dou-vos um novo mandamento: que vos ameis uns aos outros» (Jo 13, 34). O «mandamento novo» não consiste em uma norma nova e difícil, que até então não existia. O mandamento novo consiste no amar junto com Aquele que nos amou primeiro. Assim devemos compreender também o Sermão da Montanha. Isso não significa que Jesus tinha então dado preceitos novos, que representavam exigências de um humanismo mais sublime que o precedente. O Sermão da Montanha é um caminho de prática no identificar-se com os sentimentos de Cristo (cf. Fil 2, 5), um caminho de purificação interior que nos conduz a um viver com Ele. A novidade é o dom que nos introduz na mentalidade de Cristo. Se considerarmos isto, perceberemos quão longe estamos,
às vezes, com nossa vida, desta novidade do Novo Testamento; quão pouco damos à humanidade o exemplo do amar em comunhão com seu amor. Assim nos tornamos devedores da prova de credibilidade da verdade cristã, que se demonstra no amor. Justamente por isso queremos tanto pedir ao Senhor que nos torne, mediante sua purificação, maduros para o novo mandamento.

 No Evangelho do lava-pés, o colóquio de Jesus com Pedro apresenta ainda um outro particular da prática da vida cristã, no qual queremos finalmente fixar nossa atenção. Em um primeiro momento, Pedro não queria deixar-se lavar pelo Senhor: esta mudança da ordem, que, isto é, o mestre – Jesus – lavasse os pés, que os patrões assumissem o serviço do escravo, contrastava totalmente com seu termo reverencial a Jesus, com seu conceito da relação entre mestre e discípulo. «Não me lavareis os pés», disse a Jesus com a sua conhecida impulsividade (Jo 13, 8). É a mesma mentalidade que, depois da profissão de fé em Jesus, Filho de Deus, em Cesaréia de Filipo, o tinha impulsionado a opor-se a Ele, quando predisse a reprovação e a cruz: «Isso não te acontecerá!», tinha declarado Pedro categoricamente (Mt 16, 22). Seu conceito de Messias comportava uma imagem de majestade, de grandeza divina. Devia aprender novamente que a grandeza de Deus é diferente da nossa idéia de grandeza; que essa consiste justamente no baixar, na humildade do serviço, na radicalidade do amor até a total auto-expiação. E também nós devemos aprender sempre mais, porque sistematicamente desejamos um Deus do Acontecimento, e não da Paixão; porque não somos capazes de perceber que o Pastor vem como Cordeiro que se doa e assim nos conduz à justa pastagem.

 Quando o Senhor diz a Pedro que sem a limpeza dos pés ele não poderia ter alguma parte com Ele, Pedro rapidamente pede com ímpeto que lhe sejam lavadas também a cabeça e as mãos. A isto segue a palavra misteriosa de Jesus: «Quem tomou banho, não tem necessidade de se lavar senão os pés» (Jo 13, 10). Jesus alude a um banho que os discípulos, segundo as prescrições rituais, já tinham feito; para a participação na convivência era necessária agora somente a lavagem dos pés. Mas naturalmente se esconde nisso um significado mais profundo. A que faz alusão? Não sabemos com certeza. Em todo caso, tenhamos presente que o lava-pés, segundo o sentido de todo capítulo, não indica um único específico Sacramento, mas o sacramantum Christi em seu conjunto – seu serviço de salvação, sua descida até a cruz, seu amor até o fim, que nos purifica e nos torna capazes de Deus. Aqui, com a distinção entre banho e lavagem dos pés, todavia, se torna também perceptível uma alusão à vida na comunidade dos discípulos, à vida na comunidade da Igreja – uma alusão que João talvez queira conscientemente transmitir às comunidades de seu tempo. Então parece claro que o banho que nos purifica definitivamente e não deve ser repetido é o Batismo – o ser imerso na morte e ressurreição de Cristo, um fato que muda nossa vida profundamente, dando-nos como que uma nova identidade que permanece, se não a jogarmos fora como Judas. Mas também na permanência desta nova identidade, para a comunhão com Jesus, temos necessidade do «lava-pés ». De que se trata? Parece-me que a Primeira Carta de São João nos dá a chave para compreendê-lo. Lá se lê: «Se dissermos que estamos sem pecado, enganamos a nós mesmos e a verdade não está em nós. Se reconhecermos os nossos pecados, ele, que é fiel e justo, nos perdoará os pecados e nos purificará de toda culpa» (1, 8s): Temos necessidade do «lava-pés », da lavagem dos pecados de cada dia, e por isso, temos necessidade da confissão dos pecados. Como isso se desenvolveu na comunidade joanina, não sabemos. Mas a direção indicada pela palavra de Jesus a Pedro é óbvia: para sermos capazes de participar da comunidade de vida com Jesus Cristo devemos ser sinceros. Devemos reconhecer que também em nossa nova identidade de batizados pecamos. Temos necessidade da confissão como ela toma forma no Sacramento da reconciliação. Nele, o Senhor lava novamente nossos pés sujos e assim podemos sentar à mesa com Ele.

 Mas assim assume um novo significado também a palavra, com a qual o Senhor prolonga o sacramantum, dando-nos o exemplum, um dom, um serviço para o irmão: «Se portanto eu, o Senhor e Mestre, lavei vossos pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros» (Jo 13, 14). Devemos lavar os pés uns dos outros no serviço cotidiano mutuamente por amor. Mas devemos lavar os pés também no sentido de sempre perdoar uns aos outros. O débito que o Senhor nos remitiu é sempre infinitamente maior que todos os débitos que outros possam ter em nossos confrontos (cf. Mt 18, 21-35). A isto nos exorta a Quinta-feira Santa: não deixar que o rancor para com o outro se torne no fundo um envenenamento da alma. Exorta-nos a purificar continuamente nossa memória, perdoando-nos mutuamente de coração, lavando os pés uns dos outros, para podermos, assim, chegar juntos no convívio de Deus.

 A Quinta-feira Santa é um dia de gratidão e de alegria pelo grande dom do amor até o fim, que o Senhor nos fez. Queremos pedir ao Senhor nesta hora que a gratidão e a alegria se tornem em nós a força de amar em união com seu amor. Amém.

[Tradução do italiano: José Caetano. Revisão: Aline Banchieri

© Copyright 2008 - Libreria Editrice Vaticana]

 

Quarta Feira Santa


EM TU CASA QUERO FACER A PÁSCOA
Mt 26,14-25

A traição de Judas é importante. Era "um dos doze". Mais que averiguar os motivos, é necessário ver o sentido teológico. Através de Judas e de "30 moedas", Jesus submete-Se ao mal. Esta é a grande humilhação de Deus, que chega até a ser vendido como um escravo, o mais baixo de todos os homens (as 30 moedas são o preço dos escravos). Jesus assume todo o mal, na Cruz, nas chacotas ... na traição do amigo, e da sua cobardia, e fá-lo porquê, como dizem os Padres: só é SALVO aquilo que é assumido.
Mas acima das nossas traições está o desejo de Jesus de celebrar a Páscoa EM NOSSA CASA . Abrir-lhe-emos as portas?

sábado, 23 de março de 2013

Vaticano: Encontro de Francisco com Bento XVI marcado por ambiente de «profunda comunhão»


Papa argentino dirigiu-se ao seu antecessor como um «irmão», revela o porta-voz da Santa Sé

ansa.it
Cidade do Vaticano, 23 mar 2013 (Ecclesia) – O primeiro encontro “face-a-face” entre o Papa Francisco e o seu antecessor Bento XVI, hoje em Castel Gandolfo, nos arredores de Roma, começou com um “abraço comovente” e decorreu em ambiente de “profunda comunhão”.
Em declarações à Rádio Vaticano, na sequência daquela que foi a primeira audiência entre um Papa em exercício e o seu predecessor, o diretor da sala de imprensa do Vaticano contou alguns dos pormenores que marcaram o evento.
De acordo com o padre Federico Lombardi, “o helicóptero que transportou o Papa Francisco chegou ao Palácio Apostólico às 12h15 (menos uma hora em Lisboa) e o carro com Bento XVI aproximou-se desde logo do local de aterragem”.
O Papa Francisco seguiu acompanhado pelo substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, arcebispo D. Angelo Becciu, pelo regente da prefeitura da Casa Pontifícia, monsenhor Leonardo Sapienza, e por um dos secretários de Bento XVI, o padre Alfred Xuereb.
“Quando chegaram ao pé um do outro, o Papa emérito aproximou-se de Francisco e os dois deram um abraço comovente”, revela o porta-voz da Santa Sé.
Depois do percurso de carro desde o heliporto até ao Palácio, eles “seguiram imediatamente para a capela” do edifício “para um momento de oração”.
Segundo o padre Federico Lombardi, foi já dentro do templo que se deu outro momento ilustrativo da boa relação que existe entre o Papa e Joseph Ratzinger.
“Bento XVI ofereceu o lugar de honra a Francisco mas este quis que eles ajoelhassem os dois no mesmo banco”, realçando a sua condição de “irmãos”.
O encontro começou às 12h30, na biblioteca privada onde o Papa normalmente recebe os seus convidados mais importantes, em Castel Gandolfo.
Francisco ofereceu a Bento XVI “um bonito ícone” dedicado a Nossa Senhora da Humildade, um presente que pretendeu invocar “a grande humildade” do Papa emérito.
A audiência, “totalmente privada e confidencial” sublinhou o sacerdote, terminou com o almoço e depois Joseph Ratzinger acompanhou Francisco de volta ao heliporto, de onde o Papa argentino encetou a sua viagem de regresso ao Vaticano.
O padre Federico Lombardi realça que, apesar de esta ter sido a primeira reunião entre os dois, depois do Conclave, o “diálogo” entre Papa e Papa emérito começou bem antes de ser conhecido o resultado do processo eleitoral com os cardeais, a 13 de março.
Quando renunciou oficialmente ao seu pontificado, a 28 de fevereiro, Bento XVI “expressou ao seu sucessor a sua incondicional reverência e obediência, e certamente que no encontro desta manhã, que foi um momento de profunda e elevada comunhão, teve ocasião de reafirmar esses sentimentos”, realça aquele responsável.
“O Papa Francisco também teve ocasião de renovar a sua gratidão e a gratidão de toda a Igreja pelo trabalho que Bento XVi desenvolveu durante o seu pontificado”, apontou ainda.
RV/JCP

Internacional | Agência Ecclesia | 2013-03-23 | 14:10:19 | 2853 Caracteres | Bento XVI, Papa Francisco

 

sexta-feira, 22 de março de 2013

Vaticano: Papa quer «construir pontes» com o Islão e os não crentes


Papa Francisco realça importância das religiões para a construção da paz a nível global

Cidade do Vaticano, 22 mar 2013 (Ecclesia) – O Papa Francisco afirmou hoje a sua intenção de construir “pontes” com “todos os homens” e sublinhou a importância do diálogo inter-religioso para a construção da paz, destacando a importância do Islão.

“Não se podem construir pontes entre os homens esquecendo Deus e vice-versa: não se podem viver verdadeiras ligações com Deus, ignorando os outros. Por isso, é importante intensificar o diálogo entre as diversas religiões: penso, antes de tudo, no diálogo com o Islã”, declarou, num encontro com os membros do corpo diplomático acreditado na Santa Sé.

O Papa argentino disse ter apreciado “muito” a presença de autoridades civis e religiosas do mundo islâmico na missa de inauguração do pontificado, que decorreu esta terça-feira, no Vaticano.

“Desejo que o diálogo entre nós ajude a construir pontes entre todos os homens, de tal modo que cada um possa encontrar no outro, não um inimigo nem um concorrente, mas um irmão que se deve acolher e abraçar”, revelou.

Francisco aludiu, por outro lado, à necessidade de “intensificar o diálogo com os não crentes”, para que se superem “as diferenças que separam e ferem” e se promova “o desejo de construir verdadeiros laços de amizade entre todos os povos”.

O Papa explicou que um dos seus títulos é “pontífice”, ou seja, “aquele que constrói pontes, com Deus e entre os homens”.

“As minhas próprias origens impelem-me a trabalhar por construir pontes. Na verdade, como sabeis, a minha família é de origem italiana e assim está sempre vivo em mim este diálogo entre lugares e culturas distantes, entre um extremo do mundo e o outro”, declarou Francisco, de 76 anos, nascido na Argentina.

Segundo o Papa, os povos da terra estão “cada vez mais próximos, interdependentes e necessitados de se encontrarem e criarem espaços efetivos de autêntica fraternidade”.
 

“Desejo renovar aos vossos Governos o meu agradecimento pela sua participação nas celebrações por ocasião da minha eleição, com votos de um frutuoso trabalho comum”, concluiu.

A Santa Sé tem relações diplomáticas com 180 países, a que se somam a União Europeia, a Ordem Soberana de Malta e a Organização para a Libertação da Palestina.

OC

Internacional | Agência Ecclesia | 2013-03-22 | 10:48:41 | 2190 Caracteres | Papa Francisco

PERDÃO


A partir do momento

Em que eu compreender a minha humanidade,

EU PERDOAREI.

Quando tu enfim

Entenderes que estou no caminho certo,

TU PERDOARÁS.

Quando ele então

Aprender conosco a singeleza da caridade,

ELE PERDOARÁ.

Quando nós finalmente

Abrirmos mãos de nossas diferenças,

NÓS PERDOAREMOS.

Quando vós souberdes

Que o verdadeiro caminho

É trilhado pelo amor,

VÓS PERDOAREIS.

E no exato momento

Em que eles abrirem seu coração

E aceitarem a verdade,

ELES PERDOARÃO.

Daí em diante,

toda e qualquer desigualdade e diferença

não mais existirá entre a humanidade,

Pois toda e qualquer diferença

será nivelada

Pela mais pura forma do AMOR.


Irmãs Agostinianas Missionária

 

quinta-feira, 21 de março de 2013

Papa renova compromisso ecuménico


 
Papa Francisco recebeu representantes de Igrejas, Comunidades Eclesiais e religiões não cristãs

 
 
Cidade do Vaticano, 20 mar 2013 (Ecclesia) – O Papa afirmou hoje no Vaticano que está determinado em continuar a “causa nobilíssima” do estreitamento de relações entre o catolicismo e as outras Igrejas e comunidades cristãs.
Na audiência a representantes de Igrejas, Comunidades Eclesiais e religiões não cristãs, Papa Francisco manifestou “a vontade firme de prosseguir no caminho do diálogo ecuménico”.
“Viver em plenitude” a fé, afirmando-a de maneira “livre, alegre e corajosa”, constitui o “melhor serviço à causa da unidade dos cristãos”, sublinhou, acrescentando que o testemunho das convicções religiosas deve ser pautado pela “esperança” diante de um mundo “que continua marcado por divisões, contrastes e rivalidades”.
Francisco mostrou-se confiante de que é possível manter “proficuamente” o diálogo ecuménico e inter-religioso recomendado pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), que proporcionou “não poucos frutos”.
A presença na audiência de representantes das tradições não cristãs, a começar pelos muçulmanos, “que adoram o Deus único, vivente e misericordioso”, é um sinal “da vontade de crescer na estima recíproca e na cooperação para o bem comum da humanidade”.
A Igreja Católica está consciente da importância da “promoção da amizade e do respeito entre homens e mulheres de várias tradições religiosas”, palavras que Francisco fez questão de repetir.
Os cristãos podem “fazer muito” por quem é “pobre”, “fraco” e “sofre”, com o objetivo de favorecer “a justiça”, a “reconciliação” e a “paz”, realçou o Papa.
“Sobretudo devemos ter em conta a sede de absoluto, não permitindo que prevaleça uma visão da pessoa humana segundo a qual o Homem se reduz ao que produz e consome”, naquela que é “uma das insídias mais perigosas” de hoje, vincou.
Na “história recente”, vincou, tem havido tentativas de “eliminar Deus e o divino do horizonte da humanidade”, contrariando o testemunho na sociedade da “abertura à transcendência” inscrita “no coração” do ser humano.
A alocução realçou a “proximidade” com as pessoas que não se reconhecem pertencentes a qualquer tradição religiosa mas que, ao estarem “à procura da verdade, da bondade e da beleza” provenientes de Deus, são “aliados precisos” na defesa da dignidade humana e da paz.
A audiência começou com a intervenção do patriarca ecuménico de Constantinopla, que pela primeira vez desde 1054, ano do cisma com os ortodoxos, esteve presente numa missa de inauguração do ministério de um Papa.
Bartolomeu I expressou, em nome dos presentes, a alegria “de todo o coração” pela eleição “inspirada por Deus” da “amada Santidade” Francisco, “primeiro bispo da venerável Igreja da antiga Roma”.
O patriarca recordou que o Papa emérito Bento XVI renunciou ao pontificado com “coragem”, depois de se ter distinguido pelo “conhecimento teológico” e pela “caridade”.
“A unidade das Igrejas cristãs constitui a primeira e mais importante das nossas preocupações”, frisou, antes de apelar à continuação do “diálogo teológico” na “caridade” e na “verdade”, em espírito de “humildade e mansidão”.
Perante “a crise económica mundial” exige-se uma “ação humanitária”, de que o novo Papa tem “grande experiência” graças ao trabalho “de bom samaritano” que desenvolveu na América Latina, onde “experimentou como poucos” o “sofrimento” e a “miséria humana”, referiu Bartolomeu I.
RJM
 
Internacional | Agência Ecclesia | 2013-03-20 | 12:27:00 | 3325 Caracteres | Diálogo inter-religioso, Ecumenismo, Papa Francisco